Reivenção

MPEs superam os desafios da pandemia com criatividade

Apesar do grande impacto causado, a crise sanitária também proporcionou oportunidades a esse segmento, que responde por 27% do PIB, concentra 98% da totalidade de empresas no país e gera 52% dos empregos formais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Mayara Schliebe comemora a retomada da atividade de eventos
Mayara Schliebe comemora a retomada da atividade de eventos

A pandemia do novo coronavírus, além de se constituir como um problema de saúde pública global, trouxe impactos econômicos inimagináveis e sem precedentes, que afetaram a todos e que se agravaram de acordo com a especificidade de cada situação. Com as micro e pequenas empresas (MPEs) não foi diferente, pois somente no primeiro ano da crise sanitária, seis em cada 10 estabelecimentos registraram queda de 30% no faturamento, segundo pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) .

Um baque e tanto para um segmento dos mais importantes para a economia brasileira, que responde por 27% do Produto Interno Bruto (PIB), concentra 98% da totalidade de empresas no país e que gera 52% dos empregos formais.

E não ficou somente na queda de faturamento a realidade das MPEs durante o período de pandemia. A crise sanitária e seus efeitos econômicos com restrições de funcionamento das atividades reduziram a quase metade o total de pequenos negócios no país, além de se ter contribuído para a perda de milhares de empregos.

Apesar do cenário sanitário, muitas MPEs conseguiram se manter, buscando alternativas e lançando mão da criatividade e da resiliência para superar os desafios. Segundo o diretor técnico do Sebrae Maranhão, Mauro Borralho, os segmentos que mais se reinventaram na crise do novo coronavírus foram os de eventos e turismo, justamente os mais afetados. De acordo com dados da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), em 2020, primeiro ano da pandemia, mais de 350 mil eventos deixaram de ser realizados no país, resultando num prejuízo estimado em R$ 90 bilhões. E o pior, cerca de um terço das empresas de eventos fechou as portas.

No caso do turismo, as perdas chegaram a R$ 312 bilhões e 35 mil estabelecimentos fechados em todo o país.
No Maranhão, somente nos três primeiros meses da pandemia, em 2020, 30% dos bares e restaurantes foram à falência e mais de 7 mil empregados foram demitidos.

Novos negócios

Empresária Ana Vieira enxergou oportunidade na pandemia
Empresária Ana Vieira enxergou oportunidade na pandemia

Mas, o momento de crise também proporcionou o surgimento de novos empreendimentos, ainda que por necessidade, e mais uma vez os pequenos negócios se tornaram o esteio de sustentação da economia no enfrentamento da pandemia.

O Relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2020) mostra que o número de empreendedores iniciais motivados por necessidade saltou de 37,5% para 50,4%. Outro dado que chama a atenção é em relação ao contingente de pessoas que entraram no mercado em plena pandemia como empreendedores, chegando a uma taxa de crescimento de 25%, a maior da série histórica.

Na avaliação do diretor técnico do Sebrae, Mauro Borralho, a decisão de abrir um negócio decorre ou da necessidade ou da oportunidade ou de uma conjunção desses dois fatores. Dependendo da natureza do negócio idealizado, um ou outro predomina como força impulsora. Ele diz que a decisão por necessidade quase sempre está ligada a circunstâncias desfavoráveis como perda de emprego, encerramento de um negócio anterior, crises macroeconômicas. Já as oportunidades, surgem em fases favoráveis do ciclo econômico ou mesmo da consolidação de novas tendências estruturais na economia, criando nichos de mercado, onde os empreendedores mais perspicazes iniciam novos negócios ou ampliam os existentes. E às vezes surgem pelo empreendedor que percebe uma oportunidade para resolver uma necessidade.

“A pandemia abriu oportunidades em vários serviços pessoais como, por exemplo, entregas a domicílio de vários tipos de bens”, relata Mauro Borralho, abrindo novas possibilidades de negócios para micro e pequenas empresas.

O economista José Cursino Raposo Moreira, também compreende a importância das micro e pequenas empresas para o enfrentamento da pandemia, e entre tantas contribuições para a economia brasileira, destaca sua participação na manutenção do emprego e da renda. No primeiro semestre de 2021, segundo dados da Junta Comercial do Maranhão (Jucema), as MPEs responderam por 89% das vagas formais criadas no estado – em número absoluto, corresponde a 17.737 postos de trabalho.

Período pandêmico é de reinvenção e aprendizagem

Sócias Patrícia Monteiro e Niele Soares estão com novos projetos
Sócias Patrícia Monteiro e Niele Soares estão com novos projetos

O ambiente de incertezas causado pela pandemia trouxe medo, mas também acabou, por necessidade de sobrevivência ou oportunidade, levando empreendedores a se reinventarem, a exemplo da empresária Mayara Schliebe Sipaúba, que com apenas quatro anos de mercado na área de eventos, está atravessando dois deles em meio à Covid-19.

A Imperial Eventos, localizada no Calhau, foi uma das empresas do segmento de eventos afetadas drasticamente pela pandemia. “Foi tudo muito angustiante. A preocupação em dispor de recursos para reembolsar as pessoas que cancelaram eventos e o medo de fechar as portas”, narra Mayara Schliebe Sipaúba, mas, segundo ela, sempre com uma ponta de esperança de que tudo iria passar.

Ao se dar conta de que o cenário de pandemia não iria cessar a curto prazo, a empresária buscou na oferta de serviços de delivery de alimentos a alternativa para auferir renda. Segundo ela, esse período de entrega a domicílio foi muito importante do ponto de vista econômico, além de ter proporcionado que continuasse trabalhando, sendo até uma terapia de esperança da retomada das atividades, o que acabou ocorrendo.

Estética e beleza
A microempresária Ana Vieira, que administra negócio na área de estética e beleza, no bairro São Bernardo, diz que a pandemia assustou muito num primeiro momento.
Mas que à medida que o governo iniciou a flexibilização, o medo inicial foi superado e a empresária visualizou na crise uma oportunidade de crescer. E lançou como estratégia a realização de parcerias com outros profissionais da área para que seu negócio ampliasse seu portfólio de serviços, com o incremento, por exemplo, de massoterapia e harmonização facial, além de cursos.

“O medo da pandemia se transformou também em oportunidade, pois busquei parcerias e utilizei as redes sociais como ferramentas imprescindíveis para manutenção do contato com nossos clientes e divulgação dos serviços. Aprendi muito nesse período”, assinala.

Ciclismo indoor
Março de 2020, as sócias Patrícia Monteiro Alves e Niele Soares se preparavam para inaugurar a Epic Studio, espaço especializado em ciclismo indoor, negócio pioneiro no Maranhão em relação à modalidade Mas o sonho prestes a se tornar realidade foi adiado pela pandemia.

Todo o investimento feito pelas sócias naquele momento tornou-se preocupação, pois sem funcionar, o negócio não poderia gerar retorno financeiro para honrar os compromissos assumidos. A alternativa encontrada para cobrir os custos foi locar as bikes e realizar aulas online.

Quatro meses depois, em 15 de julho de 2020, com o início da flexibilização das atividades, finalmente as sócias conseguiram inaugurar a empresa, na área do Calhau.
Como a demanda pelos serviços foi além das expectativas e o espaço se tornou pequeno em tão pouco tempo, dois meses depois mudou para um local mais amplo, na Península da Ponta d’Areia, o que favoreceu a inclusão de mais duas modalidades ao ar livre: o epic flows e beach fit.

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