Artigo

Paulo Freire, 100 anos

Luiz Thadeu Nunes e Silva *

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

Quando nem existiam as redes sociais, esse campo de disseminação de ódio e discórdias que nos assola, o maestro, compositor, músico, e cantor carioca Antônio Carlos Jobim, gênio que deu o Tom quando o assunto é música de qualidade, cunhou uma frase que bem nos define: “Sucesso no Brasil é ofensa pessoal”.

Cito Tom Jobim para falar de outro gênio brasileiro, motivo de muitas polêmicas, após essa direita despreparada, nociva e predadora chegar ao poder.

Este ódio do Brasil contra a brasilidade -complexo de vira-lata, talvez explique a intensa campanha difamatória promovida contra o filósofo e educador Paulo Freire, morto em 1997, que completaria 100 anos de idade, neste domingo, 19 de setembro.

Patrono da educação brasileira, o educador Paulo Freire, tornou-se referência na educação mundial e brasileira por sua teoria do conhecimento, sua coerência e ética, além da forma com a qual educava, sempre priorizando o diálogo e o respeito na busca de um mundo, como ele mesmo dizia “menos feio, mais justo, menos malvado e onde fosse menos difícil amar.” Hoje, Freire é mais estudado e repenicado no exterior do que no país onde nasceu. Pernambucano de Recife, nascido 19 de setembro de 1921; ao longo de sua trajetória tornou-se um dos mais importantes pens adores do século XX. Devido a sua prática político-pedagógica libertadora, considerada subversiva no período da ditadura, viveu exilado por 16 anos (1964-1980). Acusado de subversão e preso em 1964, por 72 dias, partiu para o exíliono Chile, onde trabalhou por cinco anos no Instituto de Capacitação e Investigação em Reforma Agrária (Icira) e escreveu seu principal livro: “Pedagogia do oprimido” (1968). Freire ainda passou por Estados Unidos e Suíça.

“Os homens se educam entre si mediados pelo mundo”, ressaltava. Isso implica em um dos seus princípios fundamentais: o de que o aluno, alfabetizado ou não, chega à escola levando uma cultura que não é melhor nem pior do que a do professor. Ou seja, em sala de aula, os dois lados aprenderão juntos, um com o outro e para isso é necessário que as relações sejam afetivas e democráticas, garantindo a todos a possibilidade de se expressar.

O educador pernambucano foi homenageado em muitos países e publicou dezenas de obras, traduzidas em mais de 20 idiomas. É o brasileiro que mais recebeu títulos de Doutor Honoris Causa, foram 39, sendo 34 em vida e cinco in memoriam – e mais de 150 títulos honoríficos e/ou medalhas. Em 2012, foi declarado patrono da educação brasileira.

Paulo Freire deixou uma vasta obra: escreveu mais de 20 livros como único autor e 13 em coautoria. Seu livro mais importante, Pedagogia do Oprimido, foi traduzido em mais de 20 idiomas e, somente em inglês, já foram publicados mais de 500 mil exemplares.Seus livros são comercializados em 80 países. É considerado o educador brasileiro mais lido no mundo.

A educação para Freire é um processo de transformação que vai além do indivíduo. Na mesma linha traçada por Jean-Paul Sartre, Freire entendia o indivíduo sempre em situação, ou seja, sempre envolto pela facticidade e pela presença de outros indivíduos. Dessa forma, a educação, ao moldar a subjetividade, inevitavelmente interfere nos sentidos que o indivíduo atribui ao mundo em está lançado e na relação com outros indivíduos.

Educar é desenvolver a autonomia de alunos e alunaspara que possam reivindicar a própria humanidade, o que se traduz na criação de um mundo em que não mais haja oprimidos e opressores, Freire considerava a educação um processo inevitavelmente político e revolucionário.

O atual governo que não tem respeito por instituições, pessoas, memórias, legados, foi obrigado pela justiça, em decisão liminar, a acatar decisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro que proibiu o governo federal de "praticar qualquer ato institucional atentatório a dignidade do educador Paulo Freire", considerado Patrono da Educação Brasileira.

Paulo Freire seria um luxo para qualquer país do mundo, mas no Brasil que esse gênio, a mesquinhez retrógrada do pensamento tacanho do energúmeno Bolsonaro & Cia, querem diminuir o valor de sua eterna e progressista obra.

No futuro não muito distante, muitos estarão falando, estudando, divulgando Paulo Freire, no mundo todo; enquanto o famigerado “boçal nada”, de triste memória, ficará restrito à lata de lixo da história.

Não há melhor forma de homenageá-lo do que estudando suas obras, refletindo sobre seu legado e buscando assim formas de resistir aos ataques à educação, por essa corja de boçais.



* Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes


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