Aniversário da cidade

São Luís: eterna musa

José Neres/ Especial para O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
(São Luís)

Desde sua fundação, em 1612, até este início de novo século e, possivelmente, até a eternidade, a cidade de São Luís tem servido como objeto para inúmeros estudos sobre sua história, seus aspectos geográficos, antropológicos, políticos, econômicos e educacionais. Além disso, a cidade, por conta de sua beleza e dos sentimentos topofílicos que despertam nas pessoas, tem sido também tomada como musa inspiradora para muitos cronistas, teatrólogos, contistas, romancistas e poetas.

Por ocasião do 380° aniversário da cidade, o professor, crítico literário e antologista Clóvis Ramos decidiu homenagear a capital maranhense com a publicação do livro intitulado São Luís do Maranhão é Poesia (São Luís, SIOGE, 1992), no qual reuniu dezenas de textos que trazem a Cidade como foco de interesse. Tais poemas formam um belo painel de como o amor por uma cidade pode ser enfeixado nas páginas de um livro que pode atravessar as barreiras do tempo.

Ao folhear as páginas da obra, o leitor tem um encontro marcado com diversos poetas que dedicaram seu tempo para ver a Cidade sob diversos prismas, ressaltando duas qualidades sem deixar de lado um olhar crítico com relação às mazelas. Antônio Oliveira, por exemplo, declara seu amor dizendo que "São Luís é a formosa princesinha encantada / dos contos maravilhosos que embalaram / minha infância".

Páginas após, Arlete Nogueira da Cruz, no poema Canto à Cidade de São Luís, mescla um olhar pessoal sobre sua vivência na Cidade com recordações familiares e a busca de novas perspectivas com relação ao futuro. Para o poeta Bacelar Viana, São Luís é um "presépio vivo / és minha inspiração, és meu motivo"

O poeta Bandeira Tribuzi, um dos artistas que mais se dedicou a cantar sua cidade natal, vê a capital maranhense como um "humilde presépio / levantado por mãos puras". O próprio Clóvis Ramos chega a metaforizar São Luís como "a cidade da ternura" o de tudo "vira poesia".

Em um olhar mais apurado sobre os aspectos sociais, os poetas Corrêa da Silva e Edmo Ledo chamam a atenção para situações corriqueiras como o caso de vendedores de pamonha, frutas e verduras em seus pregões pelas ruas, os garotos anônimos que brincam nós bairros. Edmo Leda chega a dizer que a melodia dos pregões "parece uma canção dolorosa de mãe mendiga, / acalentando o filho nas noites de invernada".

Por outro lado, Eloy Coelho Neto aproveita seus versos para destacar e valorizar a história e a cultura letrada da Cidade, citando nomes de grandes escritores e mostrando um passado de glória que foi se renovando com o tempo. Essas mudanças foram dissecadas por Ivan Sarney em seu poema "Nova Cidade" e por Joaquim Itapary em "A cidade agora", nos quais os problemas causados pela modernidade são ressaltados e vistos de modo crítico.

José Chagas e José Maria Nascimento contemplaram a cidade também a partir de constatação de distorções que são trabalhadas em verso que levam o leitor a uma reflexão acerca dos muitos problemas que aparecem no dia a dia e que podem ser transformados em poesia pelas habilidosas mãos dos poetas.

Nonnato Masson, Nauro Machado, Manuel Lopes, Ferreira Gullar, José Sarney, Sá Valle e Odylo Costa, filho também têm alguns de seus poemas sobre São Luís reproduzidos no livro organizado por Clóvis Ramos. Alguns pintam uma cidade ideal, outros resgatam da memória momentos e lugares pelos quais têm afeição. Em alguns casos é possível perceber nos poemas dos poetas maranhenses um tom de desilusão ou de desesperança, mas em todos os versos há a certeza de um amor atávico pela Ilha, por seu povo, pelos monumentos e pela história que emana de cada uma das construções que formam a Cidade.

De 1992 para cá, muitas coisas mudaram no cenário físico e literário de São Luís. Muitos poetas partiram, muitos outros surgiram. Vários casarões desabaram, outros, mesmo em ruínas, continuam desafiando o tempo enquanto novas edificações surgem. A Cidade, no entanto, continua como musa inspiradora para poetas, prosadores e para todos os artistas que se encantam por ruas, becos, praças e sobrados que guardam um pouco dessa história e e que podem ser eternizados em forma de poesia.


José Neres é escritor, professor e membro da Academia Maranhense de Letras, Academia Ludovicense de Letras e SOBRAMES

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