Memória

Praça Pedro II: abrigo de parte marcante da história da capital

Ocupada em 1612 por franceses, o terreno da Praça Pedro II é um dos logradouros mais importantes da cidade e abrigou o centro do poder político

Linhares Jr / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Igreja da Sé e Palácio do Comércio cercam a tradicional “praça da oficialidade”, além das sedes dos governos municipal e estadual
Igreja da Sé e Palácio do Comércio cercam a tradicional “praça da oficialidade”, além das sedes dos governos municipal e estadual

São Luís - Descrita pelo padre Claude d’Abeville como “esplanada” no ato de ocupação em 1612, por Franceses, a Praça Pedro II é a primeira e mais importante do Maranhão. Localizada estrategicamente nas proximidades do Forte São Luís, demolido em 1766 para a construção do Palácio dos Leões, a praça sempre abrigou por muito tempo o centro do poder estadual. "É, sem dúvida alguma, um dos mais importantes logradouros da capital maranhense", ressaltou o historiador Diogo Gualhardo Neves.

Localizada em frente à Igreja da Sé e se estendendo até a frente da Prefeitura de São Luís, antes da designação Praça Pedro II, ela foi chamada de Avenida Maranhense e antes, durante a época Imperial e Colonial, de “Largo de Palácio”, por estar à frente do Palácio do Governo da Província do Maranhão, atual Palácio dos Leões.

A praça é chamada de “praça da oficialidade”, pois os principais poderes do Estado têm suas sedes em palácios lá: Palácio dos Leões (governo do Estado), Palácio La Ravardière (Prefeitura), Palácio Clóvis Beviláqua (Poder Judiciário), e mesmo instituições civis e religiosas, como o Palácio do Comércio (Associação Comercial do Maranhão) e Igreja da Sé (igreja Católica). “Lá ficavam localizados os poderes públicos do estado. Temos os poderes político, religioso e econômico simbolizados”, lembrou Gualhardo.

Apear da aparência imponente, a construção mais recente entre os núcleos do poder é o Palácio Clóvis Beviláqua. Inaugurado em 1948, pelo então presidente da República general Eurico Gaspar Dutra, possui fachada neoclássica e compõe o conjunto arquitetônico tombado pelo Patrimônio Federal. O nome do edifício homenageia o jurista, legislador e filósofo cearense Clóvis Beviláqua, autor do primeiro anteprojeto do Código Civil brasileiro.

Além das instituições, a Praça Pedro II alojou moradias. Alguns casarões coloniais de fachada azulejar, pertencentes a grandes potentados locais. No entanto, a maioria foi demolida e substituída por construções mais modernas, como o Edifício João Goulart e a agência sede do Banco do Brasil. Alguns foram preservados, como o palácio de Ana Jansen, atual sede da Junta Comercial do Estado do Maranhão.

O lugar já foi endereço de maranhenses ilustres. O sobrado onde nasceu o escritor Graça Aranha, por exemplo. Localizado na frente da fonte.

Por ser muito antiga, a Praça Pedro II passou por muitas intervenções urbanísticas que a adequavam ao tempo e ao uso. Originalmente foi um largo espaço aberto que servia de descanso, foi transformada em avenida e arborizada. A Praça Pedro II também já ocupou lugar de destaque na mobilidade urbana da capital, na década de 1870. Tempo em que era o ponto final da primeira linha de bondes à tração animal da capital.

No início dos anos 1950, foi instalada a escultura Mãe d'Água. Escultura em bronze produzida em 1940 e último trabalho de Newton Sá, artista nascido em Colinas em 1908. Ela foi premiada com a medalha de prata do Salão Nacional de Belas Artes, em 1940, entre 2005 e 2018 a escultura fora transferida para o Museu Histórico e Artístico.

Entre os maiores cartões-postais e símbolo histórico e cultural da cidade, a praça passou por um processo de revitalização pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pela Prefeitura de São Luís em 2018. A reforma contou com novo paisagismo, recuperação do piso de pedras portuguesas, iluminação especial, além da reforma da fonte que abriga a escultura Mãe d'Água, que retornou para a praça naquele ano.

Mirante
Em 2020, a Praça Pedro II ganhou um mirante chamado de Praça dos Poetas, ao lado do casarão que pertenceu a Ana Jansen. O mirante conta com uma exposição permanente de 10 escritores e poetas maranhenses: Ferreira Gullar, Catulo da Paixão Cearense, Nauro Machado, Sousândrade, Bandeira Tribuzzi, José Chagas, Gonçalves Dias, Maria Firmina, Dagmar Destêrro e Lucy Teixeira.

Atualmente, é um dos principais pontos turísticos da cidade, em razão dos palácios e templos estarem abertos à visitação. Além disso, de seu mirante se vê um dos mais bonitos pores do sol do Brasil.

“Nos últimos anos, o maranhense redescobriu a Praça Pedro II, especialmente após a reforma realizada em 2018. No entanto, como os demais espaços públicos, carece de informações sobre ela, sua história e importância para a capital e para o estado”, disse Diogo Gualhardo.

Segundo o historiador, são precisos ajustes para que a praça melhore sua condição de ponto turístico. “A praça precisa ser adaptada mais para as pessoas e menos para os carros, que dominam o espaço e torna a praça, em certos horários, intransitável e mesmo perigosa para o pedestre”.

As preocupações do historiador são constatadas no dia a dia. Por conta do número de repartições públicas, um grande número de veículos se acumula no horário comercial. Volume de tráfego que diminui substancialmente nos feriados e fins de semana.

Vista aérea da Praça Pedro II; espaço que abriga parte da história da capital maranhense
Vista aérea da Praça Pedro II; espaço que abriga parte da história da capital maranhense

SAIBA MAIS

Por que Pedro II

Apesar de ser uma das praças mais famosas da cidade, poucos sabem o porquê de chamar-se Pedro II. Abolida por um golpe no dia 15 de novembro de 1889, o fim da monarquia marcou o começo da primeira ditadura da história brasileira. A insatisfação popular aliada ao primeiro centenário da Independência em meados da década de 1910 fez ressurgir a memória do falecido monarca. Nesta época, diversos espaços públicos das principais cidades ou passaram a ostentar monumentos em honra de sua pessoa, ou adotaram seu nome. A onda de saudosismo em relação ao monarca forçou o presidente da época, Epitácio Pessoa, a revogar em janeiro de 1921 o decreto de banimento da família imperial. Fato que possibilitou a vinda dos restos mortais do Imperador e da Imperatriz.

Em dezembro de 1925 o Maranhão se uniu ao resto do país no culto da memória de Dom Pedro II. Uma grande festividade com alvorada de salva de foguetes e missa campal fora realizada no dia 2 daquele mês. Celebrada pelo Arcebispo D. Otaviano Pereira de Albuquerque que se encarregou de informar que a Avenida Maranhense passaria a “ter o nome do homenageado” a partir daquele dia. O dia foi marcado por desfiles cívicos de estudantes, operários do comércio e indústria em volta da Pedra da Memória (naquela época ainda não localizada na Avenida Beira-Mar), sob a guarda da força armada policial, matinées, recitais de poesia, dentre outras atividades conduzidas por personalidades importantes da cidade, como a educadora Rosa Castro.

Nascia, assim, a 2 de dezembro de 1925, a praça (D.) Pedro II, em plena comemoração àquele que é, sem dúvida, a maior referência da ética pública, desprendimento e civismo da História do Brasil.

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