Vacinação Covid-19

Decisão de doses de reforço na capital é do MS, aponta Anvisa

Segundo o órgão, segurança e eficácia de esquema vacinal com doses diferentes "ainda não foram decididas por autoridades regulatórias de referência"

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Idosos com mais de 90 anos já começaram a tomar a terceira dose da vacina contra a covid, como reforço
Idosos com mais de 90 anos já começaram a tomar a terceira dose da vacina contra a covid, como reforço

São Luís - Em nota encaminhada à O Estado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que a decisão de incluir doses de reforço contra a Covid-19 (a chamada terceira dose) no ciclo vacinal desde o dia 26 deste mês, é do Ministério da Saúde (MS). A pasta, por sua vez, não respondeu ao posicionamento.

Ainda de acordo com a Anvisa, “a segurança e a eficácia de esquemas vacinais com vacinas diferentes ainda não foram decididas por autoridades regulatórias de referência”.

Segundo a agência, outras entidades recomendam – no momento – que as doses sejam complementadas com as mesmas vacinas. Ou seja, para a Anvisa, quem tomou por exemplo as duas primeiras doses com a AstraZeneca, deveria tomar uma eventual terceira dose com o mesmo imunizante. O mesmo raciocínio valeria para outras vacinas.
Apesar do pensamento, a Anvisa reconhece que “entretanto, também há muitas publicações de estudos de efetividade que apontam a necessidade de reforço ou terceira dose da vacina contra Covid-19 para públicos mais vulneráveis como os idosos e os imunocomprometidos”.

Ainda sobre o reforço, a Anvisa informou que a responsabilidade de incluir a terceira dose na bula é da própria Agência, a partir da solicitação do laboratório. De acordo com a Anvisa, no dia 18 de agosto deste ano, foi recomendada a inclusão no Plano Nacional de Imunização de uma dose de reforço “apenas em caráter experimental”, para os grupos que receberam especificamente a CoronaVac.

A posição da Anvisa de aparente contestação com a decisão recente do MS não impediu, por exemplo, que a capital maranhense autorizasse a inclusão de doses extras de vacina no último dia 26.
A Prefeitura de São Luís, questionada acerca dos motivos técnicos que levaram à decisão, informou que a capital “saiu na frente e foi a primeira cidade brasileira a iniciar a aplicação da dose de reforço da vacina contra a Covid-19 em idosos, conforme recomendação do Ministério da Saúde”. Nesta sexta-feira (27), pessoas com 90 anos de idade ou mais compareceram a um dos postos de vacinação autorizados em busca da dose extra.

Além deste público, devem ser vacinados em breve os chamados imunossuprimidos que, de acordo com o Município, devem esperar por “28 dias após a segunda dose para receberem a terceira dose”. De acordo com a Prefeitura, neste caso, pessoas de qualquer idade poderão buscar o reforço. Ainda segundo o Município, são considerados “imunossuprimidos pessoas que vivem com HIV, em tratamento de câncer ou quem passou por um transplante, por exemplo”.

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Vacinas diferentes no ciclo
Além de aparente não validar decisão do MS, a posição da Anvisa também rebate a um argumento das autoridades estaduais.

De acordo com a Agência, ao contrário do que defendeu a Secretaria Estadual de Saúde (SES), cujo titular da pasta, Carlos Lula, a O Estado na quarta-feira (25) disse que a aplicação de um imunizante em terceira ocasião diferentemente das doses anteriores faz parte do planejamento, “a estratégia de utilizar uma vacina diferente deve ser uma avaliação com cautela, considerando a real necessidade clínica dos pacientes, o abastecimento e outros indicadores de saúde pública, incluindo a segurança dos intervalos, o risco de aumentar o perfil das reações adversas e o estabelecimento de um programa de monitoramento”.

Segundo o órgão fiscalizador, “o ideal é completar o esquema vacinal com a mesma vacina que foi iniciado, entretanto, se for necessário”. Por fim, a Anvisa informa que “a segurança e eficácia de esquemas vacinais com vacinas diferentes ainda não foram decididas por autoridades regulatórias de referência”, apontou.

Antes da manifestação da Anvisa, o titular da pasta estadual defendia a ideia de inclusão de um novo imunizante como reforço, diferentemente das doses anteriores. “Isso é o que chamamos de reforço heterólogo e vários estudos publicados indicam real eficácia nessa estratégia de combinar vacinas diferentes”, disse o titular da SES.

Mesmo sob cautela da Anvisa, até o fechamento desta reportagem, não foi registrado qualquer tipo de efeito adverso por pessoas que, porventura, receberam a terceira dose do imunizante na capital maranhense. Países como Israel, por exemplo, adotaram a terceira dose e, segundo autoridades locais, obtiveram resultados expressos de queda na cobertura dos infectados.

Reino Unido e Alemanha, por sua vez, devem incluir a terceira dose nas rotinas a partir do próximo mês. Mesmo sob autonomia de determinados países, a Organização Mundial de Saúde (OMS), em recente manifestação, apelou para as nações consideradas desenvolvidas para que estas, em vez de aplicar terceiras doses, doem os imunizantes para países cujas médias de aplicação a cada 100 pessoas estão inferiores a 3%.

No Brasil, mais especificamente na capital, mais de 99% das pessoas tomaram pelo menos a primeira dose (considerando pessoas acima dos 12 anos de idade). E a expectativa é pelo recebimento de mais uma dose do ciclo.

O que as pessoas pensam da vacinação?
As campanhas de imunização e a resposta na queda no número de casos, possível com a aplicação de doses de imunizantes, tornaram popular o hábito de cumprir com o ciclo vacinal contra a Covid-19. O Estado compareceu nas ruas e avenidas de São Luís para saber o que as pessoas pensam da vacinação.

A maioria entende que a campanha de imunização é correta e várias pessoas disseram que estão em dia com o ciclo vacinal. “Tomei assim que chegou o dia da minha dose. Já tomei a segunda dose e se precisar tomar uma terceira dose, também vou colocar meu braço para fora [risos]”, disse a dona de casa Maria do Carmo, de 64 anos.

O autônomo Vagner Conceição, de 34 anos, disse que estava com receio antes de tomar a primeira dose. Porém, após a leitura de reportagens e outros conteúdos e após conselhos de familiares e amigos, o autônomo tomou as duas doses. “Recomendo para que, quem ainda não tomou as duas doses, que assim o faça. Ficar mais seguro, mais protegido desta doença. Por enquanto, a gente não tem outra opção”, disse.

É o mesmo pensamento da estudante Manuela Alves, de 23 anos. “Eu já tomei as duas doses e estou satisfeita. E já sugeri para que outros familiares também tomem as doses se ainda não foram”, afirmou.
Pessoas com maior idade ressaltam a importância da vacina. É o caso da dona de casa Rosa Braga, de 60 anos. “Eu já estava ansiosa desde o começo quando começaram a fazer a vacina. Aí não chegava a minha vez e fui ficando ainda mais nervosa. Mas graças a Deus estou vacinada e me sentindo bem”, afirmou.

A também dona de casa Mariana Duarte, de 50 anos, afirmou que perdeu uma tia vítima da Covid-19. “Ela tomou a primeira dose, porém mesmo assim adquiriu a doença e veio a falecer. Isso aumentou ainda mais a necessidade de me imunizar. Quando tomei, me senti simplesmente aliviada. Não tive nenhum tipo de reação”, disse.

SAIBA MAIS

Há quem prefira não tomar a vacina...

Por regra, apesar da importância imunológica, o poder público não obrigou o recebimento de doses de vacinas contra a Covid-19 na capital maranhense. Em São Paulo, por exemplo, a vacinação será obrigatória para acesso em estabelecimentos da cidade. Na capital maranhense, algumas pessoas ainda não tomaram a vacina por opção.

É o caso da vendedora ambulante Leila Santos, de 49 anos. Segundo ela, não há certeza sobre a eficácia do imunizante. “Já li muita coisa sobre esta vacina e a maioria indica para eu não tomar”, afirmou. Questionada se já teve a doença, a vendedora respondeu que sim. “E fiquei ruim, mas mesmo assim, depois da doença, ainda não me convenci do contrário e vou permanecer com a mesma posição até o momento”, disse. A mesma posição tem a filha da vendedora, Helena Santos. “Eu não vou vacinar, não vejo necessidade”, disse.

Jovens entenderam o recado
De acordo com informações da Prefeitura de São Luís, mais de 97 mil pessoas entre 12 e 17 anos tomaram a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Foi o caso de Hellen Vitória, de 14 anos. “A minha mãe sugeriu para que eu tomasse e assim o fiz. Para mim, é um alívio com certeza”, afirmou.

Posição ANVISA a O Estado – Sobre as doses de reforço

De acordo com a Anvisa, há estudos clínicos ainda sendo conduzidos, neste momento, sobre a necessidade de dose de reforço. Entretanto, também há muitas publicações de estudos de efetividade que apontam a necessidade de reforço ou terceira dose da vacina contra Covid-19 para públicos mais vulneráveis como os idosos e os imunocomprometidos (transplantados, pacientes com doenças autoimune, em terapia do câncer e outros), decisões essas que já foram tomadas por alguns países (EUA, Chile, Uruguai, Israel, Indonésia e outros). A Anvisa tem feito busca ativa por dados estudos sobre a dose de reforço, solicitando aos laboratórios a apresentação dos dados já disponíveis e acompanhando a literatura científica disponível.

Por outro lado, não há estudos conclusivos que considerem a utilização da segunda dose ou a dose de reforço com uma vacina heteróloga, ou seja, com vacina diferente daquela que foi utilizada pela pessoa no primeiro esquema de imunização.
A segurança e eficácia de esquemas vacinais com vacinas diferentes ainda não foi decidido por autoridades regulatórias de referência. No momento, a grande maioria dessas autoridades recomendam que ambas as doses do esquema vacinal sejam completadas com as mesmas vacinas contra a Covid-19, ou seja, não há uma posição fechada sobre a intercambialidade das vacinas. Assim, a estratégia de utilizar uma vacina diferente deve ser uma avaliação com cautela, considerando a real necessidade clínica dos pacientes, o abastecimento e outros indicadores de saúde pública, incluindo a segurança dos intervalos, o risco de aumentar o perfil das reações adversas e o estabelecimento de um programa de monitoramento. O ideal é completar o esquema vacinal com a mesma vacina que foi iniciado, entretanto, se for necessário, por exemplo, em situações de fornecimento interrompido, seria razoável oferecer esquema completo com a vacina disponível, especialmente para indivíduos de alto risco. Além disso, o paciente deveria ser informado sobre o risco de maior reatogenicidade com esquemas de vacinação heterólogos (febre, mal-estar geral, artralgia, mialgia).

A Anvisa vem buscando ativamente os dados para ajudar a responder à pergunta principal em torno das vacinas para Covid-19, se e quando doses adicionais serão necessárias.
A decisão de incluir as doses de reforço no calendário vacinal é do PNI/MS e a avaliação de incluir uma terceira dose na bula é da Anvisa, a partir da solicitação do laboratório. Entretanto, considerando o conhecimento atual a Agência, em 18 de agosto de 2021, decidiu recomendar ao PNI que considere a possibilidade de indicar uma dose de reforço, em caráter experimental, para grupos que receberam duas doses da CoronaVac, priorizando públicos-alvo como pacientes imunocomprometidos ou idosos.

Abrindo o jogo – ANTÔNIO AUGUSTO MOURA

“É possível que a variante esteja circulando aqui entre nós no Maranhão”, diz infectologista

Em entrevista à O Estado, o infectologista Antônio Augusto Moura disse que por enquanto ainda não “há evidência científica que comprove a eficácia da terceira dose da vacina”. De acordo com o especialista, apesar disso, a produção de anticorpos contra a variante, a princípio, sugere que não haverá uma piora do quadro da doença.

Sobre as variantes, ainda de acordo com ele, não há comprovação de transmissão comunitária da Delta, porém – devido à demora na construção do registro genético – é possível em sua visão que a variante esteja já em circulação interna.

Qual a sua opinião acerca da terceira dose da vacina contra a Covid-19?

Ainda não há evidência de que uma terceira dose seja realmente necessária. Há trabalhos indicando que o nível de anticorpos neutralizantes se reduz com o tempo, mas tudo sugere que a proteção contra doença grave e morte permanece elevada mesmo após o aparecimento da variante delta. Entretanto, como idosos e pacientes com imunodepressão produzem menos anticorpos, está sendo indicada a administração da terceira dose para esses grupos.

Qual a sua opinião acerca da redução no prazo ou no intervalo entre a primeira e segunda dose?

O prazo pode ser reduzido para que se atinja a proteção coletiva mais cedo. O prazo foi esticado para 3 meses no Brasil por causa da escassez de vacinas.

Sobre as variantes, quantas foram registradas no Brasil relativas ao coronavírus?

Aqui predominaram duas variantes, ou seja, uma descendente da variante original em 2020 e a variantes Gama desde o início do ano. Agora a Delta está com tendência de aumento. Esta variante gera muita preocupação, pois ela é até 300 vezes mais transmissível.

Preocupa a situação das variantes no cenário local?

Aqui no Maranhão, ainda não temos transmissão comunitária da variante Delta até o momento mas, como o sequenciamento genético é escasso e demorado, é possível que esta variante já esteja circulando entre nós.

FALA, POVO!

E você, acredita na vacinação contra a Covid-19? Já se vacinou? Se não, por que?

[e-s001]“Tomei assim que chegou o dia da minha dose. Já tomei a segunda dose e se precisar tomar uma terceira dose, também vou colocar meu braço para fora [risos]”

Maria do Carmo, 64 anos, aposentada

[e-s001]“Tive covid, fiquei ruim, mas mesmo assim, depois da doença, ainda não me convenci do contrário e vou permanecer com a mesma posição até o momento”,”

Leila Santos, vendedora ambulante, 49 anos

[e-s001]“A minha mãe sugeriu para que eu tomasse e assim o fiz. Para mim, um alívio com certeza”

Hellen Victória, 14 anos, estudante

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