Artigo

O que você quer ser quando envelhecer?

Luiz Thadeu Nunes e Silva *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

Desde menino a passagem do tempo me chamou atenção, sempre tive curiosidade sobre o futuro, de como estaria em determinado tempo que ainda veria. Quando estava no antigo primário, ficava imaginando que ao chegar ao ginásio, minha vida seria melhor, poderia ter mais liberdade para fazer o que quisesse. O tempo passou, cheguei no ginásio, tudo igual. Agora era esperar pelo Científico, pois via vizinhos e primos, poucos anos a mais do que eu, fazendo coisas que eu não fazia. O tempo seguiu seu curso e finalmente cheguei à maior idade no final do Científico, e as coisas pouco mudaram. Entrei na faculdade, cursei Agronomia, e por algum tempo nutri o pensamento de que após graduado, com um emprego poderia finalmente chegar ao Nirvana, que segundo o budismo, extinção definitiva do sofrimento humano alcançada por meio da supressão do desejo e da consciência individual.

Formado, com um emprego estável, formei família. Como o tempo não para, a vida foi seguindo seu curso como água de um rio que não volta atrás. Vieram os filhos, e a ânsia natural de que crescessem sadios, acompanhando-os em cada etapa de suas vidas. Filhos crescidos, vidas encaminhadas, formados, fechei mais um ciclo.

Com trinta e cinco anos de trabalho, aposentado, me vi diante do clássico, “o que fazer agora?”. Li que aposentado era “todo aquele que voltava para seus aposentos”, ou seja, saia da sala, deixava o palco principal, saia de evidência, se excluía, ou era excluído. Era como se seu tempo passara.

Segundo especialistas, em qualquer fase da vida temos que ter propósitos, foco, objetivos, metas. O homem não pode se acomodar, ficar em sua zona de conforto, refastelado, em cima de suas conquistas.

Recentemente, em um programa de TV, vi uma entrevista com o médico e gerontólogo Alexandre Kalache falar dos quatro pilares para uma velhice saudável.

Saúde, física e mental: corpo e mente sãs, são essenciais para viver bem;

Conhecimento: quem não se atualiza, fica pra trás, é excluído de todas as conversas. Fica repetitivo, sem assunto.

Capital social: muito importante ter amigos, se não conservou os do passado, faça amigos novos, de preferência jovens, para se atualizar. Eu particularmente não gosto de conversar com velhos ranzinzas, resmungões e preconceituoso. Caro leitor, você nunca ouvirá de mim, “no meu tempo”. Meu tempo é hoje.

Capital financeiro: dinheiro é necessário desde que chegamos no mundo até a partida dele. Sem dinheiro não realizamos desejos e sonhos.

Hoje, 03 de agosto, é um dia especial. 40 anos após graduar em Agronomia, início o curso de Jornalismo, e, se não bastasse, uma Pós graduação em Marketing, com olhos e ouvidos ávidos por coisas novas. Foi a maneira que encontrei para não ir para os aposentos, e continuar na sala, interagindo com filhos, noras, amigos jovens que agreguei pelo mundo por onde andei. Imagina quanta energia boa vou adquirir ao me conectar com colegas de 20 anos na faculdade e na pós. Aos 62 anos, me descubro mais sonhador do que nunca, agora sem a pressa de apressar a passagem do tempo, degustando cada momento, saboreando a vida, sabendo que viver é arte, aprendizado, construção, reinvenção. Gratidão ao bom Deus pelo privilégio de envelhecer, com saúde, fé, desejo constante de aprender, construir, e olhos abertos para o novo. Enfim, a vida não me cansa, tenho tesão em viver.

* Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes

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