As antigas boates

A saudade de quem curtiu boate na capital, distante da pandemia

O Estado faz uma viagem no tempo e relembra os espaços de festas em que as pessoas 'azaravam' e pensavam apenas em cair na noite adentro sem preocupação com o dia seguinte

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16
Genesis, atraia público com avançado aparelhamento de luz e som à época
Genesis, atraia público com avançado aparelhamento de luz e som à época

São Luís- Desde os tempos coloniais, passando por outras fases da história, a capital maranhense – considerando os contextos de formação da sociedade, a influência europeia (com costumes mais tradicionais) e outros fatores, sempre se pautou pela formação de encontros sociais que, com o passar dos séculos, foram modificados.

Com bailes e outras festas do gênero, no século XX – até meados da segunda metade da década de 1950 - a cidade era pautada por locais em que as festas eram consideradas reservadas e as reuniões eram marcadas prioritariamente por bebidas e um buffet incontestes.

Na década de 1960, São Luís passou a ofertar - ao público - locais em que os frequentadores iam com um único intuito, ou seja, de apenas dançarem e curtiram os hits ou canções da época.

É a partir desta viagem no tempo entre as décadas de 1960 até o início da década de 2000 que O Estado pautará uma verdadeira volta aos bons períodos dos embalos de sábado e de outros dias (em menção ao filme famoso de John Travolta).

Na reportagem, será possível contar a formação das boates e discotecas que, para os mais antigos, foram marcantes para as resenhas entre os amigos, para a paquera ou simplesmente para o pretexto na degustação de uma boa bebida.

Área onde ficava o antigo Moto Bar, no Centro de São Luís
Área onde ficava o antigo Moto Bar, no Centro de São Luís

O início de tudo – as boates das décadas de 1960

Zig Zag, 90 Graus, KGB, Pirâmide, Safari. Estas foram algumas das boates citadas pelo pesquisador Samir Ewerton que citou em seu texto, escrito em 2016 e cujo título é “Relembre a história de boates que marcaram época” estas e outras referências do gênero na cidade. Mas para adentrar neste contexto, é preciso relembrar períodos anteriores e entender o contexto citado.

Na década de 1950 e em anos mais tarde, segundo contam pessoas mais antigas, “toda sociedade maranhense frequentava o Moto Bar”. Segundo consta no texto de Ubiratan Teixeira, intitulado “O Moto Bar como referência”, publicado em O Estado em 2013, todos se reuniam no estabelecimento “uns para beber com os amigos e botar a conversa em dia; outros, para lancharem; outros ainda, para comprarem frutas frescas”.

Além de frutas, no local, havia bebidas, biscoitos, queijos finos, presuntos e outras delícias. Tratava-se, preliminarmente, de um ambiente de socialização. Porém, ao contrário de outros gêneros, o Moto Bar não era ainda um local como essência para a associação de bebida e entretenimento, aliada à dança e à boa música.

O Moto Bar – que funcionava em um prédio ao lado de uma farmácia em frente à Igreja do Carmo, era considerado um dos locais mais “charmosos” de São Luís. Era o ponto de encontro de políticos e figuras importantes da cidade. O famoso “Senadinho” da Praça João Lisboa, em que eram pautados assuntos do cotidiano da cidade, estendeu vários dos seus encontros no Moto Bar. Na mesma época, havia o Bar Athenas, na rua de Nazaré.

Das décadas de 1960 e 1970 – onde “tudo começou”

Nas décadas de 1960 e 1970, é possível apontar no período citado que o contexto de boates começou a ser descrito. Um dos locais mais falados no período, inclusive pelo colunista social Pergentino Holanda, é a Boate Zorba. Instalada no Centro Histórico, segundo pesquisa de O Estado, a Boate era o “point” do período, com festas e baladas marcantes e altamente sofisticada, dentro dos padrões das boates das grandes cidades brasileiras.

A Boate Zorba foi um dos locais do gênero mais conhecidos do período e cuja assiduidade chamava a atenção. Após a Zorba, surgiram bares com estilos boates, como Benzão e outros. Era o início da era de ouro das boates na capital.

Noitadas em estilo boate

O gênero dos bares e ambientes que uniram uma boa bebida, alimentação e outras atrações se somou aos espaços cujas especialidades eram conciliar curtição e musicalidade. Foi nesta toada que surgiram as chamadas “noitadas dançantes”, em alusão a casas que – especificamente – eram adeptas desta oferta.

Por intermédio do empresário Cláudio Vaz dos Santos, um visionário que aproveitou a tendência sinalizada na época, a partir do início da década de 1980, surgiu a Boate PH 33. A referência em termos de sigla era alusiva à Pergentino Holanda que, nos seus 33 anos de vida, promoveu 33 festas pela cidade.

A ideia inspirou o empresário responsável pelo PH33, que inaugurou o espaço na atual avenida Cajazeiras (ao lado do antigo supermercado Bom Preço, onde atualmente funciona uma igreja evangélica), região Central que “fervia” de atrações. Era o encaminhamento de locais de entretenimento nesta área da cidade. “Foi uma homenagem e, ao mesmo tempo, uma referência aos 33 eventos realizados na época de meu aniversário”, disse a O Estado o colunista social e jornalista, Pergentino Holanda.

Segundo o colunista, era um entretenimento em que a dança e outros hábitos eram mais valorizados do que uma simples degustação de bebidas ou outros modos. Era a caracterização do gênero “boate” ganhando ainda mais força na capital.

Posteriormente, diante do sucesso inaugural da boate PH33, em um centro comercial (Shopping Junior Center) na atual avenida Colares Moreira, foi inaugurada a PH83 (no antigo 707 e onde ainda funcionou a Ganf) – em citação desta vez ao período de oferta do ponto de entretenimento na capital. O local, além da ideia de boate, também recebia eventos mais renomados, com exigências específicas de trajes e indicações de festas “black tie” com recepção a grandes artistas.

Foi na PH83 que o estilista famoso Clodovil Hernandez – convidado nobre de uma das citadas badalações – perdeu o seu querido diamante de 11 quilates contido em seu colar. Segundo relatos, assim que foi especulada a perda do item, funcionários e convidados da PH83 se mobilizaram na busca pelo artefato que fora encontrado pelos envolvidos no processo.

Outras histórias marcantes de pessoas que se conheceram no local foram registradas. “Foi uma boate que, sem dúvida, marcou época e foi fundamental para a entrega e simbolismo de um gênero ou de uma tendência de boates que se confirmou com mais força anos mais tarde”, disse Pergentino Holanda.

As discotecas mais conhecidas

Além das boates dos anos 1960, 1970 e início da década de 1980, algumas discotecas também se destacaram no gênero dançante na capital. Uma delas foi, sem dúvida, a Discoteca Zig Zag – em frente à Praça João Lisboa, no Centro. Encabeçada por Gerd Pflueger e Arão Cheskis, a discoteca era muito conhecida pela animação e, principalmente, por situar no mapa dos eventos uma região da cidade que, até então, marcava por outros compromissos.

Outras discotecas também podem ser citadas, como a Tigre – na Cohama. Pensada por membros da família “Estrela”, em especial, por Estrela Neto, a discoteca permanece na memória de quem esteve por lá pela animação. Todos que estavam nela curtiam a noite, as atrações e a música de forma superlativa, sem restrições.

Houve ainda a Boate Ganf, de Zé Luís Maciel (o Zé Gaiola), também de muito sucesso e citada em listas de locais do tipo dançante. Em determinadas épocas, também foram registradas as boates Ruínas (ao lado da Ganf), a Boate Filipinho (em um bairro cujos moradores não conseguiam se deslocar, com facilidade, para outros pontos), a Boate Maré (de Moisés Silva). Esta última, apesar de não ter o mesmo requinte e nome famoso de outros estabelecimentos, era também animada e, nos fins de semana em especial, registrava grandes públicos.

Algumas boates e discotecas das décadas de 1960, 1970 e 1980

Boate Zorba

Boate Benzão

Boate PH33

Boate PH83

Boate 707

Boate Ruínas

Discoteca Zig Zag

Discoteca Tigre

Discoteca “Jaguar”

Boate Ganf

Boate Filipinho

Boate Le Cage

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