Pobreza

Invisibilidade social é desafio para erradicar extrema pobreza, diz pesquisador

Gilberto Costa/Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 12h20

BRASÍLIA – O governo federal marcou para o dia 18 de junho a data de ascensão de duas milhões de famílias brasileiras para acima da linha de pobreza. Nessa data, as famílias consideradas miseráveis (identificadas no Cadastro Único), com crianças até seis anos, começarão a receber o chamado Benefício de Superação da Extrema Pobreza para completar a renda domiciliar de R$ 70 per capita.

Restam, no entanto, mais duas milhões de famílias, segundo projeção inicial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feita à época da definição das metas do Programa Brasil sem Miséria. Alcançar essas pessoas é desafio para os três níveis de governo, que deveriam reverter a invisibilidade social que contribui para afastar setores da população brasileira das políticas públicas (como o Programa Bolsa Família), diz o psicólogo Fernando Braga da Costa, autor do livro "Homens Invisíveis: Relatos de uma Humilhação Social".

“A invisibilidade está presente de tal forma que se tornou algo normal. O fato de ser normal não quer dizer mais nada além do fato de que estamos habituados”, acrescenta. Para Costa, o Estado no Brasil está localizado de forma tão longínqua dos cidadãos que parece muito mais um jogo de esconde-esconde. “O Estado não cuida dessas pessoas porque não há interesse humano nisso” e “acaba prevalecendo o interesse de uma classe hegemônica dominante”.

O governo estima que, até dezembro, 800 mil famílias em situação de extrema pobreza serão identificadas pela mobilização da busca ativa nos municípios. Apesar de a meta estar antecipada em um ano, não há certeza se esse número (projetado pelo IBGE) esgota o índice de famílias miseráveis no país. A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, admite a dificuldade de localização em função do perfil da população. “Essas pessoas que ainda não recebem o Bolsa Família são as mais pobres dos pobres, precisam ser acolhidas pelo Estado e nós estamos indo atrás”, disse ela, em entrevista coletiva na semana passada para o balanço de um ano do Programa Brasil sem Miséria.

De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a maioria das 687 mil famílias em situação de extrema pobreza e ainda não assistida por políticas públicas (localizadas no último ano pela busca ativa) está nos centros urbanos (75%), inclusive em cidades com mais de 100 mil habitantes (39%). “Os miseráveis estão nas periferias ou mesmo nos centros velhos das grandes cidades. Esses sujeitos estão fora do sistema, mas tentando o tempo todo ingressar nele”, lembra Fernando da Costa.

Segundo ele, em contraste à dificuldade de percepção e lentidão do Estado, o mercado está atento às periferias. “Os shoppings centers identificaram potencial de lucro”, disse, referindo-se à abertura de centros comercias em regiões habitadas por classes econômicas de menor poder aquisitivo na cidade de São Paulo.

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