Artigo

A verdadeira história do Vasco da Gama

José Ewerton Neto *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

1.Na época em que O Vasco da Gama foi fundado, 1898, o turfe, o ciclismo e o remo eram as modalidades esportivas que seduziam os jovens na capital da República. D. Pedro II ainda era o regente quando no Brasil surgiram as primeiras agremiações dos esportes náuticos.

A sedução pelos esportes náuticos dava-se pela movimentação das elites dos centros urbanos fugindo da insalubridade em busca do ar puro da orla da baía de Guanabara. O mar sugeria saúde em contraponto aos lugares centrais vítimas da sujeira provocada pela contaminação dos esgotos a céu aberto, proliferando epidemias.

Nas 3 primeiras décadas de sua fundação o Vasco tornou-se uma das principais agremiações do remo só vindo a aderir ao futebol em 1915 após sua fusão com o Lusitânia SC, que também nasceu da colônia portuguesa do Rio. Com o nascimento da República as associações desportivas cariocas começaram a se estruturar como times de futebol a partir de 1904.

2.No ano 1922, já na primeira divisão o Vasco venceu todas as disputas que participou. E qual era o seu diferencial? No Vasco todos participavam diariamente de treinos técnicos e físicos. Em seu livro O negro no futebol brasileiro Mario Filho escreve: ‘Às vezes, de noite, se a noite era de lua podiam-se ver os jogadores do Vasco treinando.” Mas havia uma outro diferencial a ser destacado: a origem de seus jogadores. Clubes como Fluminense, Botafogo e Flamengo eram formados por jovens da classe média carioca. O Vasco apresentava um time de gente negra e parda, operários oriundos da classe pobre, trazidos da periferia da cidade.

A massa sentia-se atraída a acompanhar o Vasco onde quer que fosse, provocando ressentimento dos adversários. Para eles o Vasco era um estranho no ninho que, no entanto, vencia e vencia. Assim que tricolores, flamenguistas etc deram-se conta de que iam para os estádios para assistir a derrota dos seus para os ‘camisas pretas’ a coisa mudou de figura. A bronca com os portugueses, gerada por uma onda de xenofobia era que, se não fosse por eles, aquele time formado por operários, pretos e mulatos não estaria desafiando e vencendo gente de boa família.

Começou então uma onda de xenofobia e jacobinismo. Ainda Mário Filho: “O português levava a culpa. Pouco importava que o time do Vasco com seus brancos, pardos, mulatos e negros fosse brasileiríssimo.”

O resto já se sabe. Inexplicável má vontade perdura até hoje contra o clube especialmente na mídia dominante no Rio e, daí para o país, a ponto de se tentar transferir para outros times toda aura de popularidade e tradição vanguardista conquistada, em sua origem, pela equalização dos direitos individuais e pela absorção dos desvalidos. Bastou um resultado adverso na copa de 1950 para se iniciar o processo de tentativa de demolição da popularidade do time, (que foi a base dessa seleção brasileira) escolhendo-se para bode expiatório o grande goleiro Barbosa, eternamente considerado culpado pelo revés, por causa de sua negritude.

Nada disso arrefece o apego de sua torcida ao time apesar de recentes dissabores. Combalido financeiramente a reboque de administrações desastrosas, peculiares à estrutura avulsa do futebol brasileiro, o Vasco, no entanto, ostenta como patrimônio, além de sua imensa torcida, um estádio de futebol, São Januário, que é o único dessa envergadura no país, a ter sido construído, tijolo por tijolo, com a ajuda apenas do suor de seus torcedores.

É autor de O entrevistador de lendas.

ewerton.neto@hotmail.com

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