Especial água

"Se não fosse essa torneirinha, muita gente ia passar sede", diz morador do São Francisco

No São Francisco, moradores precisam madrugar para pegar água em torneira.

Daniel Moraes / Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h45
 Carlos Henrique enchendo depósitos de água. Foto: Daniel Moraes / Imirante.com
Carlos Henrique enchendo depósitos de água. Foto: Daniel Moraes / Imirante.com

SÃO LUÍS - O dia de Carlos Henrique, ajudante de pedreiro de 35 anos, começa cedo. Normalmente, às cinco e meia da manhã ele já está de pé. Depois de tomar café apressado, ele pega todos os baldes e depósitos que consegue carregar e sai de sua pequena casa, a de número cinco, localizada na travessa Tancredo Neves, rumo à rua de mesmo número do bairro São Francisco.

 Carlos Henrique na porta de sua casa, na Travessa Tancredo Neves, no bairro São Francisco. Foto: Daniel Moraes / Imirante.com
Carlos Henrique na porta de sua casa, na Travessa Tancredo Neves, no bairro São Francisco. Foto: Daniel Moraes / Imirante.com

A pressa é importante. Se Carlos não for rápido, é provável que ele não consiga um bom lugar na fila que se forma, dia sim dia não, atrás da única torneira “pública” que dá água regularmente no bairro. A torneira está à disposição de todos, mas não é exatamente pública. Segundo relatos de moradores, ela foi colocada ali por um antigo morador que morreu há alguns anos. “O dono da casa morreu e a torneira ficou aí funcionando. Sorte de quem precisa dela. Se não fosse essa torneirinha aí muita gente ia passar sede”, afirma o morador Antônio José, que tem água “de vez em quando” nas torneiras de casa, segundo conta.

 Há mais de dez anos, Carlos precisa buscar água na torneira. Foto: Daniel Moraes / Imirante.com
Há mais de dez anos, Carlos precisa buscar água na torneira. Foto: Daniel Moraes / Imirante.com

Durante o dia, Carlos repete o trajeto de casa até a torneira pelo menos mais duas vezes. “Ou a pessoa levanta cedo e vai pra fila, ou corre o risco de ficar sem água. Tem gente que vem de carro, cinco da manhã, e enche galões de água. Eu tenho oito pessoas em casa, então preciso pegar água várias vezes ao dia”, conta Carlos.

Ele faz esse mesmo percurso há mais de dez anos, quase todos os dias. Na casa de Carlos Henrique a água encanada nunca chegou. “Teve gente da Caema [Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão] que veio aqui há um tempo, prometendo resolver o nosso problema, mas até hoje nada foi feito. Contas pra pagar eles já mandaram, mas água que é bom...nada”, diz o morador.

Veja, abaixo, o trajeto que Carlos para buscar água:

“Falta eficiência na distribuição de água”

O bairro São Francisco, onde Carlos Henrique mora, é abastecido pelo Sistema Italuís, tendo o rio Itapecuru como fonte de captação. Segundo o cientista ambiental Márcio Vaz, o rio Itapecuru, sozinho, é capaz de abastecer com folga até o dobro da população ludovicense atual, que é de 1.064.197 habitantes - de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O problema, diz o cientista, é que a distribuição de água não é feita de uma forma eficiente. “O rio Itapecuru puxa um metro cúbico de água por segundo, a cidade de São Luís inteira consome dois metros cúbicos. Basta duplicar o Italuís, tornar a distribuição de água mais eficiente, que não existirá mais a necessidade de rodízio. Repito: o problema da capital e Região Metropolitana não é falta d’água. Água tem. O que não existe é uma distribuição correta”, esclarece o cientista.

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