Opinião

O Gabeirismo sem Gabeira

Benedito Buzar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16
(gabeira)

Com o meu aguçado olhar de pesquisador, encontrei na edição do Diário Oficial do Maranhão, de 4 de outubro de 1937, a publicação de um longo pronunciamento do deputado Felix Valois, integrante da bancada que apoiava o então governador Paulo Ramos.

O discurso do parlamentar ocorreu dias antes do presidente Getúlio Vargas decretar o Estado Novo no Brasil, ato que estabeleceu um regime ditatorial e transformou os governadores em interventores, situação que só acabou nos idos de 1945, graças ao processo de redemocratização do País.

O discurso do deputado Felix Valois, devidamente combinado com Paulo Ramos, atacava sem dó e piedade os parlamentares estaduais, liderados pelo deputado João Braulino de Carvalho, que haviam se comprometido com o chefe do Executivo estadual a participar de uma nova agremiação política no Maranhão, de apoio ao governador, denominado Partido Evolucionista Maranhense, mas face à conjuntura política que vivia o Brasil, resolveram, como fazem até hoje, a esperar o desfecho da crise, para assinar ou não o documento.

No raivoso pronunciamento do parlamentar, no qual dedicava palavras ácidas e venenosas aos deputados que deixaram de cumprir o assumido com Paulo Ramos, encontrei um vocábulo que me chamou a atenção, por desconhecê-la literalmente: Gabeirismo.

O meu primeiro impulso foi imaginar que os parlamentares fossem aliados do jornalista Fernando Gabeira, hipótese logo afastada porque, naquela época, o político e intelectual ainda não havia nascido e nenhum Gabeira militava em qualquer agremiação política daqui ou alhures.

Para dissipar as minhas dúvidas quanto ao incógnito vocábulo, recorri aos mais tradicionais e importantes dicionários brasileiros para ver se encontrava algo que me permitisse achar ou esclarecer a origem da palavra Gabeirismo.

Depois dessa caçada infrutífera aos dicionários brasileiros, recorri ao livro do professor Domingos Vieira Filho – A Linguagem Popular do Maranhão, na esperança de nele encontrar o registro de algum verbete regionalista que definisse ou explicasse o que era Gabeirismo. Em vão.

Como não achei nada para esclarecer a origem da palavra, retomei a leitura do longo e candente discurso do deputado Felix Valois, no qual, em determinado momento, ele explica o que é Gabeirismo.

Com a palavra o parlamentar: “Gabeirismo é hoje um vocábulo do nosso idioma. É a última palavra na tradução exata da degenerescência de nossos costumes políticos. É a ação nefasta dos deputados de Norte a Sul do País, faltando aos compromissos assumidos, não honrando a palavra empenhada da solução dos problemas do Estado”.

Como se não bastasse, o deputado, que era oficial do Exército, afirmou “Que entre nós no Maranhão, esta palavra passará à História, porque é antes de mais nada, o atestado evidente de que a crise no Brasil é essencialmente uma crise moral”.

De 1937, quando Felix Valois discursou e descobriu esse neologismo, aos dias de hoje, já transcorreram mais de oitenta anos. Significa dizer que essa falta de compostura dos políticos brasileiros, com relação aos compromissos assumidos e não cumpridos, não é um problema dos dias correntes.

No passado como no presente, os políticos, salvo poucas e honrosas exceções, continuam sendo inconfiáveis e nada coerentes com que prometem nos palanques e nas tribunas, razão porque o Gabeirismo, vocábulo inventado pelo parlamentar maranhense, continua em voga e mais atual do que nunca.

Murmúrios de Mariana Luz

Os itapecuruenses vão comemorar no final de 2021, um fato auspicioso e memorável: os cento e cinquenta do nascimento da poeta Mariana Luz, nascida a 10 de dezembro de 1871.

A Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, que tem a vate como patrona, é a instituição que assumiu a incumbência de realizar o evento, com o objetivo de exaltar a figura de Mariana Luz como intelectual, poeta e professora.

A professora Gabriela Santana, cuja procedência genética vem de Itapecuru-Mirim, terra de sua genitora, a escritora e pesquisadora , Jucey Santana, em boa hora, executou um auspicioso trabalho e o apresentou ao Grupo de Pesquisa em Lírica da Graduação e Mestrado do Curso de Letras, da Universidade Federal do Maranhão, com o título de “Mariana Luz - Murmúrios e outros poemas”.

O trabalho de Gabriela, pela qualidade literária, transformou-se em livro por iniciativa da Academia Maranhense de Letras, que, em homenagem ao sesquicentenário de Mariana Luz, mulher simples que ao longo da vida dedicou-se devotadamente à iniciativa de escrever sob a forma de poemas, o que pensava e sentia pelas pessoas, pelo lugar e pelos costumes de uma época, em que vivia de maneira modesta em sua terra natal e praticava com humildade e dignidade o abençoado trabalho em favor da alfabetização dos conterrâneos.

O livro da autoria de Gabriela Santana, para melhor compreensão da vida e da obra poeta de Itapecuru, foi dividido em duas partes. Na primeira, a autora discorre com propriedade sobre a trajetória de vida de Mariana Luz, dando oportunidade aos leitores de conhecerem a história de uma figura humana feminina simples e honrada, que contribuiu de modo acentuado para alfabetizar os conterrâneos, quando as cidades do interior do Estado não dispunham e nem ofereciam escolas voltadas para esse mister, mas, ela, graças à sua grandeza pessoal e moral, não deixou o analfabetismo se propagar com espantosa velocidade na terra em que nasceu.

Na segunda parte, Gabriela, num trabalho de fôlego e de pesquisa, focaliza e traz a lume a obra poética de Mariana Luz, com os poemas conhecidos e publicados com o título de Murmúrios em duas edições anteriores e os inéditos encontrados em jornais daqui e alhures, nos quais a sua grandeza de sentimento ficou registrada, razão porque recebeu convite e ingressou na Academia Maranhense de Letras, tomando posse a 10 de maio de 1949, a respeito da qual o escritor maranhense e membro da Academia Brasileira de Letras, Coelho Neto, quando esteve no Maranhão em junho de 1899, fez questão de visitar a cidade de Itapecuru somente para conhecê-la.
Eu, que tive a ventura de ser por ela alfabetizado, a tive o privilégio de quando secretário de Cultura do Maranhão, em 1990, mandar reeditar o livro Murmúrios, pelo Sioge, que se encontrava literalmente sumido e ignorado pelo mundo literário.

Em tempo: o livro de Gabriela Santana será lançado hoje, às 16 horas, na antiga sede da reitoria da Universidade Federal do Maranhão.

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