O lugar mais triste

Praça da Alegria já foi palco de execuções públicas em São Luís

Antigamente conhecida como Praça da Forca, área foi usada para execuções medievais na época do Império. Antiga "função" da ainda é desconhecida dos ludovicenses

José Linhares Jr

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

SÃO LUÍS - Durante toda a história antes da proclamação da República, em 1889, era adotado o regime da pena de morte para os crimes comuns. Em São Luís um lugar ficou conhecido por sua função de espaço para o cumprimento da pena. Ele era conhecido como Praça da Forca. Passados séculos, de forma completamente irônica, o ambiente em que foram executadas inúmeras pessoas ganhou o nome de Praça da Alegria e abriga o Mercado das Flores.

Uma passagem rápida pela praça revela que poucos dos seus frequentadores sabem da história dela. "Sério? Você está de brincadeira", disse o estudante Cláudio Henrique ao ser informado que na praça foram executados vários condenados no fim do século XIX. "Sim, eu sabia. Mas, nem parece, né?", falou a aposentada Maria Das Graças Torres.

O local começou a ser ocupado, segundo o historiador Euges Lima, possivelmente no século XVIII. “Era uma área residencial, muito próximo ao antigo Quartel do Campo de Ourique, onde hoje fica o Complexo Deodoro. Uma área cortada por ruas importantes, como Rua de Santana, Rua do Norte, Santa Rita e Rua do Mocambo”, explicou.

Em 1815, por ordem ouvidor-geral, um palanque que serviria para as execuções das penas de morte. “Até esta época era um terreno vazio, uma espécie de largo”. Por isso, quando a forca foi desativada pelo poder público, o logradouro ficou conhecido como Largo da Forca Velha, considerada a primeira denominação do local”, lembrou Euges.

As execuções na Praça da Forca, como ficara conhecido o lugar, se alastraram por mais de três décadas.

A pena de morte no Brasil

Apesar de ocupar um lugar distante no imaginário popular, a pena de morte no Brasil foi definitivamente abolida do código civil no país há pouco mais de 30 anos, pela Constituição de 1988. Hoje ela é apenas aceita para crimes militares e o método definido pela lei é a morte por pelotão de fuzilamento.

Até a criação do Código Criminal de 1830, as execuções eram feitas de forma quase que circense. Os julgamentos eram realizados em praça pública e precedidos, quase que imediatamente, pelas execuções.

Mesmo sendo abolida recentemente da legislação, o registro da última execução no Brasil foi do escravo Francisco, em Alagoas, em 28 de abril de 1876. Até o fim do período imperial, os condenados ainda eram condenados à morte no Brasil. A pena de morte só foi totalmente abolida por crimes comuns após a proclamação da República. A Constituição de 1937 previa a pena de morte por crimes civis, além dos crimes militares em tempo de guerra.

Da forca para a alegria

Em 1849, por determinação da Câmara Municipal, a forca foi retirada e o espaço recebeu sua primeira intervenção urbanística. Foram instalados bancos, árvores e plantas ornamentais. A Praça da Forca passou a ser chamada de popularmente Praça da Alegria.

Existem duas versões para a escolha do nome. A primeira delas é carregada de humor-negro e afirma que a “alegria” em questão é uma faz menção ao jeito que os condenados se debatiam enquanto eram enforcados. A segunda, e mais aceita pelos historiadores, diz que a escolha do nome foi uma tentativa de amenizar o peso que o local carregava por seu passado de execuções.

Por séculos o poder público tentou rebatizar a praça. Ela chegou a ser chamada de Praça Sotero dos Reis, Praça Colombo, Praça 13 de Maio, Praça Saturnino Bello e Praça Coronel Manuel Inácio. Apesar de todas as tentativas, a população, continuou a chamá-la de Praça da Alegria.

Entre os grandes nomes que mararam nas proximidades da Praça da Alegria está Sotero dos Reis, “famoso gramático, jornalista, político e primeiro Diretor do Liceu Maranhense (1838)”, ressaltou o historiador Euges Lima.

Atualmente

Por muito tempo a Praça da Alegria teve sua identidade indefinida. Incialmente utilizado como lugar de execuções, a Praça da Alegria também foi usada pioneiramente para outras atividades. Lá foram montadas as primeiras feiras livres da cidade. No centro da praça também funcionou, por muitos anos, o Jardim de Infância Dom Francisco, um dos primeiros da cidade.

A falta de interesse da Prefeitura de São Luís em dinamizar o lugar resultou em sua degradação nos anos 1990. Apesar da boa localização e da boa arborização, a ocupação do lugar era caótica e a pouco atrativa. “Moro faz 30 anos aqui. Até essa última reforma dava pena. Era muito lixo, muito desocupado, muita bagunça”, disse Maria Das Graças Torres, moradora da Rua do Mocambo.

A reforma da qual Maria das Graças se refere foi concluída em março de 2015. O Ministério da Cultura e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entregaram o que foi, até agora, a última reforma na Praça da Alegria.

Antes completamente desfigurada, a praça foi reconstruída por meio do programa PAC Cidades Históricas. A Praça da Alegria estava bastante depredada e havia sido invadida pelo comércio informal. Os investimentos foram na ordem de R$ 865,7 mil.

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