Artigo

Brasil em Chamas

Luiz Gonzaga Martins Coelho *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

Os recentes embates do Presidente da República com Ministros do Supremo Tribunal Federal, incluindo a ir o pedido de impeachment do Ministro Alexandre de Moraes, defesa do voto impresso e convocação para realização de um ato e manifestação de rua no feriado do dia 07 de setembro, dão a real dimensão do clima de tensão e do grave momento que passa a democracia em nosso país.

Enquanto em Brasília os Poderes da República não se entendem e vivem uma crise institucional perigosa, o Brasil literalmente está em chamas pegando fogo, fruto da ação irresponsável do ser humano.

O Parque Estadual do Juquery, em Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo é considerado um dos últimos remanescentes do cerrado da região e teve mais da metade de sua área destruída por um incêndio iniciado no último domingo causado pela queda de um balão. Conforme noticiado amplamente na imprensa, o (ir)responsável pagou uma multa de três mil reais e foi imediatamente posto em liberdade, enquanto o bioma pagará caro as consequências por tamanha imprudência e insensatez.

Práticas criminosas como solturas de balões, poluição, construção de barragens, desmatamentos, incêndios e queimadas, estão entre as causas mais frequentes das ocorrências e agressões ao meio ambiente. Segundo noticiado no programa Fantástico do último domingo, somente no Estado de São Paulo existem 1.646 focos de incêndios, representando 82% a mais do que média do período, em anos anteriores.

E os prejuízos não param por aí, além da cidade paulista os incêndios atingiram também mais de 275 hectares do bioma do pantanal e 4.700 hectares da Chapada Nacional do Mato Grosso, cujos danos serão enormes. Especialistas alertam que o uso inadequado da terra pela ação humana são os principais responsáveis e as perspectivas são muito ruins, dado a escassez de água decorrente da seca prolongada. Embora o Brasil detenha 12% da água do planeta e possua uma rica biodiversidade, nos últimos 30 anos já perdemos mais de três milhões de hectares de água, chegando ao risco de encolher um ¼ da superfície até 2050, pondo em risco o futuro do nosso planeta e das próximas gerações.

Além da alta temperatura acima da média em todo o país, também estamos sendo alertados pelas autoridades para a preocupação de uma possível crise hídrica, cujos efeitos serão a falta de água para abastecimento humano em várias cidades brasileiras e o baixo volume dos reservatórios que poderão impactar diretamente na geração de energia, provocando até mesmo um novo apagão ou racionamento, tal qual a catástrofe ocorrida no ano de 2000.

Segundo estudos recentes do MapBiomas Água, a origem da crise energética é causada pelo déficit de energia decorrente da falta de investimento em geração e transmissão, pelo baixo nível de chuvas e pelo aumento do consumo em aproximadamente 40%. Chama-nos atenção, que essa tragédia hídrica ainda não atingiu o ápice da crise, previsto para agravamento nos próximos meses de setembro e outubro, ante o aumento da seca e do calor que favorecem a propagação das chamas de incêndios e queimadas criminosas e não intencional.

Sem sombra de dúvida, a destruição da natureza constitui um dos mais preocupantes temas deste século, cuja gravidade é de todos conhecida, pelo que representa para a vida e a sobrevivência dos seres vivos e dos animais.

Nestes últimos anos, poucas questões têm suscitado tamanha preocupação. A luta por um meio ambiente saudável se converteu numa causa universal, que une a todos em defesa da água, do solo e do ar que respiramos.

Em meio a tudo isso, uma coisa só não deve ser esquecida, o Brasil corre perigo e necessita de uma estratégia nacional sólida para enfretamento dos desafios climáticos. Precisamos urgentemente da ação de bombeiros para apagar não somente as chamas de fogo que colocam em risco nossas florestas, mas sobretudo baixar temperatura e apagar os incêndios que tomam conta do planalto central e evitar uma catástrofe que ponha sob ameaça de ruptura institucional nossa jovem democracia.

A cúpula do Executivo, Legislativo e Judiciário precisam arrefecer seus ânimos, baixar o tom e sem bravatas e insultos, procurarem superar essa terrível crise envolvendo os Três Poderes para com base no diálogo e bom senso, republicanamente construírem juntos uma pauta positiva voltada para os graves problemas da nação, buscando desenvolvimento do país com geração de emprego e renda.

* Promotor de Justiça Titular da 40ª Promotoria de Justiça Especializada – 4º Promotor de Justiça da Infância e da Juventude do Termo Judiciário de São Luís (MA), ex-Procurador-Geral de Justiça e ex-Presidente da AMPEM

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