Artigo

Carta às mães solos

Fábio Nahuz *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Imaginamos o quanto está sendo difícil segurar a barra apesar de todo o amor, dedicação e afeto envolvidos. Se antes a conta já não fechava, agora está ainda pior. As dificuldades são as mais diversas: a luta para não faltar o básico, a ausência de um teto e o desemprego têm deixado vocês em uma situação de ainda mais delicada. Tudo isso devido à crise de saúde que assola o país e impõe o isolamento social como medida para tentar evitar a propagação da covid-19.

São mais de 11 milhões de mães solo no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ser mãe solo é ser a única responsável por cuidar dos filhos, além do desafio de ter que conciliar essa tarefa com o trabalho (quando há!), para garantir a parte financeira da família.

A situação é ainda mais difícil para as mães que estão contando apenas com o Auxílio Emergencial do Governo Federal que depois de meses paralisado, volta – ainda menor –em quatro parcelas de R$ 150 a R$ 375, dependendo da família. Em alguns casos, ainda mais desafiador, a pensão que já era difícil receber, vem deixando de ser paga com a justificativa da crise econômica em decorrência da pandemia.

Sabemos que a experiência vivenciada por vocês chega a ser desumana, violenta, de solidão e sobrecarga. As crianças estão dentro de casa, e sabemos bem em quem recai essa responsabilidade, ainda mais no caso de mães solo, que já não têm com quem dividir essas demandas da criação dos pequenos. A questão agora não é nem mais segurar a curva, mas não cair do precipício, porque vocês já estavam na beirada antes mesmo de chegar o coronavírus.

Além da sobrecarga e das dificuldades financeiras, o corte de 98% dos recursos destinados ao Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), que é responsável pelo financiamento da faixa 1 do Casa Verde e Amarela, caiu como uma bomba sobre o colo de vocês. A esperança de ter uma moradia parece estar cada vez mais longe e o “viver de favor” continua sendo real.

A medida do Governo Federal atinge, principalmente, à população mais pobre, podendo até mesmo ter um aumento das populações em situação de rua. Isto porque, além do cenário pandêmico atual e do crescente desemprego no país, o corte irá impedir a conclusão das obras de mais de 200 mil unidades habitacionais. São mães solos que veem um sonho indo embora.

A decisão do presidente que deixou o programa habitacional com apenas R$ 27 milhões (Inicialmente R$ 1, 540 bilhões), deve afetar mais de 250 mil empregos diretos e 500 mil indiretos ou induzidos. São mulheres, mães e provedoras que poderão ficar sem renda, sem ter o que oferecer aos seus filhos.

Vocês estão cansadas de serem malabaristas da vida, mas nunca cansadas de serem mães. À vocês, o nosso respeito e empatia. Obrigado por serem uma inspiração. Obrigado por nunca desistirem do amor. Obrigado por todo o seu trabalho árduo. Não sabemos onde estaríamos sem que vocês nos permitissem conhecer as suas histórias.

* Presidente do Sinduscom

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