Capital maranhense do mel

Santa Luzia do Paruá produz 800 toneladas de mel por ano

A cidade tem uma localização privilegiada, no centro da região do Alto-Turí, noroeste do Maranhão.

Heider Matos/Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h47
 Produção de mel em Santa Luzia do Paruá é referência em todo Estado. Foto: Divulgação
Produção de mel em Santa Luzia do Paruá é referência em todo Estado. Foto: Divulgação

SANTA LUZIA DO PARUÁ – Conhecida como capital maranhense do mel, a cidade de Santa Luzia do Paruá, distante 370 quilômetros de São Luís, é referência na produção de mel orgânico no Estado do Maranhão. Atualmente, a apicultura é a segunda maior atividade econômica da cidade, perde apenas para a agropecuária. Segundo dados da Associação dos Apicultores e Trabalhadores Rurais do Vale do Paruá (Apivale), o município possui cerca de 200 apicultores, e que juntos, produzem 800 toneladas ao ano e movimentam mais de R$ 1 milhão por safra. Atualmente, o mel é vendido a R$ 7 reais o quilo.

O negócio é tão promissor que o governo do Maranhão informou em setembro, que a previsão é de que em todo o Estado sejam produzidas cerca de 3.500 toneladas de mel, em 2014, oriundas da apicultura migratória e fixa. Um aumento significativo da produção, se comparado ao ano passado, quando foram colhidas, aproximadamente, 1.800 toneladas de mel.

 Revisão de colmeias durante o período da safra. Foto: Divulgação
Revisão de colmeias durante o período da safra. Foto: Divulgação

A cidade tem uma localização privilegiada, no centro da região do Alto-Turí, noroeste do Maranhão, na Amazônia Maranhense, e tornou-se referencia na produção de mel de abelhas africanizadas. A produção local é considerada de mel orgânico, e tem chamado à atenção de países europeus que procuram a cidade no período da Entre safra, que vai de maio a setembro. Isso por que não é utilizado nenhum tipo de agrotóxico e é explorada, a chamada “florada natural”. “A nossa apicultura é muito rústica. E por ser região pré-amazônico pega a florada natural. Sem contaminação. E isso conta muito, na hora de exportar”, disse Francisco. Outro fator importante são flores da localidade. Segundo o Instituto Federal do Maranhão (IFMA), 60 tipos de flores foram catalogados no local. Entre as mais comuns, está o Hortelã Bravo e a Vassourinha de Botão.

Segundo o Sebrae, o negócio apícola apresenta ainda, como vantagens, o baixo volume de investimento, pois não é preciso ser proprietário de terras para iniciar uma pequena produção. Essa possibilidade é potencializada pelas condições tropicais brasileiras e pela utilização das abelhas africanizadas. Portanto, a apicultura representa uma possibilidade real de negócios e inclusão social, mesmo para quem dispõe de poucos recursos. Outro fator é que a apicultura não exige dedicação exclusiva, permitindo aos apicultores desenvolverem outras atividades sem que isso prejudique na criação de abelhas. Isso possibilita ocupação aos membros da família e viabiliza a geração de renda, assegurando a diversificação da produção na pequena propriedade.

 A apicultura se espalhou por outros municípios próximo a Santa Luzia do Paruá. Foto: Divulgação
A apicultura se espalhou por outros municípios próximo a Santa Luzia do Paruá. Foto: Divulgação

Início da produção de mel em Santa Luzia do Paruá

Tudo começou quando padre Abbas, maranhense de Lago Verde, tornou-se pároco da igreja de Santa Luzia. Ao perceber o potencial da localidade, o sacerdote resolveu incentivar a economia local através da apicultura. Com pouco mais de U$ 300 (trezentos dólares), conseguidos na Itália, montou no fundo da igreja uma oficina de carpintaria pra a confecção de colmeias. Em seguida, distribuiu para os locais. Pouco depois, com a ajuda de populares, montou a Turimel, primeira associação de produtores de mel da região.

“Depois que ele montou a associação o pessoal daqui se animou. A atividade ganhou força. O município cresceu, em relação à produção. De 200 quilos, passou para 500. De 500 passou para duas toneladas. Hoje tem apicultores que possuem dois caminhões. As pessoas pagavam as colmeias com mel. Hoje a atividade ganhou uma dimensão muito grande no município. E diversas associações foram criadas”, contou Francisco de Sousa, de 60 anos, conhecido como Chico da Voz.

Em pouco tempo, a atividade de espalhou para os municípios vizinhos e tornou-se principal fonte de renda dos locais. “Como Santa Luzia fica no centro, a atividade foi se expandido pra outros municípios. De Nova Olinda até Gurupi tem apicultura. Isso mudou muito realidade do povo”, relatou o apicultor.

Entre safra e Safrinha

O período atual é considerado Entre Safra e não há produção de mel na cidade. Boa parte dos apicultores perde sua principal fonte de renda e precisam procurar outras atividades. Mas, os cuidados com as colmeias não param. Neste período é preciso manter o exame, limpar, dar alimento para que no período da safra, as abelhas estejam fortes para a produção. Outros decidiram se profissionalizar e migram de cidade em cidade de acordo com a florada. Os lugares mais procurados para a migração é a Baixada Maranhense, onde se aproveita à florada do mangue, e também para o Piauí, Ceará, em que a florada é em período diferente.

O mês de janeiro é bastante aguardado pelos apicultores de Santa Luzia do Paruá. Neste mês começa a chamada “Safrinha”. É o período em que algumas flores afloram. São as chamadas flores sazonais. A produção de mel não é tanto, quanto no período da Safra. Mas, não deixa de ser aproveitada pelos apicultores.

Dificuldades no mercado

“Nem tudo são flores” na apicultura. Os trabalhadores reclamam das dificuldades de se obter tecnologia e da falta de incentivos por parte dos governantes. “Nós enfrentamos a dificuldade de não ter a tecnologia necessária. Em outros estados, os produtores têm a facilidade de adquirir insumos. Caminhão para transportar, vasilhame para armazenar e casa de mel para processar”, relatou a presidente da Apivale, Maria Pereira.

A falta de apoio e de equipamentos faz com que a florada não seja bem aproveitada. “A gente não aproveita nem 10% do potencial de florada nossa. Justamente, pelas dificuldades”, disse a administradora.

Atravessadores

Outro problema relatado pelos produtores são os chamadores atravessadores. Segundo os produtores, no período da safra a cidade recebe pessoas de diversos lugares interessadas em comprar mel. “Eles compram até 200 toneladas. Montam um escritório e vão comprar mel para tudo quanto é lado. Colocam em uma carreta, em tambores de 200 litros cada e não pagam nenhum imposto. Eles levam o mel inatura e vão embalar no Piauí, e o mel é embarcado no porto de Fortaleza como produto do Piauí. Até coreano vem comprar mel aqui. Tem dia que sai duas carretas carregadas de mel,” contou o produtor Francisco.

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