Carro movido a ar pode chegar ao mercado em 2004

Reuters

Atualizada em 27/03/2022 às 15h27

PARIS - O escritor francês Júlio Verne, um visionário do século XIX, uma vez descreveu um fantástico mundo futuro onde carros andariam no ar. Ainda não se chegou a tanto. Os automóveis não andam 'no' ar - mas 'a' ar, sim.

Apaixonado por automóveis e ambientalista francês, o inventor Guy Negre construiu e vem tentando lançar no mercado um carro movido a ar comprimido. Ele espera que o veículo comece a circular pelas ruas de todo o mundo nos próximos anos.

Dentro do carro, o ar frio comprimido em tanques a 300 vezes a pressão atmosférica no nível do mar é aquecido e alimenta os cilindros do motor de pistão. Não há combustão - conseqüentemente, não há poluição. Na verdade, segundo Negre, o ar do cano de descarga é mais limpo do que o que entra, devido à ação de um filtro interno.

O carro pode ser reabastecido com ar em casa, com a ajuda de um compressor elétrico. Negre espera que, um dia, os motoristas possam abastecer os carros em postos apropriados em apenas três minutos, por menos de US$ 3.

O carro movido a ar, que Negre afirma que custará US$ 6.700, lembra o modelo Smart (pequeno e simples de estacionar, próprio para grandes cidades), da montadora DaimlerChrysler, com assento para três pessoas e parte dianteira curvada.

- Nós precisávamos de uma alternativa para os bebedores de gasolina, que são a norma. Então, decidi construir uma - disse Negre, um ex-engenheiro de corridas de Fórmula 1, durante uma mostra de carros em Paris, onde exibiu sua invenção.

Negre, que levou dez anos para construir o carro, reconhece que sua invenção parece muito boa para ser verdade. A indústria automobilística vê o carro com cautela.

Alguns afirmam que, apesar de o carro não expelir gases poluentes, a eletricidade necessária para comprimir o ar ainda vem de estações de energia que emitem fumaça ou deixam para trás dejetos nucleares. No caso particular dos carros elétricos, que também seriam uma alternativa, outro grande obstáculo é que, apesar de décadas de pesquisa, eles ainda precisam ser reabastecidos muito mais vezes do que os modelos convencionais que usam derivados do petróleo. Alguns especialistas afirmam que não razão de isso ser diferente com o 'carro de ar'.

- O conceito de um car abastecido a ar não é totalmente ridículo - afirmou John Wormald da empresa de consultoria Autopolis, lembrando que locomotivas movidas por ar foram usadas para construir os túneis da Ferrovia Alpina e para impedir a emissão de fumaça tóxica. - Mas com todas essas idéias maravilhosas, o problema é quanta densidade de energia você guardar em um tanque. O carro provavelmente será pequeno e não consigo vê-lo 'decolando'.

Negre diz que seu carro, denominado CityCAT, pode andar por dez horas em velocidade baixa. Ele insiste que o reabastecimento não será problema, uma vez que os motoristas poderão fazê-lo em casa. Nos postos, a história seria outra. Céticos perguntam-se se as grandes companhias de petróleo abririam espaço em seus postos para uma tecnologia nova que troca gasolina e diesel pelo ar.

Worlmald diz que o abastecimento caseiro será impossível para alguém que não tenha uma garagem ou uma vaga em um estacionamento.

Negre reconheceu que o CityCAT, cuja velocidade máxima é de cerca de 110 quilômetros por hora, vai funcionar apenas como um carro de cidade e concorda que, provavelmente, não fará com que aficionados por Mercedes-Benz e BMW troquem de carro.

- Não é, na verdade, uma alternativa para o carro-padrão. É um veículo urbano que será vendido como um segundo carro. O principal alvo é a mulher que prefere veículos menores para distâncias mais curtas.

Worlmald diz que o negócio está condenado ao fracasso.

- O problema é que as pessoas não querem comprar carros só para dar voltas na cidade. Eles podem até não sair da cidade todos os fins de semana, mas gostam de saber que podem fazer isso se quiserem - explicou.

Mas Negre, que diz ser um motorista preocupado com a saúde do planeta, afirma que um carro movido a ar é a primeira alternativa viável para os veículos movidos a gasolina.

- Eu acredito que o carro significa liberdade e as pessoas não vão abrir mão disso, não importa o que esteja acontecendo com o meio ambiente - disse ele. - A única maneira de salvar o planeta é criar um carro que não prejudique o meio ambiente.

Apesar de melhorias feitas nas últimas décadas, os veículos convencionais movidos a combustíveis fósseis ainda emitem um décimo do dióxido de carbono que o homem lança na atmosfera. A emissão desse gás tem sido associada a mudanças climáticas e desastres naturais.

Em vez de vender o carro diretamente, a companhia de Negre, a Motor Development International, oferece aos investidores um pacote contendo a maquinaria necessária para construir o carro.

- Nós queremos ver o primeiro carro nas ruas na metade do ano que vem, com a primeira venda no fim de 2004 - disse Negre.

Ele disse que sua companhia já vendeu 32 pequenas fábricas e espera vender 300 nos próximos anos. Cada fábrica pode produzir 4 mil carros por ano.

- A tecnologia está toda aí. Agora o que precisamos é tempo e dinheiro para montar as fábricas - disse Negre.

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