Artigo

Entrevista com a galinha

José Ewerton Neto *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

O projeto de lei da deputada Elisângela Moura (PCdoB) que institui a galinha da raça “Canela-Preta” como patrimônio histórico, cultural e genético do Piauí foi aprovado há poucos dias na Assembleia Legislativa desse Estado.

O projeto suscitou controvérsias nas redes sociais com diferentes posicionamentos a respeito de sua necessidade, mormente em tempos tão conturbados. Curiosamente ninguém foi ouvir a opinião do personagem principal: ela, a própria galinha. Nossa equipe de reportagem conseguiu esse ‘furo’ suprimindo essa lacuna.

Repórter - Antes de tudo parabéns, Dona Galinha Canela-Preta! Como a senhora está se sentindo?

Galinha - Como assim?

Repórter – Em breve a senhora e suas parceiras serão reconhecidas como Patrimônio Histórico Cultural e Genético do Piauí.

Galinha – Ninguém me disse, mas se for verdade, isso me faz sentir como uma galinha humana. Humana, demasiadamente humana, como disse alguém.

Repórter – Galinha humana? Nietzche? Confesso que me confundo. Desculpe, a senhora poderia esclarecer melhor?

Galinha – E precisa? Vocês humanos não apelidam de galinha a mulher que dá pra tudo e pra todos, e que depois de comida vocês maltratam e desprezam? Pois é justamente assim que estamos nos sentindo agora.

Repórter – Calma, dona Galinha! Não era bem isso o que esperávamos.

Galinha – E o que você esperava? Que fôssemos sair cacarejando pra lá e pra cá por causa disso? Pra que nos serve homenagens como essa?

Repórter – Puxa vida, não interprete assim, Dona Galinha. Pense que a deputada apenas quis prestar uma distinção à espécie de galinácea que distinguiu vocês, tão saborosa!

Galinha – Poupe o “saborosa” senhor! Essa deputada nunca quis homenagear galinha alguma, mas sim o próprio bucho. No dia em que esse decreto for aprovado sabemos que será a primeira a comemorar comendo justamente uma galinha.

Repórter – Quanta amargura, Dona Galinha!

Galinha – Quisera eu que realmente tivéssemos um gosto amargo para que todos vocês nunca mais nos engolissem. Ou o senhor acha que é bom acordar todo dia esperando apenas a hora de ser guilhotinada? Nossa vida se resume a isso.

Repórter – É doloroso e constrangedor, mas Juro que não havia lembrado, disso dona Galinha os humanos se esquecem eternamente do sofrimento de vocês. Sei que é desagradável, mas não posso me furtar a mais uma pergunta que já estava programada. Não me leve a mal, mas como a senhora prefere ser servida?

Galinha – Viva.

Repórter – Por fim, a senhora gostaria de fazer um último pedido?

Galinha – Que as galinhas de verdade como a gente sejam, pelo menos um dia, tratadas como os homens tratam as suas.

* É autor de O ABC bem humorado de São Luís

ewerton.neto@hotmail.com

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