Tecnologia

Universitários criam bicicleta e bengala adaptadas para cegos

Quatro sensores, localizados nas partes dianteira, traseira e laterais.

Anderson França / Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h47

SÃO LUÍS – A presença dos dispositivos tecnológicos no cotidiano vem mudando, substancialmente, a maneira de perceber e ter experiências. Para proporcionar novos hábitos e facilitar a vida de deficientes visuais, estudantes do curso de Engenharia de Controle e Automação, da Faculdade Pitágoras, estão dedicados na criação de dois experimentos pioneiros que minimizarão as dificuldades de locomoção encaradas no dia-a-dia. A bicicleta e a bengala utilizam sensores para identificar obstáculos no caminho e proporcionam, ao deficiente visual, a capacidade de melhor locomover-se.

 Equipe de estudantes responsável pela criação dos protótipos. Foto: Anderson França / Imirante.com.
Equipe de estudantes responsável pela criação dos protótipos. Foto: Anderson França / Imirante.com.

A bicicleta, que funciona com dispositivos de sinalização adaptados à estrutura, detecta os obstáculos no caminho emitindo sinais sonoros para alertar as barreiras. Quatro sensores localizados nas partes dianteira, traseira e laterais auxiliam na condução. “Os sensores ultrassônicos são conectados a uma placa microcontroladora. Cada sensor lê a distância do obstáculo, envia a informação, via cabo, para a placa, que transforma a distância lida em sinais sonoros diferenciados para avisar a localização e a distância dos obstáculos, que pode variar de quatro milímetros a quatro metros”, explica David Rodrigues Lopes Junior, um dos desenvolvedores do protótipo.

 A bicicleta funciona com quatro sensores ultrassônicos que emitem sinais sonoros para identificar obstáculos. Foto: Anderson França / Imirante.com.
A bicicleta funciona com quatro sensores ultrassônicos que emitem sinais sonoros para identificar obstáculos. Foto: Anderson França / Imirante.com.

Mesmo com o esforço para diminuir as dificuldades na locomoção oferecida pela invenção, a infraestrutura da cidade não segue o caráter inclusivo do experimento. São calçadas quebradas e ausência de ciclovias que inviabilizam a circulação da bicicleta nas ruas. “No primeiro momento, percebemos que a bicicleta é mais recomendada para o lazer em praças e locais amplos, porque, no trânsito, ainda é difícil circular sem riscos para o ciclista”, destaca.

Simulação computacional

Prevendo possíveis dificuldades na operacionalização da bicicleta, os estudantes desenvolveram um programa de computador onde o deficiente pode encontrar uma simulação dos comandos necessários para guiar o veículo. O treinamento usando o computador é o primeiro momento para o uso da bicicleta com dispositivo de detecção de objetos. Segundo Luís Felipe Cabral Campos, integrante da equipe, “a simulação do programa habilita o deficiente visual a reconhecer os sons dos quatro sensores que emitem sinais em tons e frequência diferentes de acordo com a distância dos obstáculos”. Sinais contínuos e alternados são emitidos quando o objeto está muito próximo ou mais distante, respectivamente.

 Microcontrolador adaptado à bicicleta para emissão de sinais sonoros. Foto: Anderson França / Imirante.com.
Microcontrolador adaptado à bicicleta para emissão de sinais sonoros. Foto: Anderson França / Imirante.com.

Novo experimento

Já a bengala, com o mesmo sensor ultrassônico fixado na vareta, ajuda a localizar obstáculos verticais acima da cintura da pessoa com deficiência visual, tais como orelhões, carrocerias de caminhões, bancos de praça e mesas. A diferença é que, ao invés de som, a bengala, ao localizar o empecilho, emite vibrações para o condutor e pode ser usada no dia-a-dia da pessoa com deficiência. “O sensor direcionado para frente é capaz de reconhecer barreiras com até a altura de 1,90m e transforma a informação em sinal vibratório”, esclarece. Durante a primeira etapa, o protótipo foi avaliado positivamente pelo público-alvo, que contribuiu com opiniões para aperfeiçoar o experimento. Na segunda etapa, os pesquisadores vão fazer adequações no aparato tecnológico para que o usuário tenha uma experiência mais eficiente. “Depois dos testes, verificamos a necessidade de reduzir o peso e embutir os fios na bengala, pois ela precisa ser dobrável, como as comumente usadas, sem que os fios fiquem expostos”.

 A bengala reconhece obstáculos localizados até 1,90m e emite sinais vibratórios para a mão do condutor. Foto: Anderson França / Imirante.com.
A bengala reconhece obstáculos localizados até 1,90m e emite sinais vibratórios para a mão do condutor. Foto: Anderson França / Imirante.com.

Agora, os pesquisadores estudam maneiras de tornar os dois protótipos em produtos. No entanto, a falta de financiamento é um dos fatores que entravam o prosseguimento dos projetos criados com materiais importados de outras cidades. “Todo o material foi adquirido pela equipe e, apesar de ter a intenção de ter baixo orçamento, o financiamento poderia proporcionar a evolução dos protótipos que trazem benefícios para as pessoas com deficiência”.

David acredita que ciência e tecnologia devem, primeiramente, objetivar o benefício e o desenvolvimento da sociedade. “Acima de tudo, nós não queremos mostrar somente a complexidade dos projetos, mas, sim, o impacto social que estas tecnologias podem proporcionar a baixo custo”. A criação dos dispositivos tecnológicos feitos pelos alunos contribui, sobremaneira, para a inclusão das pessoas com deficiência visual, garantindo a acessibilidade e direitos básicos como o de ir e vir.

Aperfeiçoamento

Com a meta de disponibilizar produtos eficientes na locomoção de deficientes visuais, o grupo estuda maneiras para ampliar a possibilidade de homem e máquina atuarem na operação de tarefas. Em 2015, os estudantes pretendem instalar um sistema de posicionamento global (GPS, sigla do inglês global positioning system) para que a bengala possa - além de identificar obstáculos -, traçar trajetos, emitindo comandos como “vire à esquerda” ou “vire à direta” e, assim, o deficiente visual chegue ao destino mais rapidamente.

 Na próxima fase de desenvolvimento os universitários pretendem reduzir o peso, o tamanho e embutir os fios na bengala Foto: Anderson França / Imirante.com.
Na próxima fase de desenvolvimento os universitários pretendem reduzir o peso, o tamanho e embutir os fios na bengala Foto: Anderson França / Imirante.com.

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