Artigo

Violência federal

Lino Moreira *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Vejam só a falta de educação, vista com frequência durante o mandato do presidente Bolsonaro. Ao ouvir, quando chegava a evento em Guaratinguetá, pergunta de uma repórter de emissora de TV local sobre o uso e máscara, que ele não usava, teve um ataque de fúria histérica. Depois de mandar a repórter “calar a boca”, atitude típica de sua misoginia compulsiva a cada dia mais doentia, e gritar até com seu próprio gado, completou com um linguajar camoniano e postura de franciscano com sandálias de couro, dos candidatos a santo: “Estou sem máscara em Guaratinguetá, tá feliz agora? Essa Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa. Cala a boca. Vocês são uns canalhas. Vocês fazem um jornalismo canalha, canalha, que não ajuda em nada”. A repórter lembrou ao pai dos meninos mimados 01, 02 e 03 que o uso de máscaras é obrigatório em São Paulo.

Lembremos agora disto. Muito antes de se eleger presidente Bolsonaro já ameaçava as organizações Globo. Dizia que iria acabar com o grupo, como se ele tivesse poder para tal, por meio de decretos, ignorando que existe uma hierarquia das leis, pela qual decretos não podem revogar leis e leis ordinárias não podem alterar constituições. Ele certamente pensava e pensa em ser ditador. Porém, pelo jeito da onda contra Bolsonaro, aumentando sempre, como visto pelas últimas manifestações de rua contra ele, o mais provável é sua volta para casa antes do estabelecido no seu mandato.

Se os sem máscaras prejudicassem apenas eles mesmos ninguém se importaria e os lamentos seriam escassos. Mas não é assim. Por terem entrado na escola, mas as escolas não terem entrado nele, esse pessoal se mata e mata muita gente, tornando-se, assim, esses suicidas, cúmplices de Bolsonaro na sua jornada para acabar com a doença, acabando com as pessoas. É como um imbecil com ares de sabichão assegurou uma vez: “Para aumentar a renda per capita de um país, calculada como a razão entre a renda nacional e sua população total, basta diminuir o denominador dessa razão, matando parte da população, precisamente os velhinhos pensionistas do INSS”. Raciocínio edificante, esse.

Os problemas políticos hoje vividos pelo Brasil têm um componente estrutural ligado a nosso arranjo institucional, mas está, igualmente, ancorado no oportunismo de um candidato a ditador sem conhecimentos mínimos necessários para liderar um país da importância do nosso e cuja personalidade contém elementos antidemocráticos de peso. Ainda mais. Os traços de psicopatia apresentados por ele, a paranoia, a indiferença com o sofrimento alheio, capaz de levá-lo a adotar políticas francamente genocidas, o sentimento de bunker, de estar cercado por inimigos o tempo todo, tudo o faz o dizer coisas como “e daí”, “não sou coveiro” e ser o pior presidente da história do Brasil, por qualquer critério que se queira adotar. Ele veio para destruir, não para construir.

Um dos aspectos mais estranhos dessa história é ver pessoas em outras circunstâncias consideradas bons cristãos, bons cidadãos e pais exemplares, apoiarem os crimes de Bolsonaro, tendo por base uma imensa carga de preconceitos contra quem se recusa a normalizar as ameaças às pessoas que se recusam a aceitá-las. Mas, devemos reconhecer, um canudo universitário não faz ninguém de índole violenta ser um pacifista na vida nem ter preocupações com o bem-estar da sociedade. Para ele basta sua família estar “de boas”.

* PhD, Economista


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