Meio ambiente

Especialistas debatem exploração de energia maremotriz em São Luís

Segundo eles, no litoral do Maranhão, estima-se capacidade de produção de 22 mil GWh ao ano.

Maurício Araya/Imirante

Atualizada em 27/03/2022 às 12h05
(Divulgação/Nirondes Tavares/Picasaweb)

SÃO LUÍS – Nesta sexta-feira (26), pesquisadores de importantes instituições de pesquisas nacionais e do Banco Mundial, além de representantes das secretarias de Estado de Minas e Energia (Seme) e de Ciência Tecnologia e Ensino Superior (Sectec) debatem, durante todo o dia, no Hotel Grand São Luís – Centro de São Luís –, soluções técnicas para obter o aproveitamento da Barragem do Bacanga para a produção renovável de energia elétrica, usando a variação das marés. No workshop "Exploração das energias do mar: usina piloto do estuário do Bacanga", serão apresentadas as principais técnicas de exploração das energias do mar.

O objetivo é elaborar uma proposta de exploração da energia maremotriz disponível na barragem, considerando múltiplas utilidades do Lago do Bacanga e questões ambientais. De acordo com os especialistas, no Brasil, as maiores amplitudes de marés se encontram na costa norte. No litoral do Estado do Maranhão, por exemplo, estima-se uma capacidade de produção de energia de 22 mil gigawatts-hora (GWh) ao ano. E mais: a alta densidade populacional nas regiões do litoral diferenciam o Maranhão de Estados como o Amapá e Pará, que, também, possuem grande potencial de energia maremotriz.

O ambientalista da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o professor doutor Márcio Vaz dos Santos, é um dos palestrantes e vai abordar, no workshop, os impactos socioambientais da iniciativa. Segundo ele, o projeto original da Barragem do Bacanga já previa a produção de energia elétrica por fontes renováveis. "Basicamente, os impactos ambientais no século XXI não envolvem apenas os de fauna e flora. Eles envolvem toda uma discussão sobre a qualidade de vida. Esse é o enfoque que se dará na discussão sobre o Lago do Bacanga. Saber como a usina, a ser operada com as comportas da Barragem do Bacanga, afeta a qualidade de vida da região do entorno. Para esclarecer os internautas, a Barragem do Bacanga foi planejada há 40 anos para ser um acesso viário, para ser uma área de lazer com lago, tinha uma concepção de usina maremotriz e manteria uma região para ocupação. Muita gente não sabe disso, mas sempre que se constrói uma barragem, você diminui o nível do mar, do lago a montante, do rio. A Barragem do Bacanga foi planejada para reduzir esse nível do mar e permitir a ocupação urbana. A ocupação urbana no entorno do lago foi planejada. Acontece que, nos últimos 40 anos, parte dessa ocupação urbana saiu do controle, que é a cidade informal, muito comum no Brasil como um todo. Então, se tem a área planejada, que é a Areinha, a região da avenida dos Africanos, e nós temos a região informal, que é a região do Sá Viana, por exemplo", explicou em entrevista ao Imirante na manhã desta sexta-feira.

Para o especialista, o grande desafio é tornar operacional o projeto em sua concepção original, permitindo a urbanização das áreas que não foram previstas há 40 anos. Mesmo com as barreiras criadas pelo crescimento desordenado da região, ele garante que há grandes vantagens na produção de energia maremotriz. "Nessa discussão de mudança climática, nós temos a energia limpa como um dos fatores principais na questão de prevenção do agravamento no quadro climático. O Maranhão, mais uma vez, possui um potencial fantástico. Nós temos as maiores marés em áreas urbanas do país, e nós temos o maior potencial eólico do país, o segundo melhor do mundo. Então, o Maranhão está, novamente, na condição de estabelecer linhas e parâmetros para o resto do Brasil. O grande desafio é como transformar potencial em realidade. A transformação desse potencial em realidade passa por questões de engenharia e tecnológicas", completa.

Previsibilidade

O professor doutor Geraldo Lúcio Tiago Filho, da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), de Minas Gerais, também, participa do workshop e vai mostrar o projeto de turbina de baixa queda. "O trabalho se constitui de uma pesquisa ampla que envolve a UFMA, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Unifei, cada uma com sua competência. A competência nossa lá de Itajubá é o desenvolvimento do equipamento, da máquina, da turbina. Minha tarefa é ver como é que se dá o desnível e, com esse desnível, desenvolver o equipamento para transformar esse potencial hidráulico em energia elétrica", diz.

À reportagem do Imirante, o professor esclarece como funciona o equipamento que torna possível a produção de energia elétrica usando a variação das marés. "Basicamente, é um equipamento onde a água passa por uma turbina e essa turbina tem a capacidade de transformar essa energia de pressão em energia hidráulica, em energia mecânica. Um eixo aciona uma máquina que nós chamamos de gerador, que tem a capacidade que transformar o torque mecânico em eletricidade", explana. Para ele, a maior dificuldade, no caso da Barragem do Bacanga, é desenvolver um equipamento que funcione mesmo com uma pequena queda e que seja capaz de produzir a energia elétrica com o fluxo d’água nos dois sentidos.

Ele acredita que a principal vantagem da energia maremotriz é a "previsibilidade". "A energia maremotriz tem hora e data para acontecer, o que é difícil de encontrar em outras fontes. Na hidráulica convencional, solar e eólica, a previsibilidade é muito difícil. Você precisa fazer todo um trabalho estatístico. Aliás, esse é o grande desafio do órgão regulador do país: prever como será o comportamento das chuvas, dos rios, dos ventos, para poder fazer o gerenciamento do suprimento de energia. No caso das marés, você sabe como elas vão se comportar durante todo o ano", finaliza.

Energia eólica

Nesta semana, foi anunciada outra importante medida na busca por produção alternativa de energia elétrica. Durante um encontro de negócios, foi anunciado que o Maranhão vai começar a produzir energia eólica a partir de junho de 2014 – saiba mais. Na primeira fase, 13 parques eólicos produzirão, aproximadamente, 640 megawatts MWs de energia renovável. Na segunda fase, com um total de 377 aerogeradores, a estimativa é produzir 1 GW.

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