Editorial

Medo de violência

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Não causa surpresa a revelação de uma pesquisa internacional, do Global Peace Index (Índice de Paz Global), divulgada ontem, 17, informando que o Brasil é o país que registrou mais alto grau de medo de violência, com quase 83% da população afirmando temer ser vítima de um crime violento. Os dados são publicados todos os anos pelo Instituto para Economia e Paz. A pesquisa, realizada entre janeiro de 2020 e março de 2021, é baseada em 23 indicadores agrupados em três domínios: segurança, militarização e conflitos contínuos.

A revelação coloca em xeque o discurso do presidente Jair Bolsonaro, que prometeu mais segurança para a sociedade e combate à criminalidade. Hoje, o país ocupa a posição constrangedora de número 128 no ranking da paz, entre 163 países pesquisados. O posicionamento do país no ranking mostra uma estagnação em comparação aos anos anteriores.

O aumento de conflitos sociais e protestos foi causado principalmente pelo impacto econômico da Covid-19. Das quase 15 mil manifestações violentas e motins registrados globalmente, um terço foi contra medidas relacionadas à pandemia ou por efeitos econômicos causados pelos bloqueios e lockdowns adotados, entre janeiro de 2020 e abril de 2021.

Muitos podem questionar o levantamento e afirmar que o Brasil pode não ser o país mais violento do mundo, mas tem níveis excepcionais de violência. Para Steve Killelea, fundador e presidente do IEP, o medo da violência pode estar relacionado ao nível de denúncia dos crimes e a várias pessoas se comunicando em redes sociais. Ele aponta que 58% dos brasileiros se sentem menos seguros do que há cinco anos. O indicador vai na contramão da tendência mundial, que aponta que 75% das pessoas dizem se sentir tão ou mais seguras do que há cinco anos.

Outro ponto em que o Brasil nada contra a corrente é a taxa de homicídios, que, apesar da pandemia, cresceu no país, enquanto 116 nações reduziram seus índices desde 2008. No primeiro semestre do ano passado, 25.712 pessoas foram mortas, número 7% maior do que o registrado no mesmo período de 2019, segundo estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que compila estatísticas de criminalidade no país. Esses foram alguns dos fatores que levaram o Brasil a não avançar no ranking, permanecendo com um nível de paz considerado baixo.

O estudo aponta que, se por um lado os conflitos e as crises da década passada estão diminuindo, eles devem ser substituídos “por uma nova onda de tensão e incerteza como um resultado da pandemia da Covid-19 e do aumento das tensões entre muitas das principais potências”.

O presidente do IEP vê três áreas como protagonistas dos problemas futuros. Killelea observa que muito vai depender de quão bem o mundo vai se recuperar economicamente da Covid-19 nos próximos anos. Nesse sentido, instabilidade política e protestos violentos são as principais preocupações, principalmente em países que não conseguem se recuperar economicamente da pandemia. Além disso, a tendência de queda na militarização parece ter chegado ao fim e deve aumentar nos próximos anos.

E como o Brasil ainda vive ainda sob o forte impacto da pandemia da Covid-19, o Ministério da Saúde definiu, no Plano Nacional de Imunização, 29 grupos prioritários. Entre eles, os trabalhadores da área da saúde são os que lideram a lista daqueles que estão totalmente protegidos, ou seja, com as duas doses de vacinas recebidas: cerca de 5 milhões de pessoas - ou 20,9% do total até o momento. Na sequência aparecem os seguintes grupos: pessoas de 70 a 74 anos (17,2%), de 65 a 69 anos (15,33%), com 80 anos ou mais (14,2%), de 75 a 79 anos (12%), de 60 a 64 anos (5,2%), com mais de 60 anos institucionalizadas (1,7%), indígenas (1,02%), trabalhadores da educação básica (1,01%) e pessoas com comorbidades (0,8%).

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