Artigo

Rapsódia para Beatles/Queen

José Ewerton Neto *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

Simultaneamente à leitura do livro A intimidade de Paul McCartney vi pela primeira vez, na tevê, semanas atrás o premiado filme Bohemian Rhapsody quando me surgiu a pergunta: Sem os Beatles teria havido o Queen?

Essa indagação me ensejou outra, Como seria a geração dos Beatles, e as que se seguiram, caso eles não tivessem existido? E, daí, a outra mais abrangente: O que seria da existência humana sem os sonhos da juventude?

Em relação à esta última, parte da resposta é que os sonhos juvenis de nossa geração, que os admirava, e de outras que os sucederam, seriam bem menos interessantes. Os Beatles personificaram para uma geração de jovens no mundo inteiro, até então atônita e comprimida, muito mais do que excepcionais talentos da arte musical. Ainda que já tivesse havido ídolos musicais igualmente carismáticos como Elvis Presley (que lhes serviu de referência) os Beatles atingiram precocemente a universalidade porque canalizaram pela música os anseios da juventude por uma mudança comportamental , então defasada do avanço tecnológico da época e da que se vislumbrava para a frente.

A palavra em voga para essa expectativa represada era modernismo, mas, no fundo, buscava-se uma nova forma de pensar e agir livre das amarras de uma sociedade que impunha dogmas de conduta e tabus como a virgindade feminina e outros, que foram levadas de roldão em sua passagem, sem que eles mesmos tivessem plena consciência disso.

“A rebeldia está para a juventude assim como o coração está para a vida”, enfim, a juventude jamais pulsa nos corações conformados. Por isso, os jovens de hoje, na maioria, jamais farão ideia do que representou os Beatles para a sua geração, a que seguiu e assim por diante, como se eles tivessem inoculado o vírus de uma juventude diferente e especial através de canções marcantes, como Yesterday , A day in the life, Something, – e, para meu gosto, The fool on the hill)

Hoje, muitos cantores jovens permanecem alheios a essa fortuna de comboiar sonhos e expectativas de outrem, o que lhes deveria ser peculiar como maestros de tenras esperanças. Para citar ídolos musicais brasileiros jovens, Gusttavo Lima e Luan Santana pex., jamais serão capazes de provocar catarse similar, com suas composições de avassaladora pobreza. Corrompidos pela senilidade precoce de seus ideais e ambições, a marca que ostentam é a de serem desprovidos de vontade de mudar o mundo.

Aqui entra o tom de rapsódia, sem dúvida a mais completa rapsódia juvenil do século passado. Que foi iniciada pelos Beatles e que depois influenciou jovens e talentosos - e trágicos -, como o próprio Fred Mercury, Jimi Hendrix, e, mais recentemente, Amy Whinehouse entre outros. Que muitas vezes sucumbe ao peso da fama e da incessante busca, mas sempre deixa rastros. Enfim, a rapsódia da juventude, a verdadeira juventude.

* Autor de O entrevistador de lendas

ewerton.neto@hotmail.com

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.