Artigo

A universidade que ouve estrelas

Natalino Salgado Filho *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

O poeta já escarnecia quem duvidava de que é possível ouvir e entender estrelas. Era Olavo Bilac que, por ter senso, abria “as janelas pálido de espanto” para entendê-las e ouvi-las. Fico pensando se era a ciência inspirada pela poesia ou a poesia da ciência. O certo é que a UFMA, por concordar que é preciso não só conhecer, mas entender estrelas, abre suas janelas para o espaço no calendário de julho, no dia 8, dedicado ao Dia Nacional da Ciência e ao Dia Nacional do Pesquisador Científico. A partir de agora, esse dia também será lembrado na história da Universidade Federal do Maranhão como aquele no qual ocorreu o lançamento do Espaço da Ciência e do Firmamento – O Planetário da UFMA: um feito considerável, sobretudo para o contexto que cerca o acontecimento.

Mas o sábio Salomão disse, em seu livro de Eclesiastes (7.8), que “Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas”. Isso é verdade para muitas coisas, inclusive para o Planetário: um projeto com que se sonhou desde o planejamento, com objetivos de alcance que ultrapassam a visão desta geração. Nesse contexto, o fim se torna finalidade, e não o ponto final e princípio, ordenação de conhecimentos.

Dar sequência a um projeto desta envergadura, iniciado em 2014, encaixa-se na utilização do dinheiro público. Os astronômicos atrasos em obras públicas ou simplesmente o descaso – que costumam grassar Brasil afora - ocasionam muitos prejuízos sociais e ferem princípios basilares na gestão dos escassos recursos de que qualquer ente público, no Brasil, pode dispor.

Por isso, falar do Planetário da UFMA desperta um misto de alegria e de animação, pelo impacto deste centro de conhecimento, sobretudo para os cursos relacionados e pelo encanto diante da possibilidade de ver jovens e crianças que, ao visitá-lo se deixem envolver pela mágica do conhecimento das estrelas, área em que nossa UFMA está investindo cada vez mais, por meio da visão de que este futuro já está às portas. Esta semana Sir Richard Branson, dono da Virgin Galactic, fez o primeiro voo ao espaço, em uma nave construída por sua empresa, aventura que estará, em breve, ao alcance das pessoas.

Em 2014, a UFMA adquiriu equipamentos eletrônicos da empresa alemã Zeiss, para fazer, no Planetário, o espetáculo de revelar o universo, nosso sistema solar, planetas e constelações. Este equipamento está presente nos melhores planetários do Brasil como nos de São Paulo, Rio de Janeiro, Universidade Federal de Santa Catarina e Fortaleza.

Depois de um breve retrocesso, sobre o qual não vale a pena tecer comentários, agora retomamos o projeto que já se encontra concluído em 70%. O Planetário deverá funcionar plenamente no segundo semestre do próximo ano. Até lá, o Museu de Ciências estará funcionando e dele serão disponibilizados diversos experimentos, na área da Física. Toda essa estrutura também conta com auditório, salão de exposição, um teatro digital e, em breve, com uma cúpula de projeção.

Outra notícia excepcional é o convênio entre UFMA e Prefeitura de São Luís que transforma o Planetário em ponto turístico e, naturalmente, de educação astronômica em nossa cidade. Ademais, será muito utilizado em aulas para crianças e adolescentes. Estamos alegres com a entusiasmada acolhida da ideia pela Prefeitura.

Diversos cientistas iniciaram sua relação de amor ao conhecimento, quando de uma visita a um local similar ao nosso Planetário. A descoberta por um mundo além do alcance das mãos - mas ao mesmo tempo muito próximo - foi capaz de despertar a vontade de ultrapassar os caminhos mapeados e das obras catalogadas. E isso, também, segundo o poeta, é para quem ama. “Pois só quem ama pode ter ouvidos capaz de ouvir e de entender estrelas”.

A UFMA transmite o desejo de que as crianças e jovens maranhenses sigam esta senda de paixão pelo espaço, esta fronteira ainda pouco conhecida, inspirada na ciência da poesia e na poesia da ciência não só de Bilac, mas dos poetas e dos cientistas, todos que precisam ser sonhadores e propensos às estrelas, para trilhar por qualquer outro caminho. Como disse o genial poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare: “Há mais mistério entre o céu e a terra do que possa imaginar nossa vã filosofia”.

* Médico Nefrologista, Reitor da UFMA, Titular da Academia Nacional de Medicina, Academia de Letras do MA e da Academia Maranhense de Medicina

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