Artigo

Piscina sem água

Lysipo Gomide *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Recentemente, me perguntaram se a crise desencadeada pela Covid-19 se torna um problema mais fácil de suportar por se tratar de uma questão vivenciada por toda a população. Apesar de estarmos no mesmo barco, vejo que a situação atinge pessoas e negócios com intensidades diferentes. Há, sim, um sentimento de coletividade no fato de que todos nós, brasileiros e cidadãos do mundo, estamos atravessando este momento desafiador juntos, como nação ou como seres humanos, mas a equidade para por aí.

A crise econômica tem atingido de forma mais aguda aqueles com guarda-chuvas menores. Isto é, pessoas cuja renda já estava no limite da subsistência ou, então, que ficaram sem recursos financeiros, devido à necessidade de realizar o isolamento social. Esses indivíduos, hoje, contam com a boa vontade do governo federal, do trabalho dos governos locais e da caridade da sociedade, o que são elementos irregulares, pois vem e vão.

Portanto, para esses cidadãos, a falta de respaldo faz da crise da Covid-19 um desafio muito maior do que para aqueles que estão em casa, trabalhando de home office, com as crianças na aula on-line, restringindo viagens e eventos sociais, mas com as contas em dia. Podemos imaginar essa história como saltar de uma plataforma olímpica: alguns pulam com a piscina cheia e muitos, infelizmente, se jogam em um espaço sem água.

No mundo dos negócios, os desafios não são diferentes. Alguns setores praticamente pararam, como aviação e hotelaria. Outros, por outro lado, estão crescendo, como os de saúde e construção civil. Entretanto, independente do segmento, a chegada do coronavírus em território brasileiro foi responsável por gerar pânico entre todos os empresários.

Dentro do meu setor, sempre tentei transmitir calma, dizendo que grandes atacados são grandes clientes para indústrias, bancos e prestadores de serviços, portanto, tais parceiros farão de tudo para que tal empresa continue viva, saudável e produzindo.

Para as empresas menores, a perspectiva é diferente e o desafio é proporcionalmente muito maior. Sem crédito disponível e sem a mesma atenção de seus fornecedores, os pequenos negócios também dependem do apoio governamental para continuarem vivos, através de empréstimos subsidiados, prorrogações de impostos, flexibilização das regras trabalhistas e outras medidas auxiliares.

Vale ressaltar que, dentro dessa atmosfera que vivemos, é importante que a sociedade tenha conhecimento da responsabilidade em manter as empresas locais, do seu bairro e de sua cidade, em funcionamento. Empresas que geram empregos e que mantém a economia irrigada. Uma parte relevante do dinheiro gasto em um município migra para os grandes centros financeiros, onde ficam as capitais (impostos), os bancos (empréstimos e financiamentos) e mesmo os fornecedores (indústrias, atacados e cada dia mais o e-commerce).

Neste cenário, temos o poder de comprar de comerciantes locais e, com isso, fazer com que a economia da cidade se movimente para voltar a crescer. Assim, evitaremos viver em uma cidade fantasma.

* Presidente do Sindicato do Comércio Atacadista do DF (Sindiatacadista-DF)

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