Artigo

Jornal "Cidade de Pinheiro" - cem anos

Lourival Serejo *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Cresci lendo o jornal Cidade de Pinheiro. Como pinheirense exilado em Viana, meu pai recebia mensalmente a edição desse jornal. Ele e minha tia-mãe liam-no avidamente para saberem notícias da terra que deixaram e dos parentes que ali ficaram.

O arquivo desse jornal contém grande parte da história da Baixada maranhense e, muito mais, do município de Pinheiro. Vários fatos de Viana também foram registrados nesse veículo de comunicação, principalmente no período em que Nezinho Soares foi seu diretor. Por exemplo, a edição que saiu em 1957, por ocasião do bicentenário de Viana, tornou-se objeto de consulta obrigatória para escrever sobre a história daquela cidade.

José Sarney, em seu livro Galope à Beira-Mar, conta este caso divertido a respeito desse órgão de imprensa: “No jornal Cidade de Pinheiro, quando terminou a Segunda Guerra, foi publicado o seguinte editorial: Se o senhor Adolf Hitler tivesse ouvido nossos reiterados conselhos sobre as atrocidades dessa guerra, que desgraçou toda a Europa, não teríamos que lamentar tantos mortos e tanta desgraça!”

Estou trazendo à tona esses fatos só para informar aos leitores que o motivo desta crônica é homenagear o jornal Cidade de Pinheiro pelos cem anos de existência – e vivo, embora enfrentando dificuldades. A primeira edição desse jornal, segundo Jerônimo de Viveiros, saiu no dia 25 de dezembro de 1921, sendo seu fundador o líder político Elisabeto Barbosa de Carvalho, a quem conheci, em um almoço, lá em casa, acompanhado de uma “embaixada” pinheirense.

Antes que perguntem sobre meu interesse nesse fato histórico, esclareço que, além de ser filho de pinheirense, arvoro-me nessa legitimidade porque foi pelo Cidade de Pinheiro que publiquei minhas primeiras crônicas, entre 1972 e 1973.

Uma dessas crônicas, intitulada A Igreja em Viana, em duas séries, provocou um atrito diplomático entre o então bispo de Pinheiro, que era italiano, e o de Viana, dom Hélio Campos. O motivo é que dizia, em uma delas, que o anterior bispo de Viana (italiano) tinha sido mais prefeito, pelo tanto de obras que construiu, enquanto o prefeito era um bispo. O ofendido pressentiu minha ligação com dom Hélio e cobrou o reparo.

Sobre o centenário, convém fazer esta comparação: enquanto O Imparcial vibra com seus 95 anos e o Jornal Pequeno, com seus 70 anos, o Cidade de Pinheiro, timidamente, consagra-se como o jornal, em circulação, mais antigo do estado. Por esse motivo, merece aplausos, atenção e estudo. É isso mesmo: estudo. Como já disse, naquelas páginas estão as histórias, não só de Pinheiro, mas de vários municípios adjacentes.

A última vez que fui a Pinheiro, fiz um apelo, em uma entrevista, para manterem em circulação aquele jornal. As edições atuais são feitas pelo esforço do jovem Nilson. Por um bom tempo, cheguei a fazer uma assinatura. Nesse período, o papel era de péssima qualidade. Entretanto, pela edição de abril passado que me chegou às mãos, já tive a satisfação de vê-lo em melhores condições.

Renovo aqui meu convite aos pinheirenses, conterrâneos do meu velho pai: não deixem o jornal Cidade de Pinheiro perder a sua vocação histórica na Baixada maranhense.

* Desembargador e membro da Academia Maranhense de Letras

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