Artigo

Três livros bons

José Ewerton Neto *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

TONY&SUSAN, de Austin Wright, romance.

Trata-se de uma história dentro de outra, onde os personagens criados têm tudo para serem projeções do triângulo amoroso vivido pelo personagem-autor que os cria. Um tipo de narrativa empregado aqui e ali, mas que somente poucos logram a habilidade necessária para evitar que a mesma se torne artificial e enfadonha. Austin Wright se prova um mestre nessa técnica, fazendo com que uma trama (a ficção) se intercale de tal forma com a história verdadeira (real) que ambos se tornam uma só experiência de vida, intercalados e indissociáveis. A maestria do autor faz do leitor um refém em dose dupla do encantamento progressivo com o mistério e o drama das duas histórias (uma tragédia policial e outra sentimental) caminhando em duas direções, mas em dado momento se entrecruzando - um uníssono de vozes dilaceradas! Para os que quiserem uma referência mais abalizada que a minha, já que o autor do livro, Austin, é praticamente desconhecido no Brasil retiro de Saul Bellow os elogios da contracapa: “Esplendidamente bem escrito - o que menos se espera de uma história de sangue e vingança. Lindo.”

O SECRETO SILÊNCIO DO AMOR, de Álvaro Alves de Faria e Denise Emmer, poesia.

A leitura deste livro, nestes trágicos dias, tratando de amor, remete a uma alegoria quase inevitável, por contraponto, a um exercício que poderia se intitular O amor nos tempos da Pandemia. Seria até apropriado não fosse o amor e sua abrangente semântica muito além de vírus, desventuras, êxtases e estações. Pois é justamente dessa universalidade do amor, de sua preciosidade e transcendência, que trata este livro, curiosa e sutilmente desenvolvido pelo diálogo poético entre duas pessoas. Assim, pela primeira vez (que eu saiba) “O amor, sublime, amor” é tratado a quatro mãos com uma delicadeza que enleva e encanta, de forma que jamais seu tema se torna obsessivo, apesar de permanente, graças ao talento dos parceiros que se mantêm a salvo desse risco, estabelecendo de verso a verso e de poema a poema a renovação dos múltiplos significados da palavra e do sentimento do amor.

O TORMENTO DE SANTIAGO, romance, de Lourival Serejo

Um dos contos policias mais conhecidos, segundo Mário Prata, é a história de Adão e Eva, porque traz três dos elementos principais que caracterizam uma narrativa nesse gênero. O crime cometido (o pecado), o mistério sobre a motivação, e o julgamento. No caso do romance de Lourival Serejo o julgamento é a parte que tem maior relevância já que, numa abordagem singular, é na análise psicológica do modus vivendi de cada um dos juízes que o autor fornece a chave para que o leitor tente captar o mistério que se avoluma diante do crime e da punição. É nesse ponto que a novela sai dos contornos da aventura policial para se dotar de uma abrangência filosófica e jurídica a ponto de deixar o crime em segundo plano para estornar, dos perfis descritos, a capacidade que o elemento humano tem para o bem e para o mal e, consequentemente, para o crime.

Dissecando os julgadores ao invés do criminoso, de repente expostos sob o mesmo manto da fragilidade humana que nos faz cometer crimes e sermos julgadores, o mistério que cada ser humano é aparece ostensivamente nas máscaras exibidas para a sociedade, descritos com sutil ironia pelo autor que, com originalidade, consegue reverter a tônica da narrativa policial deixando o imprevisível por conta do leitor.


* Autor de “O ofício de matar”

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