Parto humanizado

Assistência respeitosa e prazer em trazer uma nova vida ao mundo

Entender cada história de mulheres que se dedicaram à esta forma de gerar a vida é admirar a coragem e perseverança de guerreiras e pessoas desenvoltas; veja expectativas e experiências de quem usou o método

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Enfermeira obstetra Giselia Vasconcelos verifica batimentos cardíacos do bebê ainda na barriga durante atividades do parto humanizado
Enfermeira obstetra Giselia Vasconcelos verifica batimentos cardíacos do bebê ainda na barriga durante atividades do parto humanizado

São Luís - O respeito à escolha feminina, ao longo dos séculos, tornou possível (e ainda bem que sim!) a existência do parto humanizado. Uma forma de se auto respeitar e, ao mesmo tempo, de dar à mulher a autonomia em um capítulo tão emocionante na vida das mesmas.

Entender cada história de mulheres que se dedicaram à esta forma de gerar a vida é admirar a coragem e perseverança de guerreiras e pessoas desenvoltas que, com personalidade e apoio moral de seus maridos ou companheiros ou companheiras, tornam a dor um ato de amor.

Esta história começa com o registro de alguém que realizou o seu sonho após experiências desafiadoras e diferentes das desejadas. Desde 2011 trabalhando diretamente com mulheres neste perfil, a enfermeira obstetra Dannielle Lima, após auxiliar às mulheres a realizarem seus sonhos de terem um parto normal respeitoso, começou a querer também passar pela mesma experiência.

Foram mais de 28 horas desde as primeiras contrações até o choro inconteste de Bia, que provocou a alegria diária dela e do esposo, Gilberto Cunha Filho, um companheiro para todas as horas. Os primeiros sinais e procedimentos clínicos foram realizados em sua residência, sob o amparo de profissionais de saúde.

Entre dores e angústias, todo o acolhimento de familiares e amigos na torcida pelo êxito. Após movimentos para estímulo das dilatações, o que facilita a saída do bebê do ventre, a avaliação decisiva, era necessária uma assistência também na rede hospitalar.

O cansaço era evidente, no entanto, o bem-estar de saber que a gravidez finalmente daria certo gerou uma sensação muito particular e aberta. Dentre as contrações e alívios temporários da dor, o prazer de um orgasmo feminino em pleno trabalho de parto, cujos médicos relacionam a um efeito raro, porém possível de acordo com os especialistas.

Quando as forças já não eram mais suficientes, veio o choro da filha da enfermeira. “Eu sempre quis ser mãe e passar pela experiência do parto, por isso curti muito a minha gestação. Passei por muitos desafios até concretizar esse sonho e acredito que isso me ajudou a aproveitar todos os momentos, mesmo os mais dolorosos. Meu parto foi demorado e muito doloroso mais ao mesmo tempo prazeroso de ser vivido. Quando cheguei à dilatação completa, fiquei tão feliz, relaxada e entregue que ainda fui surpreendida com um orgasmo. Eu sabia que era possível, já tinha acompanhado outras mulheres que sentiram prazer durante o parto, mas considerava uma realidade distante de mim. Acho que a presença constante do meu marido, todo o carinho, carícias e beijos, recebidos durante o processo, facilitaram tudo. Foi algo surpreendente e incrível!”, disse.

Para ela, que incentiva outras mulheres a também terem filhos desta forma, o plano é gerar novos filhos. “Eu simplesmente amei parir [risos]. Não vejo a hora de passar por essa experiência de novo e quem sabe em casa. As mulheres precisam desmistificar o significado estigmatizado de parto humanizado. Parto humanizado significa parto respeitoso, baseado em evidências científicas, em que nós mulheres somos as protagonistas e escolhemos como queremos viver essa experiência. Tem toda uma equipe por trás garantindo a nossa segurança e a do bebê. O parto pode sim ser uma experiência maravilhosa e muito prazerosa, pelo menos para mim foi”, afirmou.

Outros dados

Uma pesquisa intitulada “Nascer no Brasil” aponta a preferência e o encaminhamento de profissionais de saúde pelo procedimento cesáreo que, na essência, é uma cirurgia em que a mulher não usufrui em tese do domínio de seu corpo. Ao contar a sua experiência como profissional de saúde, a enfermeira obstetra Dannielle Lima cita que o parto humanizado é, na prática, um parto natural e considerado respeitoso e objetivo.

Antes do parto, é fundamental se submeter às consultas anteriores, conversar com os familiares e, principalmente, ter o apoio do seu marido ou companheiro ou companheira. É fundamental ainda se fazer a avaliação dos riscos e, no pós-parto, cuidar da assistência à mãe, dando dicas acerca por exemplo da melhor forma de se amamenta e suporte para a recuperação de seu corpo.

Em alguns partos humanizados, são usados recursos ligados a outros campos terapêuticos, ou seja, aromaterapia, massagem e até mesmo dança. Sim, algumas mulheres – para facilitar o encaixe do bebê no momento de saída do ventre – se submetem por conta própria à dança que, normalmente, dependendo da escolha do repertório, exige desenvoltura e molejo do corpo.

É um momento em que a mulher, diante de dores e certa tensão, passa a relaxar caso queira. “Estas são ferramentas podem auxiliar muito no relaxamento. Outro ponto fundamental é a rede de apoio”, afirmou Dannielle Lima.

O prazer sentido por algumas mulheres, em especial, no aspecto sexual e no registro da própria dor das contrações é explicado tecnicamente pela presença da ocitocina – hormônio produzido pelo organismo e cuja ação é central no trabalho de parto, já que é responsável pelo estímulo das contrações uterinas e também liberado durante o orgasmo. É conhecido, por exemplo, como o hormônio do prazer.

Na pandemia, os cuidados durante o parto humanizado são ainda mais redobrados. Por isso, é fundamental que os envolvidos (mãe, familiares, amigos e profissionais de saúde) estejam com itens de proteção como máscaras por exemplo, para proteger a todos. E sempre fica o alerta: se a mulher durante o parto humanizado desejar outro tipo de trabalho específico, ou seja, trocar o parto normal e humanizado pela cesárea, pode fazer. O importante é que caso a mulher decida por uma cesariana o faça consciente de sua escolha.

ABRINDO O JOGO – Giselia Vasconcelos – Enfermeira Obstetra

“A vontade da mulher é respeitada no parto humanizado”

A enfermeira obstetra Giselia Vasconcelos trabalha no projeto “Nascer com Amor SLZ”, projeto que incentiva o nascer humanizado através do parto. Ela explica as vantagens da iniciativa, de que forma a mãe, neste caso é respeitada e cita a importância do atendimento mais voltado às vontades da mulher, neste caso.

Qual o grupo que você coordena?

Coordeno com a enfermeira Isabella Pinto o “Nascer com amor SLZ”, grupo que surgiu há pelo menos 4 anos como forma de dar assistência às mulheres que, porventura, dão suporte e amparo às mulheres que queiram ter os seus filhos a partir do Parto Humanizado.

Qual o seu papel no apoio às mulheres que fazem o parto humanizado?

Nós prestamos toda assistência ao trabalho de parto, cuidando tanto da integridade da mulher quanto à do bebê, monitorando com segurança e da melhor forma, tanto emocional quanto física. É importante destacar que, em todos os momentos, a vontade da mãe é respeitada. Ou seja, se durante o parto humanizado, a mãe não se sentir confortável, pode optar sim pelo parto mais comum, sem problema. O mais importante é que a mulher tenha todo o suporte e se sinta bem.

Por que a cada dia mais mulheres optam por este tipo de parto?

O parto humanizado vem ganhando mais adeptas pois nele a mulher tem toda assistência, nele ela é respeitada, suas vontades são respeitadas e seu parto é planejado e humano. A mulher deseja isso, ou seja, ser ouvida e respeitada e é mais do que natural que a mesma busque, quem sabe, a compreensão em um capítulo tão importante de sua vida.

Quais as diferenças entre o parto humanizado e os demais? Ou mais conhecidos?

O parto humanizado possui práticas e procedimentos que são usados no processo do parto que proporcionam uma perspectiva mais humana e menos hospitalar, colocando a mulher como protagonista, dando mais acolhimento e carinho nesse momento, respeitando suas vontades, as necessidades e desejos da forma que idealizaram.

Quais os cuidados necessários do Parto Humanizado durante a pandemia?

Todos os nossos equipamentos são limpos da forma indicada, usamos máscara todo o tempo e, além disso, é fundamental o acompanhamento médico para que a mulher se sinta acolhida durante todo o período, e possa escrever esse capítulo da forma mais humana possível.

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Mulheres jovens também optam

A fotógrafa e estudante de Medicina Veterinária, Juliana Chaves Costa, é o exemplo de uma jovem mãe que decidiu pelo parto humanizado por conta própria. Ela sempre teve a convicção de se submeter a este tipo de parto. “Eu sempre quis que meu filho viesse ao mundo da forma mais natural possível, sem tantas intervenções médicas. Não queria nenhuma experiência traumatizante”, disse. Segundo ela, foi a partir de relatos de terceiros que veio a vontade de se submeter ao parto humanizado. “Durante a gravidez, estudei muito a respeito, vi relatos de parto e percebi o quão benéfico seria para nós dois”, afirmou. Outra vantagem foi o tempo de permanência da criança com ela. “Não queria que meu filho fosse afastado de mim logo que nascesse. Ele pode ficar comigo por um tempo antes de ser avaliado e isso foi maravilhoso”, afirmou.

Decisão

A mãe Adriana Carolina Rodrigues da Silva Pinheiro compartilhou com O Estado o seu depoimento. Ela também se submeteu, no fim de semana, a um parto humanizado e conta a sua história. “Quando se decide encarar a via de parto vaginal a primeira coisa que uma mulher deve se questionar é quem eu devo escolher para me assessorar em um momento tão ímpar. Ao mesmo tempo, também precisa ser sensível, adaptável à dinâmica de vida daquela mulher e, sobretudo, cheia de empatia para lidar com os momentos difíceis que surgirão durante todo o processo. Eu, felizmente, obtive tal assistência das queridas enfermeiras obstétricas Giselia Vasconcelos e Isabella Pinto, por meio da Nascer Com Amor. Elas me ajudaram no alívio da dor, mostraram como eu poderia auxiliar meu corpo a executar aquela tarefa insana de parir, me ensinaram atividades e exercícios indispensáveis para um parto seguro”, afirmou Adriana.

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