Convivência

Pesquisa mostra como pais e mães se relacionam com seus filhos na pandemia

Sobrecarga materna e da classe D, aumento no tempo de convivência de pais e mães com os filhos e regressão no comportamento das crianças são alguns dados que mudaram com o isolamento social

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16
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. (família)

São Paulo - A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, com apoio da Porticus América Latina, acaba de lançar o estudo inédito "Primeiríssima Infância - Interações na Pandemia: Comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos em tempos de Covid-19", que busca entender e mapear as relações de pais e responsáveis com as crianças de 0 a 3 anos em todo o Brasil durante a pandemia.

Essa pesquisa é um desdobramento da Primeiríssima infância - Interações: comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos , lançada em 2020, com análise anterior à pandemia.

De acordo com os dados da nova pesquisa, 27% dos cuidadores relataram que a criança apresentou algum tipo de regressão no comportamento. Além disso, houve um aumento na porcentagem de cuidadores que relataram que a criança utilizou videogames, celulares e tablets durante a pandemia, contra 16% antes do isolamento.

As crianças da classe D são as que mais realizam atividades sozinhas (64%). Destas, 25% assistem desenhos e filmes na TV, celular ou computador e 39% brincam sozinhas. Elas também brincam menos com os adultos (13%), enquanto nas outras classes esses números variam de 29% a 33%, em comparação às mesmas atividades.

Nos segmentos de classe e educação mais elevados, o confinamento pode ter possibilitado maior tempo de convivência dos pais com as crianças durante a pandemia, em relação àqueles de situação intermediária. Segundo a pesquisa, 51% da classe AB1 teve mais tempo e boas oportunidades de convivência e 52% da classe D relatou que não houve alteração no tempo de convivência.

Considerando a totalidade de entrevistados, sem separação por classe social, 51% relataram ter mais tempo de convívio com a criança durante a pandemia. Destes, 39% tiveram mais tempo e boas oportunidades e 12% tiveram mais tempo, mas dificuldades para conciliar com outras obrigações. No recorte, as mães têm mais dificuldades para conciliar a convivência com a criança com outras obrigações (Pais 11% e Mães 21%). Para 33% dos pais e 39% das mães, não houve alteração no tempo com a criança.

Com base nos dados, é possível verificar aspectos nos quais a relação entre pais/cuidadores e crianças podem ser fortalecidas ou precisam ser reorientadas. Participaram da pesquisa 1036 homens e mulheres de todo o Brasil, entre 16 e 65 anos, que representam as classes A, B, C e D.

"Nós sabíamos que em um momento delicado como esse, as crianças poderiam estar expostas a situações atípicas capazes de impactar o seu desenvolvimento. Foi por isso que decidimos realizar o estudo, que mostra de que maneira a chegada do coronavírus afetou as dinâmicas familiares de cuidado e desenvolvimento da criança pequena, bem como a percepção das famílias sobre sua relação com as crianças", explica Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

A coleta de informações ocorreu em março de 2021. As entrevistas com pessoas das classes A, B e C foram auto preenchidas virtualmente, por meio de computador, tablet ou smartphone. As entrevistas com pessoas da classe D aconteceram de modo presencial, de forma a garantir a participação deste segmento populacional, de menor acesso aos suportes eletrônicos escolhidos.

Como o período de isolamento impactou diretamente a Educação Infantil, o estudo investigou também como se deu a relação entre as famílias e as unidades educativas durante a quarentena.

Mais de 85% dos respondentes de todas as classes sociais que tinham filhos na creche mantiveram contato com as unidades durante a pandemia, mesmo com as escolas fechadas. Na maioria das vezes, as principais razões para isso foram para compartilhar orientações sobre atividades escolares (86%), receber orientações sobre prevenção do contágio (82%) e ajuda para enfrentamentos da pandemia - cestas básicas e máscaras (70%).

A classe D é o grupo que apresenta maiores porcentagens em relação a nunca terem recebido orientações da escola para realizar atividades com a criança (21%) e sobre prevenção do contágio (29%).

Sobrecarga na pandemia
Como a primeira infância envolve também a relação da criança com outros adultos, a pesquisa procura entender como a pandemia impactou esses cuidadores. Nesse sentido, 23% da classe D declarou se sentir triste durante o isolamento, enquanto as outras classes variam de 7% a 11%.

"A classe D se sente mais triste, ansiosa, sobrecarregada e exausta. Os sentimentos que se destacam são sobrecarga e exaustão. Não há um único motivo para isso, mas o fator financeiro é, com certeza, um ponto de atenção, porque essas pessoas se sentiram inseguras em relação à renda familiar", explica Eduardo Marino, diretor de Conhecimento Aplicado da Fundação.

Além disso, 34% das mães se declararam sobrecarregadas, contra 19% dos pais. Em relação à exaustão, o percentual é de 36% das mães e 15% dos pais.

"Uma das hipóteses para essa sobrecarga é o acúmulo de funções. Histórica e culturalmente, o cuidado com a criança é uma tarefa que recai muito sobre a mãe. Isso foi visto ao longo da sociedade, nos mais diferentes momentos, e ainda hoje é um marcador, uma desigualdade que impacta outros aspectos da vida", reflete Mariana Luz.

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