Linguística

É o quê, pequena? O sotaque ludovicense

Expressões no vocabulário ludovicense fazem o diferencial na nossa forma de se comunicar

Kethlen Mata/ Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
(arte kethlen)

São Luís - “Bazugar”, “quizilha”, “remanchear”, esses e muitos outros termos fazem parte do cotidiano dos ludovicenses, pelo menos da maioria – é quase impossível crescer no Maranhão e não conhecer algumas dessas expressões. Neste aniversário de 409 anos de São Luís, O Estado decidiu abordar esse tema, que nunca deixa de ser atual, e para entender melhor sobre esse assunto, o escritor, jornalista e membro da Academia Maranhense de Letras (AML) José Ewerton Neto explicou um pouco de seu processo criativo para a confecção da obra “ABC Bem-humorado de São Luís”.

Já na sua 3ª edição, o livro que aborda as lendas de São Luís, crônicas e o peculiar dicionário de palavras tipicamente ludovicenses, é um belo exemplo de conexão com o sotaque da Ilha. Atualmente, se vive uma época em que o ‘jeito de falar maranhense’ tornou-se POP, ou seja, agora é legal e descolado se apegar a velhos verbetes. E basta observar os outdoors da cidade para perceber que é cada vez mais comum encontrar essa linguagem nas publicidades, como um sinal de pertencimento.

Sobre a mais recente edição do “ABC”, José Ewerton Neto se sente gratificado pela ótima recepção do público, segundo ele, um sinal de que os maranhenses estão atentos às coisas do Maranhão.

“O ABC… É um livro muito procurado por turistas que desejam levar mimos e registros de sua passagem em São Luís para amigos distantes. Por isso, já se encontra também na Amazon em formato de ebook para atender aos que não têm a possibilidade de viajar até aqui”, esclareceu.

Linguajar maranhense

O escritor também tem notado que, atualmente, existe uma tendência de maior apego aos verbetes e expressões regionais, no entanto, sente que no caso específico do linguajar maranhense, há uma progressiva perda de sua abrangência em prol de expressões caricatas trazidas de outras plataformas.

“Essa danosa influência se reflete na progressiva perda do título que tínhamos alguns anos atrás e que nos era motivo de orgulho de ‘Melhor português do Brasil’ que, infelizmente, se transformou nos dias atuais em mais um mito do que em realidade. Parece nascer daí, num processo mais intuitivo que racional, a busca por parte de nossa população das nossas raízes culturais para evitar que se deteriorem tanto, e uma das funções do livro é justamente essa, evocar o que temos de peculiar e especial, registrando-as cada vez mais para preservá-las”, pontuou o jornalista, em entrevista para O Estado.

Processo criativo

Como conta Ewerton Neto, a ideia da obra surgiu a partir de um livro que lhe foi presenteado pelo jornalista e amigo Marcelo Torres, “O Beabá de Brasília”. Foi então que ele começou a publicar na sua coluna dentro da editoria ‘Alternativo’ do jornal O Estado, “Hoje é dia de...”. Nesse espaço, eram publicados conteúdos sobre a cidade, mas, dotados da verve satírica que é característica nas crônicas do escritor.

“Como já havia publicado outros textos similares em toda a minha produção jornalística, versando sobre o nosso cotidiano, quando de repente deparei com as mesmas, o livro estava pronto. Para a catalogação das expressões recorri a livros publicados sobre o linguajar maranhense, como o do confrade José Neres, da AML, que, entre outros, estão citados no prefácio. O interessante é que no decorrer de novas edições e da publicação das crônicas no jornal O Estado MA sobre o tema, os leitores têm me procurado para sugerir este ou aquele verbete, o que tem enriquecido e avolumado as edições mais recentes”, frisou.

Por fim, o jornalista acredita que a linguagem é evolutiva e que sempre nascerão novas expressões e regionalismos. E mesmo que esse processo hoje seja mais confuso, pela globalização que a televisão e internet proporcionaram tornando a comunicação entre os estados do país mais fácil e instantânea, Ewerton vai continuar no seu trabalho de catalogar novas palavras.

“A ideia da pesquisa sobre o tema é válida e deve ser incorporada ao livro como forma de manter o dinamismo que o tem caracterizado, assim como de expressões antigas, tradicionais ou típicas de determinada região do interior maranhense ainda não catalogadas”, concluiu.

Algumas expressões catalogadas por José Ewerton Neto

“A Valença é que” = A sorte é que.

“Banzeiro” = Onda provocada pela passagem de uma embarcação.

“Berimbela” = Penduricalho.

“Engrisilha” = Enrolação, trapaça.

“Junteiro” = Aquele (a) que tem as pernas juntas.

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