Maranhão

No Maranhão, imunidade da vacinação contra covid só será percebida no fim do ano

Previsão para São Luís e para outros municípios depende do isolamento social e a inclusão de medidas que evitem o surgimento de novas variantes

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16
Cidadã recebe dose de vacina da Pfizer em posto de vacinação contra a Covid-19, em São Luís
Cidadã recebe dose de vacina da Pfizer em posto de vacinação contra a Covid-19, em São Luís

São Luís - Dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES) apontam que São Luís aplicou, desde a última atualização de imunização no cronograma de vacinação contra a Covid-19, 700.447 doses de imunizantes. Este total, de acordo com a pasta, foi aplicado a partir de 856.770 doses recebidas de vacinas até o momento para a cidade.

Com referência aos dados da Prefeitura de São Luís, de acordo com a última atualização do “Vacinômetro”, responsável pela verificação do saldo de doses, 751.530 doses foram aplicadas. Destas, 626.143 em primeira aplicação e 125.387 em segunda aplicação. No total, segundo a Prefeitura, foram recebidas 763.181 doses, com uma taxa de aplicação de 98,47% (entre doses recebidas e aplicadas).

Apesar do avanço, no último mês, em especial, da vacinação contra a Covid-19 na capital, os níveis de estabilidade do número de casos e de óbitos no estado ainda são considerados inconsistentes. O saldo total de pessoas contaminadas ainda é considerado alto, ou seja, de acordo com a SES, 317.446 casos foram confirmados de pessoas com a doença no estado. No total, de acordo com a SES, 534 pessoas seguem internadas em UTIs e 1587 casos de Covid-19 suspeitos seguem sob investigação.

O Estado ouviu especialistas para entender quando a população maranhense, sobretudo na capital, poderá ter a imunidade ampla, ou seja, com risco baixo de infecção entre as pessoas. Segundo pesquisadores, é necessário que o poder público e a população, como um todo, atendam a algumas exigências. Estima-se que até o fim do ano será alcançada maior proteção imunológica ou imunidade da população maranhense, em especial.

Além da manutenção das medidas de proteção social (distanciamento, uso de máscaras e higienização das mãos), é preciso que haja um avanço maciço na cobertura vacinal da população. É necessário, de acordo com os especialistas, ter um índice vacinal de população plena entre 60 e 70% do total.

Na capital, por exemplo – até o fechamento desta edição, aproximadamente 120 mil pessoas ou cerca de 12% do público total e coberto está vacinado com duas doses.

Com o ritmo de encaminhamento de doses pelo Ministério da Saúde (MS) e mesmo sem a execução, na prática, da compra de vacinas pelos estados e municípios, que chegaram a se incluir em consórcios específicos para a compra (no caso do Estado, no Consórcio Nordeste e no caso do Município em consórcio com cidades de outras regiões do país), o ritmo da vacinação na cidade e em outros municípios aumentou e deu esperança de que, finalmente, a população alcance a barreira imunológica mais segura contra o coronavírus.

Para o professor do Departamento de Saúde da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Antônio Augusto Moura, além da vacinação em duas doses, é necessário que não haja o surgimento de novas variantes. De acordo com o setor de imunização da Secretaria Municipal de Saúde (Semus), além das vacinas CoronaVac e AstraZeneca, os imunizantes Pfizer e Janssen (esta última não teria mais no estoque ludovicense) já foram usadas.

Segundo o professor, o percentual de aplicação de duas doses é um fator primordial. “O ritmo de vacinação aumentou nas últimas semanas, especialmente na Grande Ilha, que recebeu 300 mil doses extras de vacinas. Na capital, a cobertura vacinal da primeira dose aumentou de 27% em 9 de junho para 52% em 30 de junho, mas a cobertura da segunda dose ainda é muito baixa. No Estado, a cobertura vacinal da primeira dose aumentou de 21% para 33%, mas a cobertura da segunda dose também ainda é muito baixa, de 9%. A imunidade de rebanho só deve ser atingida quando conseguirmos vacinar 70% da população com duas doses, o que só deve ocorrer no final deste ano”, disse.

O professor diz que é perceptível um quadro de relativa estabilidade no número de casos da doença, porém ainda com patamares altos.

No caso dos idosos, por exemplo - especialmente entre os maiores de 70 anos, a redução de ocorrências é nítida. Este público, em sua maioria, está na cobertura de duas doses plenas da vacina. “Se não fosse a vacinação, como a transmissão ainda está alta, as mortes ainda estariam em progressão, pois as medidas restritivas adotadas este ano foram tímidas comparadas com as adotadas no ano passado”, disse Antônio Moura.

Ainda sobre a proteção imunológica mais efetiva na população, a partir da vacina, a infectologista Maria dos Remédios Castelo Branco é ainda mais cautelosa.

Para ela, é necessário se atingir, de fato, pelo menos 60% da população imunizada em duas doses para se estabelecer uma segurança sanitária menos cautelosa. No entanto, ela ressalta que a vacina não é a única estratégia na contenção dessa pandemia. “Além da vacinação, é necessário manter todas as medidas não farmacológicas. Entretanto, especialmente a partir de meados do ano passado a adesão a essas medidas caiu substancialmente aqui em São Luís”, disse.

Segundo ela, é fundamental – mesmo após a vacinação e no estágio atual do contexto social e epidemiológico – manter as demais medidas, ou seja, o isolamento social e o distanciamento físico. “É bom lembrar que a pessoa só estará protegida entre 15 e 30 dias após a segunda dose da vacina. Sabe-se também que nenhuma vacina é capaz de proteger cem por cento das pessoas vacinadas. Além disso, a vacinação é uma proteção coletiva, quanto mais pessoas vacinadas, menos o Sars-Cov-2 [coronavírus] circula”, afirmou.

Sobre a diminuição do número de casos em virtude de vacinação contra a Covid-19 na capital maranhense e em outras partes do estado e do país, o médico Carlos Frias, especialista no assunto, disse que qualquer análise é passível de mudanças. “A cada momento por exemplo, aparecem variações. Temos a cepa original, agora uma cepa indiana que, porventura, ainda não faz mensurar com razão qual o efeito prático da vacinação no território local. Nós não temos ainda total certeza entre a eficácia exata dos imunizantes, pela tecnologia, usada em cada vacina”.

Para ele, o binômio eficácia/segurança das doses ainda não é confiável e precisa ser analisado nos próximos meses. “A gente espera que, até o fim do ano, um avanço da vacinação de forma ainda mais incisiva, para uma resposta imunológica na mesma proporção”, informou o infectologista.

Além da vacinação, é necessário manter todas as medidas, como evitar aglomerações e usar máscara
Além da vacinação, é necessário manter todas as medidas, como evitar aglomerações e usar máscara

E o futuro?
Com a perspectiva de um fim de ano menos tenso e mais tranquilo quanto aos riscos de transmissão da Covid-19 na capital, imunologistas também querem saber se o recebimento de doses do imunizante será uma marca e, ao mesmo tempo, um hábito a ser tomado pela população nos próximos anos.

Para a infectologista Maria dos Remédios Castelo Branco, é necessário se estabelecer prioritariamente quais imunizantes exigirão reforço das primeiras doses aplicadas. “Ainda não está estabelecido, mas é esperado que seja necessário reforço da vacinação com seis meses no caso da Coronavac e com um ano no caso da AstraZeneca e da Pfizer”, disse.

Para Antônio Augusto Moura, a eficácia de todos os imunizantes é comprovada cientificamente, porém com prazo determinado. “Estudos estão em andamento acompanhando cortes de vacinados para se saber quanto tempo a imunidade vai durar. Vamos ter que aplicar reforço, apenas não sabemos ainda quando, se daqui a um, dois ou três anos, pois a imunidade conferida pela vacina contra a Covid-19 é temporária”, afirmou.

Especialistas respondem!

Há algum imunizante aplicado no Maranhão mais eficaz ou cujo uso é mais recomendado do que o outro?

Maria dos Remédios Branco - Não, o risco de morrer de Covid-19 é muito alto. Então, não podemos escolher nenhuma dessas quatro vacinas (Pfizer, AstraZeneca, Janssen e Coronavac). Devemos receber a vacina que estiver disponível, porque enquanto a pessoa fica esperando outra vacina, ela pode contrair o Sars-Cov-2 e morrer. Apenas as gestantes no país têm restrição de uso de vacinas, podem tomar apenas a vacina da Pfizer e a Coronavac.

Antônio Augusto Moura - Não, todas as vacinas conferem proteção acima de 80% contra formas graves da Covid-19 e óbitos.

Neste momento, o quadro da doença é de estabilidade, porém, com índices altos. Quando poderemos sentir uma queda no número de casos mediante efeito da vacinação?

Maria dos Remédios Branco - A Organização Mundial de Saúde estima que é necessário vacinar 60% da população global para termos o controle da pandemia. Já temos o exemplo de Serrana (SP), onde depois de 75% da população adulta do município vacinada com Coronavac foi obtido o controle da pandemia.

Antônio Augusto Moura - Se não fosse a vacinação, como a transmissão ainda está alta, as mortes ainda estariam aumentando, pois as medidas restritivas adotadas este ano foram tímidas comparadas com as adotadas no ano passado. É preciso ter bem mais pessoas com a segunda dose para esta queda mais acentuada.

Dados da Prefeitura de São Luís (atualizados até quinta-feira, dia 1º de julho)

  • 626.143 doses de vacina contra a Covid-19 aplicadas (1ªdose)
  • 125.387 doses de vacina contra a Covid-19 aplicadas (2ª dose)
  • 98,47% de taxa de vacinação

Dados de São Luís do Governo do Maranhão (atualizados até quinta-feira, dia 1º de julho)

  • 700.447 – doses aplicadas no Maranhão
  • 856.770 – doses recebidas pelo Maranhão

Dados da Secretaria Estadual de Saúde do Maranhão (atualizados até quinta-feira, dia 1º de julho)

  • 317.446 casos confirmados Covid-19 no Maranhão
  • 9.043 óbitos no estado
  • 30.690 em isolamento domiciliar
  • 534 pessoas internadas em UTI
  • 1.587 casos de Covid-19 em suspeitos

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