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Antes de dar o aceite no grupo de Whatsapp, responda: você tem tempo para ler todas as mensagens?

O surgimento desses grupos alterou a dinâmica entre alunos, escola e pais

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Atualizada em 27/03/2022 às 11h14
O Whatsapp é, sem dúvida, uma ferramenta marcada pela praticidade.
O Whatsapp é, sem dúvida, uma ferramenta marcada pela praticidade. (Foto: Reprodução)

SÃO LUÍS - Grupos de Whatsapp de pais de crianças de uma mesma turma ou escola têm tudo para dar certo, pois agiliza - com fluidez - a comunicação. Sempre foi um desafio para a escola disseminar as informações e limpar os ruídos. Essa ferramenta permite a partilha entre os responsáveis sobre as informações de atividades escolares, procedimentos, datas, horários, entre outros assuntos do dia a dia. Esse recurso tecnológico aproxima as famílias e permite – de maneira democrática – que todos possam expressar os seus pontos de vista e trocar informações sobre as atividades da escola. Além disso, os grupos de Whatsapp podem fortalecer os laços entre os pais, de maneira empática, para além dos muros da escola.

O surgimento desses grupos alterou a dinâmica entre alunos, escola e pais, de maneira profunda. Poderemos até evoluir com outros recursos de comunicação instantânea, mas ignorar os avanços que essa ferramenta promove é, no mínimo, ingênuo. Empoderou a todos, indistinta e simultaneamente. Situações que somente
vinham à tona uma vez por bimestre, nas reuniões presenciais, agora são expostas todos os dias e precisam ser encaminhadas com agilidade. A virtude é que há
sempre quem critique e quem defenda e, desde que preservados a forma (escrita educada e respeitosa) e o conteúdo (responsabilidade pelas mensagens trocadas),
todos os pontos de vista são bem-vindos e devem ser respeitados. Houve escolas que tentaram restringir os grupos e/ou assuntos entre os pais. Não tive notícias de
que conseguiram manter essas restrições por muito tempo. Há uma horizontalidade das relações em redes sociais que precisamos aprender a lidar, pois esse é um forte
sinal do nosso tempo.

Nesses grupos são trocadas informações valiosas entre os responsáveis sobre o dia a dia da escola - que vão desde horários para uma atividade de contraturno, por
exemplo, até indicação de profissionais, como psicólogos e pediatras. O Whatsapp é, sem dúvida, uma ferramenta marcada pela praticidade, acima de tudo, e interfere
de maneira positiva na vida das crianças, evitando, por vezes, desencontro de informações, esquecimento de materiais, de eventos, entre tantas outras situações.
Por outro lado, pode se transformar em uma “voz paralela” ao que a criança diz em casa: “a mãe do amiguinho disse no grupo que tinha a tarefa e você falou que não
tinha nada”... precisamos preservar a confiança, pois ela é a base para a construção da responsabilidade e da autonomia.

Importante lembrar que a ferramenta revela e deixa registrado o comportamento das pessoas. Ou seja, uma pessoa mal-educada na "vida real" não deve fazer parte
desses grupos, pois produzirá provas substanciais para ações judiciais futuras. A regra é clara: esse espaço não é um tribunal para julgamento, portanto deve se
restringir aos fatos e dados coletivos – que envolvam a turma como um todo. Tudo o que for individual e referente a um pequeno grupo deve ser tratado à parte, com a
mediação dos profissionais da escola. Assim como no ambiente físico, nas interações virtuais também é necessária etiqueta social para a convivência. O
ambiente é virtual, mas a vida continua sendo real. As regras e costumes de boa educação não deixam de existir porque você não está olhando no olho do outro -
pelo contrário, aí sim que elas são testadas a fundo, já que você é convidado a todo momento a dar respostas no calor do pensamento. O segredo talvez seja discernimento e parcimônia.

Porém, sabemos que, quando se trata de filhos, a tendência é exacerbar o instinto de proteção, atropelando normas e convenções sociais em nome do amor e também
das crenças que cultivamos. Mas precisamos, obrigatoriamente, enxergar que nossos filhos não são únicos no mundo. Felizmente, eles estão cercados por outras
crianças e adultos e, desde cedo, devem aprender que se relacionar bem com as pessoas requer controle, desprendimento e generosidade. E cabe a nós dar o
exemplo e ensiná-los essa importante lição de vida.

O julgamento que brota, silencioso e invisível em mensagens ou emojis acaba por revelar a incapacidade de alguns responsáveis em transitar com ponderação diante
de divergências – que são muitos comuns em famílias tão diferentes. Vale relembrar que ato coletivo sempre confere mais poder que o gesto individual. Por isso, os
responsáveis preferem se articular antes nos grupos de Whatsapp, reunindo outras vozes em torno de si - e só então levar a questão para o colégio. O problema dessa
estratégia é que, em boa parte das vezes, um pequeno erro ou um mal-entendido tomam a proporção de crise. E essa crise acaba por “explodir” dentro da escola, na
maioria das vezes, causando mal-estar entre famílias e professores, entre colegas de turma. Falta serenidade para conseguir enxergar que toda história tem dois lados
e mais de uma parte interessada. Praticar a empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro) e a alteridade (entender que o outro é o outro, portanto diferente de
nós) é que nos permite avaliar a situação com calma e, porque não dizer, rever posições que julgávamos imutáveis.

Portanto, uma das grandes armadilhas desses grupos é criar clamores coletivos, ou seja, fazer do problema de uma única pessoa o problema de todos – as famosas
generalizações. Aqueles que não estariam envolvidos se não fosse pela ferramenta, provavelmente nem tomariam conhecimento do assunto, mas acaba que, pelo fato
de você fazer parte daquele ambiente, está sujeito a todo e qualquer tema. E aquilo que seria resolvido (e já foi em outras épocas) no portão da escola rapidamente,
hoje pode tornar-se um discurso inflamado e amplamente difundido pela ferramenta de Whatsapp. Além disso, é importante que o administrador ou os administradores
tenham “controle” sobre a troca de mensagens, de tal forma que as discussões se mantenham alinhadas à finalidade do grupo.

Por isso, há quem defenda que é importante que haja um representante da escola nos grupos, pois assim sempre estão cientes de tudo que os pais pensam sobre a
instituição, o que precisa melhorar, o que está dando certo, etc. Mas há quem defenda que não, assim como eu, pois a escola não consegue estar presente e ativa
em todos os grupos de Whatsapp. Creio que seja do conhecimento de todos que aceitar participar de um grupo implica em ser responsabilizado – em situações
extremas, civil e criminalmente, especialmente quando ocorrem injúria, calúnia ou difamação nos grupos – por todos os conteúdos ali apresentados, pois a omissão
significa concordância e ciência, portanto conivência. Sobre conteúdos, vale lembrar que a exposição das crianças e de funcionários da escola por meio de imagens captadas e divulgadas sem autorização do titular do direito a imagem, pode implicar na ocorrência de um dano moral. Somente a escola tem autorização para captação,
uso e utilização das imagens dos alunos (quando permitido pelos responsáveis legais) e funcionários.

Se no grupo circular alguma calúnia ou inverdade, seus integrantes não podem alegar desconhecimento. Cada participante tem o dever de, além de se manifestar
por meio do registro escrito acerca do assunto (caso não concorde), fazer a informação chegar até a escola para que as providências cabíveis sejam tomadas.
Uma boa dica a todos os participante é somente dar o aceite se tiver condições e tempo para acompanhar e se posicionar.

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