Entrevista

Luis Augusto Cassas: 40 anos de dedicação ao verbo

Em tempos de pandemia, Luis Augusto Cassas lança dois livros de poemas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16
Poeta Cassas se  alimenta  da palavra
Poeta Cassas se alimenta da palavra (Cassas)

São Luís - Luis Augusto Cassas, com os livros “Quatrocentona: Código de Posturas e Imposturas Líricas de São Luís do Maranhão” - já disponível na Livraria Amei, do São Luis Shopping - e “República dos Becos e Novos Poemas” - que sairá em breve - atinge a safra de 25 livros inéditos. O poeta tem mais de 24 livros publicados. Pertenceu em sua juventude ao Movimento Antroponáutica, com Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Valdelino Cécio e Chagas Val.
Sua poesia é comentada e estudada por Marco Lucchesi, Ledo Ivo,Josué Montelo, José Mário da Silva, Ivan Junqueira, José Chagas, Ferreira Gullar, Carlos Newton Junior, Monja Coen, Frei Betto, Leonardo Boff, Marcelo Coelho, Fernando Abreu, Marcia Manir Miguel Feitosa, dentre muitos outros. Na entrevista abaixo, ele fala sobre poesia e suas mais recentes produções.

- Como está seu processo criativo durante a pandemia?
Cassas - Poesia é a arte de nos tornar humanos. Descobrir o material de que somos feitos. Nosso compromisso é com a palavra fundadora, os megatons da beleza, as causas perdidas, o aperfeiçoamento do ser e da palavra, a percepção não percebida, o invisível elo de nossa vida com a subterraneidade, o espírito que anda, o canto da vida. E como não poderia deixar de ser, o vento, o irrecusável vento. Como esquecer o assobio da ilha, o sopro mercurial daquele que formula o imaginal e o imaginário e instaura todas as coisas? Sou um poeta e poetas não temem exibir a pele malhada de ausência de sol no exercício do recolhimento. Distanciamento social, técnica para capturar o essencial é matéria que nos especializamos na fundação do mundo, nosso charme pré-pandemia.

- Fale sobre “Quatrocentona: Código de Posturas e Imposturas Líricas da Cidade de São Luís do Maranhão” e “República dos Becos e novos Poemas”, seus livros que serão lançados.
Cassas - Toda essa conversa furada é pra falar de poesia e livros novos. Quebro o pundonor lírico e abraço a verve dos amigos compositores, pra dizer que estou com dois novos livros na praça, são muito bonitos e sei que vão arrasar. Confira. São: ‘Quatrocentona: Código de Posturas e Imposturas Líricas da Cidade de São Luís do Maranhão’, já editado em bela publicação da Editora Arribaçã, paraibana, do poeta Linaldo Guedes, expostos e encontrados em exibição nas prateleiras e vitrines da Livraria Amei, no São Luís Shopping. O outro, ‘República dos Becos e Novos Poemas’, preferiu guardar-se para o convívio com o irmão lírico, chegando um pouco mais tarde. Puro charme de quem chega atrasado. Daqui a breves meses, estará com vocês. Enquanto aguardam, abasteçam suas bibliotecas particulares. Com ‘Republica dos Becos e Novos Poemas’, comemoro 40 anos de poesia, desde que a primeira edição foi lançada em 1981, pela Editora Civilização Brasileira. E meu coração freme. Afinal, faz 40 aninhos que estreei no verbo. E aos 68, o corpo assume seu totem de jornadas - estala entre consciência e tempo.

- Um dos livros é em homenagem aos 40 anos de sua primeira publicação. Trata-se um relançamento?
Cassas – ‘República dos Becos’ foi rebatizado e acrescido com novos poemas. Muito de sua fauna e flora atualizou-se com a verdadeira essência de seu autor, cada vez mais próximo a conjunções cosmolíricas que navegam entre a sabedoria do céu e da terra, formando esse complexo indivisível que se chama mundo. Sou o que estava prenunciado em meu primeiro livro com todos os desdobramentos de quem sempre abraçou a mudanças, preservou o essencial e seguiu em frente. É o que, de início, posso dizer. A cidade de São Luís do Maranhão tem sido o meu universo lírico essencial. A Casa de Deus e da Mãe Joana. Aprendi com suas pedras, águas salgadas e doces, becos, linha do horizonte, entardeceres e canhões do silêncio, o ruido das matracas e pandeirões, o rodopiado das meninas ao redor do fogo, os sabiás e bem-te-vis, o inconsciente poético, o peixe pedra e as ladainhas da sabedoria do povo simples e bem-humorado, os poetas de esquinas, seus artistas e loucos. Com eles, aprendi a maneira de caminhar, olhar para os lados, ser solitário e multidão, ser anjo e legião. Aqui eduquei-me a cultivar a palavra com a pura força da interioridade de quem não teme fuxicos e jamais receia pertencer a grupos, associações, academias, pra poder ser alguma coisa. Sou apenas o que sou. O que Deus e meus pais me forneceram e o que a cultura e a dedicação me ajudaram a ser, minhas tragédias e alegrias, servindo a todos o ágape da plenitude lírica de que estou possuído. E basta.

O BRASÃO

Luis Augusto Cassas

a cidade somos nós/ nós somos a cidade
somos a luz e a sombra/ o caminho e a verdade
somos o bem de que nos falam
e a saudade que maltrata/
mas somos também o mar
que se agiganta nas sacadas
de distância azul e alfa


a cidade somos nós/ nós somos a cidade
tradições dependuradas na memória/
sabiás cantando/amores na fornalha/
peregrina a luz do equador
bailando nos campos de batalha/
bronzeia a nossa alma


a cidade somos nós/ nós somos a cidade/
cada pedra lançada contra nós
é por nós arremessada/
cada ruína que brota da morada
são mágoas por nós entrincheiradas/
cada história vivida em nosso peito
é a verdadeira história revelada


a cidade somos nós/ nós somos a cidade
Deus deixou inconclusa a criação
pra que os criativos os poetas & sonhadores
pudessem conclui-la/ofertá- a à humanidade/
artistas são trabalhadores da luz original
sopram nas narinas do barro tropical
defendam-na com o aço das palavras


(do livro “Quatrocentona: Código de Posturas e Imposturas Líricas de São Luís do Maranhão”, Arribaçã Editora,2021)

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