Editorial

Pandemia e movimentos grevistas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

No ano atípico de 2020 em que a pandemia do novo coronavírus mudou todo o cenário sanitário mundial e, como consequência, afetou as atividades econômicas, com o fechamento de empresas e também de demissões, suspensão de contratos de trabalho e redução de jornada e salário, ainda houve registros de movimentos grevistas no país.

Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta um panorama das greves ocorridas no Brasil em 2020, identificando as principais características desses movimentos.

De acordo com o Dieese, ano passado ocorreram 649 greves, sendo que pouco mais de dois terços destas (64%) organizadas por trabalhadores da esfera privada; pouco menos de um terço (30%) por trabalhadores da esfera pública (funcionalismo público e empresas estatais).

No período, esse total de greves representou queda de 42% em relação a 2019, quando foram registrados 1.118 movimentos grevistas no país.

O trimestre que vai de fevereiro a abril de 2020 - e que coincide com o surgimento da pandemia provocada pelo novo coronavírus - praticamente delimita uma situação anterior, (que vem desde 2016), onde há pouca diferença entre a participação das esferas pública e privada no total anual de greves, de uma nova situação em que o número de greves da esfera pública diminui muito em relação aos da esfera privada.

A declaração do estado de pandemia provocada pelo novo coronavírus pela Organização Mundial de Saúde, em março de 2020, marcou o início de um período totalmente adverso para a ação sindical. A partir daquele mês, passou a ocorrer uma série de restrições, que reduziram drasticamente as atividades econômicas e sociais. E nesse cenário, o acentuado declínio dos movimentos de trabalhadores torna-se compreensível, com pouquíssimas chances de que uma campanha sindical seja bem-sucedida.

O estudo verificou que nos meses de maio a agosto - chamado “platô” da pandemia - houve registro de greves pelo pagamento de vencimentos em atraso. Os rodoviários que, como mencionado, viviam uma situação particular - serviço essencial, mas que passava a sofrer uma enorme queda de receitas - quase que monopolizaram esse tipo de protesto, ainda que haja o registro de greves entre trabalhadores do asseio e mesmo da saúde, nas Organizações Sociais.

Ano passado, os trabalhadores da esfera privada promoveram um número de paralisações bem maior (417 registros) que os trabalhadores da esfera pública (231 registros). Em relação à quantidade de horas paradas, que equivale à soma das horas de cada greve, também as mobilizações dos trabalhadores da esfera privada superaram aquelas da esfera pública, com uma diferença menor, no entanto: em termos proporcionais, 56% das horas paradas nas greves de 2020 corresponderam a paralisações na esfera privada e 44% corresponderam a paralisações na esfera pública.

Em 2020, 58% das greves encerraram-se no mesmo dia em que foram deflagradas e 9% alongaram-se por mais de 10 dias.

E das 649 paralisações registradas, 114 continham informações sobre o número de grevistas envolvidos (o que corresponde a cerca de 18% do total). Dessas, 66% reuniram até 200 grevistas. Paralisações com mais de 2 mil trabalhadores constituíram pouco mais de 5% dos protestos realizados.

Em 2021, também ano de pandemia, com a segunda onda, movimentos idênticos continuam a ocorrer pelo país.

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