Resíduos Sólidos

Lixões em áreas públicas incomodam moradores da capital

Especialista aponta proliferação de doenças e contaminação como sérias consequências.

Jorge Martins e Neto Cordeiro / Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h52

SÃO LUÍS - Uma grande quantidade de lixo cobre, completamente, uma rua no bairro da Areinha, conhecida pelos moradores do bairro como "Rua do Lixão". O acesso ao local é possível pela Rua 29, onde Juarez Alves, 51 anos, mantém uma oficina mecânica, com vista para o amontoado de dejetos.

Mesmo com a passagem regular do caminhão de lixo toda semana, ele reclama que muitos vizinhos continuam descartando produtos no local. "Todo mundo bota lixo aqui", aponta mostrando seu estabelecimento totalmente limpo. Segundo ele, o serviço de coleta que deveria realizar a limpeza da área, não aparece há mais de três meses.

 Mais conhecido como
Mais conhecido como "Rua do Lixão", local incomoda moradores. Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.

Leia também: Fim dos lixões ainda está longe de ser realidade no Maranhão

Em outro bairro da capital, no Conjunto São Raimundo, a revolta dos moradores é semelhante. O comerciante Francisco José, 50, relata que, às vezes, o forte odor no local impede o trabalho dele. "Tem dias que não abro o comércio por conta do mau cheiro. Minha filha já teu adoeceu, teve problemas respiratórios", afirma. Ele contou, ainda, que os moradores já preparam um abaixo-assinado para tentar se livrar de vez do lixão.

A Rua da Saudade, no sonho dele e de seu amigo, Benedito Damasceno, 50, teria uma praça no lugar em que o lixo se acumula logo após ser recolhido. "A coleta vem, mas depois o pessoal começa a botar lixo de novo. A gente queria que fizessem uma praça para evitar esse lixeiro. Quando chove, isso piora".

 Lixo acumulado na Rua da Saudade, no Conjunto São Raimundo. Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.
Lixo acumulado na Rua da Saudade, no Conjunto São Raimundo. Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.

Nos dois endereços, a situação é parodoxal. Enquanto alguns se esforçam para manter a área limpa, outros, até mesmo de bairros diferentes, poluem o ambiente do vizinho sem pensar ou se preocupar com as consequências dessa atitude tão irresponsável.

O Imirante.com tem recebido algumas reclamações de internautas, via WhatsApp (98 9209-2383), sobre problemas com acúmulo de lixo próximo de suas residências. Veja, abaixo, algumas delas:

 Arte: Neto Cordeiro/Imirante.com.
Arte: Neto Cordeiro/Imirante.com.

Em nota, a Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp) disse que enviará uma equipe para averiguar os aterros clandestinos na Areinha e no São Raimundo. A Semosp afirmou, ainda, que o serviço de coleta em São Luís é feito de forma regular, diurna e noturna.

Crime Ambiental

O promotor de Justiça do Meio Ambiente Fernando Barreto afirma que as pessoas que criam ou alimentam esses aterros clandestinos podem responder, criminalmente, por isso. Apesar de lembrar de alguns casos de condenação criminal, Barreto comenta que esse tipo de infração é muito comum, por isso há uma sensação de impunidade. Ainda assim, os infratores podem ser responsabilizados caso sejam pegos pelos órgãos fiscalizadores, como a Delegacia de Meio Ambiente. “Essas pessoas correm esse risco. Agora muitas ficam na impunidade mesmo, porque as vezes isso acontece na madrugada. Não há como você ter uma fiscalização permanente de tudo”, comenta.

Somado a isto, o cientista ambiental Márcio Vaz cita uma variedade de impactos ambientais negativos associados com a proximidade de lixões a moradias. Os principais, de curto prazo, segundo ele, são a proliferação de vetores de doenças (ratos, moscas, baratas, mosquitos) e a poluição visual, com a transformação de áreas públicas de lazer em depósito irregulares. Ele acrescenta que em médio e longo prazo pode ocorrer contaminação de recursos hídricos subterrâneos e de superfície. "Poluição atmosférica, também, pode ocorrer e ser significativa em caso de queima do lixo", explica.

Quanto ao descarte adequado, ele acredita que a prioridade deveria estar no serviço público de coleta. "Considerando as nossas deficiências executivas, não vejo como prioridade imediata ações de reciclagem e redução de consumo. Já seria um grande progresso o estabelecimento de sistema eficiente de coleta e instalação de formas adequadas de armazenamento de resíduos", defende.

Vaz ainda aponta alguns desafios na gestão de resíduos sólidos no Maranhão. Para ele, falta a implementação de um sistema de leis sobre políticas públicas de saneamento básico. O alto índice de urbanização informal também corresponde aos problemas para o setor. São problemas como baixa padronização de infraestrutura viária, de saneamento básico, serviços e lazer. Outro desafio diz respeito ao baixo nível de informação da população em relação ao correto destino de resíduos sólidos.

"Na maioria das cidades do interior maranhense o lixo é depositado ao longo das principais rodovias de acesso às cidades, logo na sua entrada principal. Padrão semelhante pode ser observado na maioria dos bairros da periferia de São Luís. Lixões em áreas públicas podem ser facilmente encontrados inclusive em bairros nobres", ressalta.

Veja na ilustração, abaixo, qual seria o tratamento adequado aos resíduos sólidos na visão do cientista ambiental.

 Arte: Neto Cordeiro/Imirante.com.
Arte: Neto Cordeiro/Imirante.com.

Uma vez colocadas em práticas as proposta mostradas acima, os resíduos restantes deveriam ser encaminhados aos aterros sanitários. Segundo Vaz, em países desenvolvidos, as taxas de redução no volume de resíduos e reciclagem atingem no máximo 50% dos originais.

Para estabelecer o tratamento mais adequado ao lixo no país, foi criado o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que ele considera inadequado à realidade brasileira, mesmo chamando a iniciativa de "sofisticada". Há, de acordo com Vaz, deficiências de recursos humanos, materiais e institucionais. Para ele, isso explica por que municípios e Estados têm dificuldades em entregar seus planos de gestão de resíduos sólidos.

 Arte: Neto Cordeiro/Imirante.com.
Arte: Neto Cordeiro/Imirante.com.

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