Cinema

Novo filme de Aly Muritiba é selecionado para o Festival de Veneza

Longa, dirigido pelo mesmo diretor de "O Caso Evandro", discute a afeição masculina no Brasil contemporâneo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
(deserto particular)

São Paulo - Com uma filmografia que inclui trabalhos como “Jesus Kid”, selecionado para o Festival de Gramado, “Para Minha Amada Morta”, exibido em San Sebastian e vencedor de sete candangos no Festival de Brasília, e “Ferrugem” que teve estreia mundial no Festival de Sundance e foi escolhido melhor filme no Festival de Gramado, Aly Muritiba lida em DESERTO PARTICULAR, sua mais nova obra, com aquilo que ele chama de “os afetos masculinos no Brasil contemporâneo.”. O filme fará sua première mundial no Festival de Veneza, na mostra Venice Days, que acontece em setembro.

O longa é protagonizado por Antonio Saboia (“Bacurau”), como Daniel, um policial afastado do trabalho depois de cometer um erro. Ele mora em Curitiba, com um pai doente, de quem cuida com devoção. Taciturno, Daniel fala pouco, e sorri menos ainda,. Seu único motivo de alegria é a misteriosa Sara, uma moça que mora no sertão da Bahia, e com quem se corresponde por aplicativo de celular. O desaparecimento subito de Sara faz com que Daniel resolva cruzar o país em busca de seu amor.

“DESERTO PARTICULAR é um filme de encontros. Desde 2016, com o golpe que tirou do poder uma presidenta democraticamente eleita, minha geração, formada depois da Ditadura Militar, enfrenta o momento mais dramático de sua existência. O país afundou numa espiral de ódio que culminou com a eleição de um fascista como presidente. Depois da eleição de Jair Bolsonaro, todas as minorias, mulheres, indígenas, a comunidade LGBTQIA+, negros, entre outros, passaram a ser sistematicamente perseguidas, e o país se dividiu entre o sul conservador e o norte e nordeste progressista. Essa época de ódio me motivou quando decidi sobre o que seria meu próximo filme. Faria uma obra sobre encontros. Nesse momento de ódio, resolvi fazer um filme sobre o amor”, explica o cineasta.

Saboia foi o primeiro escolhido para o filme, e, conforme explica o diretor, lutou muito pelo papel. “Eu não o conhecia, mas ele havia ouvido falar do roteiro e me procurou. Depois de algumas ligações nós enfim nos encontramos e o santo bateu. Olhei pra ele e senti a energia de Daniel. Parei pra ouvi-lo e ela tinha a voz que havia imaginado que Daniel tinha.”

A escolha do outro protagonista foi um pouco mais desafiadora. “Uma amiga, a atriz Natália Garcia, que fez ‘Ferrugem’ comigo, me falou de Pedro Fasanaro. Ao ver suas fotos eu me interessei de cara e resolvi marcar um café entre mim e ele e depois com o Saboia. Eu me apaixonei pela doçura de Pedro, sua voz, seu olhar, me cativaram, mas o mais intenso foi ouvir sua história de vida e perceber o tanto do personagem que já havia ali. Quando enfim Saboia chegou e eles se encontraram eu senti que havia achado minhas parcerias criativos. E é isso mesmo que aconteceu. Criamos, a partir de suas experiências pessoas novas/mesmas personagens.”

Para Muritiba, a cidade de Sobradinho, como cenário, serve como uma metáfora para os personagens. “Sempre me interessei por aquela pequena cidade erguida ao redor de uma enorme represa. Sobradinho é uma cidade rodeada de energia elétrica, mas também levantada sob o signo do represamento, do controle do fluxo das águas. Essa energia decorrente desse represamento movem meus personagens, mas também essa vontade de sair se derramando por aí.” E filmar ali “foi um desafio proporcional à magnitude da represa que há na cidade. Havia toda uma energia no set que com toda certeza contagiou o filme.”

Também diretor de documentários, com filmes como “A Gente” e “Pátio”, e da recente série fenômeno da Globo Play “O Caso Evandro”, Muritiba explica que essa experiência foi fundamental para DESERTO PARTICULAR. “O modo como abordo os espaços e os corpos nos espaços vem do documentário de observação. Aqui, essa experiência foi determinante para o mise-en-scène, mas não só. O compromisso ético com o tema e os objetos (personagens) que tenho quando faço documentários está todo o tempo em pauta nas minhas ficções.”

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