Saúde

Iniciadas as ações de combate a possível surto de calazar

Doença já teve 22 vítimas humanas, este ano, na zona rural de São Luís, com quatro óbitos.

Thamirys D'Eça/ O Estado

Atualizada em 27/03/2022 às 12h45

SÃO LUÍS - Anualmente, três mil cães são sacrificados em São Luís por contaminação da Leishmaniose visceral - popularmente conhecida como calazar. Este ano, foram registrados 22 casos da doença em humanos e quatro resultaram em óbito. A patologia já é responsável por 60% do índice de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Universitário Materno Infantil. Após matéria de O Estado divulgando informações sobre o possível surto da enfermidade, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) deu início, ontem, a ações de combate em locais de risco de proliferação.

As áreas do Quebra-Pote, Tirirical e São Raimundo serão as primeiras a receber assistência especial do CCZ. Nesses locais foram identificados casos da doença, que, possivelmente, resultaram no princípio de surto. "A zona rural é a mais propícia para a propagação, pois tem concentração de pessoas de baixa renda que não têm como oferecer assistência aos animais e dar boa alimentação. Os cachorros de rua também são os mais afetados. Temos cerca de cinco mil aqui em São Luís", explicou Nordman Wall, coordenador do CCZ.

Entre as ações iniciadas pelo centro estão as de visitação de domicílios, com o intuito de detectar casos e fazer o trabalho de conscientização de moradores, processo de borrifação - para matar mosquitos transmissores -, esterilização de cães, controle anual das localidades e aplicação de testes de sensibilidade à patologia, assim como adquirir novos carros para recolhimento dos animais e solicitação de mais médicos veterinários.

Mesmo com as ações intensificadas, a coordenação do CCZ afirma enfrentar problemas. "Muitas pessoas se recusam a entregar os animais. Isso geralmente acontece na zona urbana, em bairros de classe alta. Quando acontece, o perigo aumenta, mas a responsabilidade passa a ser do dono do animal - o tratamento particular custa cerca de R$ 1.400,00. Além disso, só recolhemos oito animais por visita, que é o que cabe em nosso carro. Precisamos de melhor estrutura", disse Nordman Wall.

Vacina

Segundo ele, outra dificuldade é a ausência de vacina para calazar. "A vacina existente não está liberada pelo Ministério da Saúde e controlar um mal sem imunização, sem dúvida, é mais complicado. Para controlar, temos de realizar ações de combate e prevenção. Levar o animal constantemente ao veterinário, oferecer boa alimentação e banhos regulares ajudam na prevenção", informou Nordman Wall.

O coordenador do CCZ disse, ainda, que é possível identificar se o cachorro está contaminado. Quando a suspeita ocorre, é necessário que o animal seja levado imediatamente a um veterinário ou seja deslocado para o CCZ, situado na Universidade Estadual do Maranhão (Uema), Cidade Operária. Se confirmado, será realizada a eutanásia, que, conforme resolução do Ministério da Saúde, deve ser feita por meio da aplicação de injeção supervisionada por profissional, que custa em média R$ 10,00.

Conforme dados do CCZ, cerca de três mil animais são sacrificados em São Luís por ano vítimas de calazar, sendo a segunda doença que mais causa óbito - perdendo apenas para a cinomose. O número se mantém constante há cinco anos, no entanto, o índice de humanos infectados aumentou. "O surto é somente entre homens. Nos animais, o número é constante. O que aumentou foi o número de insetos contaminados que picam o homem e transmitem a doença", afirmou Nordman Wall.

Surto

O motivo considerado por ele como causador do provável surto da doença foi a inoperância do CCZ nos últimos meses. Desde abril, o centro não recolhia os animais reatores [que propagam a doença], por não estar adequado às normas de dizimação deles. Na época, ainda era utilizada a câmara de gás, que foi proibida, sendo permitido somente o método de injeção para a eutanásia.

Outros fatores que contribuíram para a propagação da doença, que hoje corresponde a 60% de atendimentos da UTI do Hospital Universitário, é a falta de métodos que diagnosticam a doença e o início tardio do tratamento. Por causa da precariedade, 22 casos já foram registrados este ano, dos quais quatro resultaram em morte. Três óbitos foram de crianças menores de 1 ano e a quarta vítima tinha 28 anos. Todas elas eram moradoras da zona rural. "As crianças são mais propícias a contrair a doença por terem menor resistência", ressaltou Nordman Wall.

Para evitar mais casos de calazar em humanos, pode ser feita a prevenção com o uso de mosquiteiros; telas finas em portas e janelas; evitar a freqüência na mata - principalmente no horário noturno, a partir do anoitecer - sem o uso de roupas adequadas; uso de boné, camisas de manga comprida, calças compridas e botas; além do uso de repelentes.

Saiba mais

O calazar tornou-se preocupante no Maranhão em 1982, quando foram detectados seis casos em São Luís - sendo quatro no bairro São Cristóvão e dois no São Raimundo. Nos anos seguintes, a doença atingiu os municípios de São José de Ribamar e Paço do Lumiar. A invasão é explicada pelas condições geográficas, climáticas e as alterações feitas na cidade com a instalação de grandes pólos industriais como a Vale e Indústria de Alumínio do Maranhão (Alumar), quando várias famílias se abrigaram em assentamentos em condições impróprias de saneamento. Atualmente é um dos maiores problemas de saúde pública da Ilha de São Luís, dada a freqüência com que vem acontecendo e o grupo populacional que mais acomete, as crianças.

Números

600 é a média testes são aplicados a cada seis meses em áreas de risco para detectar o calazar nos animais

3 mil animais são sacrificados anualmente vítimas de calazar

8 é a média de animais recolhidos diariamente pelo CCZ com suspeita da doença

22 casos de calazar foram registrados este ano

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