Artigo

Palavras que nos faltam

José Ewerton Neto *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Quantas palavras existem na língua portuguesa? Por maior que seja o registro das mesmas, um dicionário em forma de livro será sempre insuficiente. Sim, porque representar tudo o que se pensa em dizer não se simboliza em palavras que caibam em qualquer livro, mesmo gigante. Maior ainda é o universo de palavras que não existem, das que não foram ditas, das que precisam ser ditas.

Tempos atrás um interessante livro da editora Conrad: Tingo- O incrível universo das palavras que a gente não tem trouxe um incrível dicionário de palavras cuja semântica equivalente é inexistente em nosso idioma. Como nos fazem falta essas palavras! Escolhemos algumas:

1.Scrotarsi (italiano)

Significa ir embora de um lugar por não suportar a presença de alguém. Observe que a expressão ‘sair à francesa’, existente em nosso idioma, traduz a ação, mas não o motivo que a gera, não sendo, portanto, a mesma coisa.

Como nossa vida se simplificaria caso tivéssemos o dom da expressão Scrotarsi para nos socorrer em certos momentos! Do jeito que a vida se encontra, tão cheia de gente escrota, especialmente depois da Pandemia, ela traria, de quebra, a vantagem de poupar até carta de suicídio. Scrotou-se! Ponto final.

2. Cazar (espanhol)

Significa chutar o gol adversário em vez de chutar a bola.

Enquanto a palavra casar com s vai ficando cada vez mais fora de moda em nosso país, cazar com z (de outro idioma) se torna cada vez mais comum. Antigamente havia um tal de craque que casava com a bola e, como dizia Nelson Rodrigues, a chamava de querida. Tempos de Pelé, Garrincha e Rivelino que não voltam mais substituídos precariamente por simulacros de craques, carentes da mesma desenvoltura com a bola. Por isso virou moda os técnicos mandarem cazar, ou seja, no popular, baixar o sarrafo!

3,Biodegradabili (italiano)

Palavra que serve para definir uma pessoa que se apaixona sempre facilmente.

Eis outra expressão que nos falta. A paixão é aquele momento divino em que um entra com a farsa, outro com a ilusão e Deus com a compaixão, o que não evita que as mulheres (principalmente elas, de natureza sensível e arrebatada) acabem se apaixonando. Daí que o termo lhes seria muito útil porque não precisariam classificar a si mesmas como carentes ou melosas. Melhor ser biodegradável do que descartável!

4.Ilunga ( em tishiluba)

Atribui-se a quem perdoa uma primeira ofensa, a segunda, mas jamais uma terceira.

A bem da verdade, no Brasil não dá para ser ilunga. Isso porque, pelo fato de sermos brasileiros somos condenados a perdoar a primeira, a segunda, a terceira e assim indefinidamente. Aprende-se isso no trânsito, depois nas escolas, depois no trabalho até ficarmos catedráticos em perdoar. No Brasil se perdoa de marginal a pit-bull passando por corrupto da lava-jato a feminicida, (que se livram da cadeia com metade da metade da pena inicial ).

No Brasil somos tão especialistas em perdoar que perdoamos antes pelo sofrimento que vão nos impingir depois. Nossa sina – até o final dos tempos- é perdoar, porque se fôssemos ilungas, aí sim. Coitados deles!

* É autor de O entrevistador de lendas

ewerton.neto@hotmail.com


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