Artigo

Brasil, disneylândia da morte

Luiz Thadeu Nunes e Silva *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Em meio a tanta incerteza diante da pandemia mais letal dos últimos cem anos, havia uma certeza: cedo ou tarde o Brasil chegaria à marca das 500 mil vidas perdidas para o novo coronavírus. Chegou rápido: sábado, 19/06, às 14:18 hs, o Brasil atingiu a obscena e nefasta cifra de vidas ceifadas por um vírus, que há pouco tempo nós nem sabíamos de sua existência.

O coronavírus fez estragos no mundo todo, mas achou um terreno fértil e convidativo para se multiplicar no Brasil, com a cumplicidade de nossas autoridades, práticas de uma população que teima em desobedecer leis, normas, decretos. Continuamos índios. Essa pandemia veio avivar em cores fortes que somos seres indomáveis. Não podia ser diferente, chegou a conta. Colocar a culpa somente nos dirigentes é injusto. Mas o presidente Bolsonaro, com seu comportamento impulsivo e errático tem enorme parcela de culpa. Coronavírus e Jair Bolsonaro duas tragédias, que por uma dessas ironias da vida se encontraram, resultando em catástrofe. Não sou leviano de chamar o presidente de genocida, mas seu comportamento irresponsável, insensível, impiedoso, nefasto, seus maus exemplos contribuíram para potencializar essa hecatombe. Bolsonaro, já disse que não é coveiro, e nunca visitou um hospital. Quando abre a boca é para zombar. Seu deboche é aviltante, um escárnio; além de brigar o tempo todo com a ciência, negando-a, e levianamente espalhar fakes news. Tudo que não se espera de um chefe de uma nação.

O Brasil que já foi exemplo para o mundo como país que tem expertise em vacinação. Hoje, com querelas por todos os lados, perdemos tempo e energia, e tardiamente começamos a vacinar. Milhares de vidas poderiam ter sido poupadas. O começo da vacinação, em 17/01, foi postergada, amadora e capenga, uma verdadeira operação Tabajara.

O presidente sabotou as medidas de distanciamento, boicotou a compra de vacinas e segue firme em cruzada contra o uso de máscaras. O comportamento do mandatário-mor é grotesco, acintoso e criminoso. Nem ao atingir 500 mil perdas, Bolsonaro emitiu nota de pesar, se solidarizando com as famílias enlutadas.

Quantos milhares de mortos mais teremos de enterrar antes que nos convençamos de que um governo que, por incúria, deixou morrer meio milhão de pessoas? Em pouco mais de um ano, o Brasil perdeu para a Covid-19 o equivalente ao número de vidas que perde para a violência a cada dez anos, um dos nossos maiores problemas sociais. Somos também o segundo país, atrás do Peru, com maior número de mortes por milhão, com população acima de 10 milhões de habitantes. Corremos o risco de passar o número de mortos dos EUA, com população maior.

Me impressiona como o Brasil, país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza se tornou um imenso cemitério. Aqui o vírus fez a festa, encontrou sua disneylândia. Sem responsabilidade do governo, nem mudança de comportamento das pessoas, logo vamos dobrar essa tragédia. Continuamos a morrer como moscas. Viver no Brasil ficou perigoso. Não seríamos o centro da pandemia, se não fôssemos o epicentro da ignorância. Aqui a idiotice é mais contagiosa do que o vírus Sars-Cov-2. Alguém tem que pagar por isso.


Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes

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