Educador

Paulo Freire, inimigo do bolsonarismo, está mais popular do que nunca

Procura por títulos do Patrono da Educação Brasileira registra crescimento de até 705%; youtubers progressistas apresentam autor de ''Pedagogia do oprimido'' ao público jovem

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Paulo Freire acaba de ter sua imagem colada em empena de prédio em São Paulo
Paulo Freire acaba de ter sua imagem colada em empena de prédio em São Paulo (Paulo Freire, patrono da Educação)

SÃO PAULO - Desde as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2015, o educador Paulo Freire voltou a ser associado à “doutrinação marxista”, acusação repetida originalmente pelos apoiadores do golpe militar de 1964. O pernambucano, que completaria 100 anos neste domingo (19), chegou a ser chamado de “energúmeno” pelo presidente Jair Bolsonaro. Os ataques do bolsonarismo são tão recorrentes que, nesta quinta-feira (16), a Justiça Federal do Rio determinou que a União “abstenha-se de praticar qualquer ato institucional atentatório à dignidade” do Patrono da Educação Brasileira, que morreu em 1997.

Todavia, a fúria ideológica do governo federal e de movimentos como o Escola Sem Partido não impediu a palavra do autor de “Pedagogia do oprimido” de continuar se espalhando. E Freire está mais popular do que nunca. Novos livros e uma exposição marcam o centenário do intelectual que é referência em universidades estrangeiras.

Desde 2018, quando ganharam um novo projeto gráfico, que traz na capa a caligrafia do próprio Freire, as vendas das 33 obras do educador cresceram 15%. Alguns títulos registraram aumentos extraordinários, como “A pedagogia da libertação em Paulo Freire” (270%), “Educação como prática da liberdad” (401%) e “Educação pela mídia” (700%). A procura pelos títulos mais conhecidos, “Pedagogia da autonomia” e “Pedagogia do oprimido” cresceu cerca de 10%. Juntas, as duas obras venderam quase meio milhão de cópias nos últimos 10 anos.

Novo público

Freire é publicado desde os anos 1960 pela Paz & Terra, antiga editora de esquerda incorporada pelo Grupo Record em 2012. Para celebrar o centenário do educador, a editora preparou edições especiais de “Pedagogia da autonomia” (já nas livrarias) e “Pedagogia do oprimido”(no prelo), além de três novos títulos. Dois deles já estão disponíveis: “A palavra boniteza na leitura de mundo de Paulo Freire”, organizado pela viúva, Nita, e “Testamento da presença de Paulo Freire, educador do Brasil”, reunião de textos de figuras como o linguista americano Noam Chomsky, o filósofo Mario Sergio Cortella e o ex-presidente Lula.

No ano que vem, será lançado “Meus registros de educador”, que compila as notas que Freire tomava nas mais diversas superfícies, como maços de cigarro. O livro trará comentários inéditos do educador sobre autores como Karl Marx, Antonio Gramsci e Aldous Huxley.

Editora-executiva da Paz & Terra, Livia Vianna não credita o sucesso comercial apenas a uma reação do público à perseguição da extrema direita. Segundo ela, jovens leitores vêm sendo apresentados ao educador por figuras populares na internet.

!"Há um pessoal mais novo que conheceu as obras assistindo a youtubers progressistas, como Sabrina Fernandes e Rita von Hunty".afirma Livia. "Em todas as manifestações da esquerda se veem bandeiras e bottons com o rosto de Freire. Ele virou um símbolo e vemos reflexo disso nas vendas".

Bússola para influencer

O professor e ator Guilherme Terreri, mais conhecido do público como Rita von Hunty, a dona de casa impecavelmente vestida que fala de política no canal Tempero Drag, no YouTube, tem Freire como uma “bússola” para o seu trabalho. Dona Ritinha cita “Seu Paulinho” com frequência e, na última quinta-feira, publicou um vídeo sobre o centenário do educador.

"Tanto o trabalho do Guilherme quanto o da Rita estão ancorados na pedagogia freireana, que me encanta por ensinar que não estamos aqui para aceitar as coisas como elas estão, mas para entender como elas chegaram a esse ponto e pensar o que podemos fazer para que sigam em outra direção", explica Terreri, que comemora a boa receptividade de seus quase 900 mil inscritos às ideias do educador. "Com Freire, tenho conseguido mobilizar afetos saudáveis numa época de afetos tristes".

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