Artigo

Falso profeta

Steffano Silva Nunes

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

Revirando algumas fotografias deixadas pela minha saudosa mãe, encontrei uma que deve ter sido tirada quando eu tinha uns 11 anos de idade. Ao ver que nela estão meus amigos de classe e eu não, conclui que fui eu mesmo que à época “bati esse retrato”. Na foto estão colegas fantasiados de Homem-Aranha, Mulher-Maravilha, Mandrak, e um Urso enorme. Puxei na memória e consegui lembrar que essa foto é de um desfile da abertura das olimpíadas da nossa escola. Na ala em que eu desfilava estávamos com a roupa da prática esportiva. Após a minha ala passar, fiquei aguardando o final do desfile e registrei com muita alegria a marcha dos meus colegas.

O desfile em questão, apesar de ser só da nossa escola, refletia uma época em que os desfiles eram muito festejados e tinham seu ápice e derivavam do desfile em comemoração à independência do Brasil. Havia até uma certa disputa para participar da banda da escola e figurar nas posições de maior destaque. Nessa fase das nossas vidas, em uma São Luís muito pequena, o passeio garantido nesses dias era se dirigir à praça Deodoro, à Areinha ou ao anel viário para ver os estudantes e os militares coordenando movimentos de braços e pernas com peito pra fora, barriga pra dentro, cabeça ereta e entoando os mais variados hinos.

Os hinos eram um capítulo à parte da nossa formação. Quase toda escola tinha um dia específico pra reunir a criançada no pátio e cantar. O hino do nosso colégio tinha uma passagem que acho bonita até hoje: “Sempre trabalhar, lutar e vencer”. Aliás, todos os hinos têm citações belas e inspiradoras. O hino nacional: “Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta”. O hino da bandeira: “Querido símbolo da terra, da amada terra do Brasil”. Da proclamação da república: “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós…”. Até o hino do exército, a canção do soldado, era entoado na sua data: “A paz queremos com fervor, a guerra só nos traz a dor..”. O hino do Maranhão: “A liberdade é o sol que nos dá vida…”. Por fim o hino da independência: “Ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil…”

Fora as controvérsias históricas associadas às datas comemorativas do Brasil, é inegável que o amor à nossa pátria ficou incrustado nas nossas trajetórias e sempre nos unimos para festejar o nosso país. A única exceção foi esse último dia 07 de setembro de 2021. Ao invés de comemorarmos nossa independência fomos “sequestrados” pela agenda antidemocrática do atual presidente da república. Bolsonaro insiste em ser ou se passar por louco. Com todo respeito aos loucos. A grande parte do seu tempo é gasta em criar contendas visando dividir o país e estabelecer um governo ditatorial. Não houve os tradicionais desfiles da independência. Ao invés disso assistimos, incrédulos, um presidente que desafia o poder judiciário e que demonstrou claramente que não está disposto a parar.

Em um dos seus discursos, utilizou um termo do filme tropa de elite para se dirigir a um dos ministros do STF: “Pede pra sair”. Foi uma das coisas menos ofensivas que ele falou. Se referiu a “canalhas” e disse que não cumprirá decisões do citado ministro. Falou para um ministro, mas no fundo atacou a nossa organização social, política e jurídica. Quer ter plenos poderes. Ao mesmo tempo em que declarou guerra contra a democracia e o judiciário abriu um flanco com mobilizações bem menores do que se esperava. O presidente do STF, Luiz Fux, rebateu em nota, na direção do Bolsonaro, conceituando de forma taxativa e certeira o presidente: Falso profeta do patriotismo.

steffanonunes@gmail.com

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.