Artigo

Deixa morrer

Lino Raposo Moreira *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

A CPI da vacina, do Senado Federal, vai chegando ao fim de sua missão de desmascarar os crimes do governo federal, de promoção sistemática da morte de milhares de cidadãos brasileiros, preferencialmente idosos, indígenas e portadores de comorbidades, pois a isso corresponde o estímulo promovido e praticado por Jair Bolsonaro contra o uso de máscara e outros comportamentos dele já apontados como perigosos por milhares de estudos científicos aceitos como sérios pela comunidade científica internacional.

A CPI reuniu fartas provas contra o presidente, ministros de Estado, diretores de hospitais públicos federais e privados, estes com ligações com pessoas poderosa do governo, em esquemas de compra de vacinas a preços superfaturados. O Procurador Geral da República, ante esses achados, e apesar de aliado de Bolsonaro, de quem segue as orientações, não terá como ficar inerte quanto às providências saneadoras que terá de tomar. Em complemento ao desejo do governo de permanecer impune, a PEC 37 a ser votada em breve na Câmara Federal, presidida por Artur Lira, autêntico representante do chamado Centrão, e em tempos passados saudado pelo bolsonarismo com o refrão “se gritar pega ladrão, nunca fica um, meu irmão”, tenta afastar a possibilidade de instituições como o Ministério Público, COAF, Receita Federal, Ibama, Previdência Social, Polícia Militar fazerem investigações criminais.

Certo, o Ministério Público se deixou envolver, em várias situações, pela política no sentido mais deletério da palavra. Vejam o Ministério Público, com a Lava Jato. De força-tarefa, transformou-se de fato em instituição sem controle de ninguém, estabelecendo, ou tentando estabelecer, em certos momentos do passado recente, suas próprias regras de atuação. Seu coordenador, Deltan Dalagnol teve a ousadia de tentar utilizar recursos públicos arrecadados de multa à Petrobrás, no valor de 600 milhões de dólares (espantem-se, 600 milhões de dólares), para a criação de fundação de direito privado, a Fundação Lava Jato, atribuindo a si mesmo e a seus colegas da Lava Jato a condição de representantes da União, que deveria ser a verdadeira destinatária desse valor. Quem iria gerir a fundação? Ele, Deltan.

No entanto, a maneira de corrigir ou evitar desvios de recursos públicos não deveria contemplar a proibição de instituições como aquelas de fazer investigações. Ao contrário, deveriam fazê-las, como já acontece, desde que não houvesse o chamado “bater de cabeças” entre elas, a fim de prevenir ineficiência investigativa, desperdício de recursos, conclusões conflitantes, disputas por protagonismo, etc.

Agora, uma palavra sobre o caso da Prevent Senior. No seu site na internet, lemos este pensamento filosófico profundo: “A Prevent Senior é a operadora de saúde especialista em pessoas.” Deboche, claro. A especialidade não é em pessoas, mas em morte de pessoas, como uma, pelo menos, que foi retirada da UTI de um de seus hospitais, mas não em estado terminal, e colocada em tratamento paliativo numa enfermaria, com instrução aos cuidadores de não fazerem manobras de ressuscitação no paciente que, supostamente morreria em dois dias. “Deixa morrer”. Pois ele sobreviveu, após ser recolocado na UTI pela família, por decisão judicial, e deu depoimento chocante na CPI sobre sua “morte”.

Esse pessoal da Prevent tem íntimas conexões com pessoas influentes no governo Bolsonaro.


* PhD, Economista. Da Academia Maranhense de Letras

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