Artigo

Com asas nos pés

Luiz Thadeu Nunes e Silva *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

Assisti extasiado à apresentação da fadinha Rayssa Leal, flutuando sobre uma prancha de madeira com rodinhas na madrugada de ontem. Vibrei com cada acrobacia, perdi o fôlego com as pequenas quedas, enfim: sofri, chorei, sorri e me renovei com aquele pequeno ser de luz a brilhar sorridente perante o mundo.

Com leveza, alegria, entusiasmo de menina feliz, que não tinha nada a perder e tudo a ganhar, foi diante dos holofotes do mundo que Rayssa Leal, 13 anos, a mais jovem competidora brasileira em um Olimpíadas, deslizou como pluma, ganhou uma medalha de prata, que bem poderia ser de ouro, tamanha sua performance no esporte e na vida. Na terra do Imperador a menina de Imperatriz saiu vencedora, coisa de quem nasceu para o estrelato. Da praça Mané Garrincha, com suas acrobacias na caliente Imperatriz à Arena Ariake, no distrito de Koto, um dos principais polos de competições na causticante Tóquio. No verão japonês, que atinge 45°, Imperatriz ficou parecendo os alpes suíços. Em outubro de 2012, juntamente com meu primogênito Rodrigo, visitamos Tóquio e ficamos hospedamos próximos ao complexo esportivo, hoje palco da piruetas de Rayssa.

“Quem é capaz de sonhar, é capaz de realizar seus sonhos”, disse a Fadinha logo após colocar a medalha de prata no peito, no franzino corpo de 1,46 m e 35kg, e muita garra e enormes sonhos.

A leveza e desenvoltura de Rayssa em cima da prancha de madeira, era como se estivesse em sua Imperatriz, sem se importar com o seu entorno. Era uma criança a brincar livre, leve, solta. “Eu tento ao máximo me divertir, porque tenho certeza que se divertir faz as coisas fluírem. Estar dançando ali [com a filipina Margielyn Didal] é muito engraçado, ontem a gente fez um TikTok se divertindo. Tento ficar mais leve e não pegar toda essa pressão”, disse ela.

Só para entender a façanha de Rayssa: as duas favoritas no skate street, Pâmela Rosa, líder do ranking mundial e Letícia Bufoni (4ª) não passaram das eliminatórias.

As fadas de verdade não têm asas e nem varinhas de condão, têm, isso sim, sonhos, determinação, foco, perseverança, objetivo, projetos, metas.

Pela primeira vez em uma competição olímpica, os skatistas brasileiros chegaram arrebentando, mostraram o potencial do Brasil perante o mundo. Primeiro com a vitória do paulista Kelvin Hoefler, prata no skate, e agora a nossa Fadinha.

Que o exemplo e a tenacidade de Rayssa frutifiquem, que influenciem um grande número de crianças neste nosso sofrido Maranhão, no Brasil e no mundo. Que voe mais alto, isso é só o começo de muitas vitórias.

Sem saber o que era “impossível“, movida por seus sonhos, Rayssa foi lá e escreveu seu nome na história dos Jogos Olímpicos; nos 125 anos em que são realizados na era moderna, ficará para sempre.

Em um mundo carcomido pela desesperança, desigualdade, violência, ideologias retrógradas, um Brasil dividido por causa de políticos, a vitória de Rayssa é uma lufada de esperança de novos tempos. Fui dormir acreditando no potencial desse imenso país tropical, abençoado por Deus, bonito por natureza, onde existem Fadinhas.


* Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.