Opinião

Sobre vencer e perder

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Nos últimos dias, o Brasil se dividiu em duas frentes. Uma se desdobrava em votos para levar ao ponto mais alto do pódio do BBB uma jovem nordestina e sofredora, e outra colocou os joelhos no chão, pedindo pela vida do maior humorista da atualidade. Foram dias de angústia e incerteza.

Mas, por que o Brasil sofreu tanto por duas pessoas que não eram seus íntimos?

Talvez este ano de pandemia, que forçou o mundo a se resguardar - acabou com quase toda e qualquer diversão popular, forçando as populações a se voltarem para seus lares e enxergarem sua rotina e mazelas de uma maneira nunca vista antes -, tenha deixado os corações mais empáticos, tenha deixado a maioria com fome de viver.

De fato, o brasileiro, quando votou e rezou, tinha o mesmo pensamento, vencer.

Pela nordestina, a gana era de mostrar que o humilhado pode, sim, ser exaltado, que ela era verdadeira e todos os demais é que estavam errados. Era uma questão de honra provar que uma pessoa pode ser boa, mesmo quando todos acham que é apenas jogada de marketing, e que eles é que eram maus.

Com relação ao humorista, a luta era mais dura, contra a doença que isolou e matou milhares, forçou a todos andarem mascarados e não parece ter vontade de ir embora tão cedo. Era uma queda de braço com a morte. Era como se a sobrevivência dele mostrasse que todos eram mais fortes do que esse mal, que ainda havia esperança.

Na mesma noite veio a alegria e a dor. Não houve tempo de respirar, separar os sentimentos e tampouco digerir as duas realidades. E o brasileiro, que se apegou às duas lutas como se daquilo dependesse sua vida, não sabia se ria ou se chorava.

Se por um lado se sentiu vitorioso por ter levado a humilhada à exaltação, por outro se sentiu fraco e perdedor, por nada ter podido fazer para salvar aquela vida, que se tornou - em algum momento - o símbolo da resistência à famigerada doença.

Enquanto o povo conseguiu vencer a xenofobia, a inveja e a rivalidade, elevando Juliette Freire a categoria de fenômeno do BBB, este mesmo povo não conseguiu salvar a vida de Paulo Gustavo, com suas orações e lamentos.

A primeira luta era bem mais fácil. É incrível como o voto popular pode mudar tudo. Pena que, ao que parece, o povo só o use bem quando não é para mudar a sua vida para melhor, mas a de uma BBB.

A segunda luta, porém, era árdua e, infelizmente, não dependia do povo, que só podia mesmo pedir e pedir. Era algo além da decisão popular. Foi difícil aceitar que a vida se esvai de um corpo debilitado pela enfermidade, que não há dinheiro que pague a saúde e que a única certeza da vida é a morte. Foi entender que a doença venceu, porque já se alastrou pelo país que não acredita nela e não soube cuidar do seu povo.

E o Brasil, que já estava lascado, chorou. Chorou porque não vai mais ter o que assistir nas noites cansativas de pandemia, não vai ter mais outras vidas para cuidar, além da sua, não vai mais ter um objetivo como aquele, de fazer vencer o que acha certo.

O Brasil chorou, porque perdeu o humor mordaz e atrevido de um artista único, porque ele não vai poder ver seus filhos crescerem, porque não era um reality e seu voto não podia trazê-lo à vida novamente, e era tudo o que todos queriam.

Agora, além de lascado e sem BBB, o Brasil está menos alegre, e ainda sofre com a doença. O povo já sabe que pode mudar vidas, mas não tem ingerência sobre a morte. Que pena.

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