Artigo

As casas de Ana Jansen

Euges Lima *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

No último dia 23, fui convidado por uma equipe de TV para visitar o sobrado da Avenida Pedro II que acabou de ser restaurado e onde está sendo instalada a nova sede da JUCEMA (Junta Comercial do Estado do Maranhão), o prédio está lindo, mais um vetusto imóvel que revive, preservando assim o nosso valioso patrimônio histórico arquitetônico dos séculos XVIII e XIX.

A pauta era “Ana Jansen”, o casarão foi uma de suas residências, resolvi aceitar o convite, pois era uma chance de conhecer o interior desse imóvel histórico, que conhecia só por fotos de livros antigos, além do que falar sobre Ana Joaquina Jansen Pereira, ou simplesmente Donana Jansen, como era carinhosamente conhecida, é sempre um prazer e uma oportunidade de tentar decifrar esse personagem tão enigmático e dual da nossa história e cultura.

Afinal, Ana Jansen era realmente esse arquétipo que foi criado com o tempo, por meio das lendas de uma matrona escravista cruel e sádica de um Brasil Imperial ? Ou era apenas uma mulher de carne e osso que veio de origem humilde, marginalizada e que conseguiu vencer todas as adversidades que a vida lhe impôs, uma mulher de sucesso, que se tornou rica, poderosa e respeitada pela sociedade patriarcal, escravista e provinciana da São Luís oitocentista? Mas que também foi muito combatida, onde em geral esse papel de protagonismo e mando, não eram desempenhados pelas mulheres? Ana era uma mulher do seu tempo, obviamente, mas não viveu como tal, rivalizou com os homens poderosos de sua época e em alguns aspectos, agiu como os homens do seu tempo, essas são suas singularidades e por isso ela se imortalizou, seja na nossa história, seja no nosso imaginário coletivo.

A poderosa Ana Jansen ficou viúva do seu primeiro marido, o rico comerciante português Isidoro Rodrigues Pereira, em 1825, aos vinte e sete anos e tinha então sete filhos, seis deles eram de Isidoro, o primogênito de pai desconhecido. Quando se casou era mãe solteira. Ao todo ela teve onze filhos, dois casamentos e alguns amantes, com quem teve filhos também durante sua viuvez, a exemplo do relacionamento com o desembargador Vieira de Melo com quem teve quatro filhos.

Herdou um fabuloso patrimônio, advindo daí sua fortuna a qual ela soube multiplicar muito bem. Ana era uma das pessoas mais ricas do Maranhão imperial, quando faleceu na manhã de 11 de abril de 1869, aos 71 anos. A data correta do seu nascimento é o ano de 1798 e não 1787, como consolidou a historiografia tradicional.

Proprietária de um dos maiores patrimônios imobiliários de São Luís, ela residiu nos mais imponentes sobrados de São Luís. As casas de Ana Jansen ainda estão embelezando nossa cidade até hoje. O famoso casarão da Rua Grande com travessa do Sineiro, um dos primeiros que ela residiu. O da Avenida Pedro II, que foi restaurado e que tive a oportunidade de visitar hoje. Este, ela adquiriu em 1830 da massa falida da viúva de João da Rocha Santos & Filhos, ampliando assim, a quantidade de seus imóveis.

Quando faleceu, residia no sobrado da Rua dos Remédios, hoje, Rio Branco, esquina com a Rua Tapada, de onde ditara seu testamento e para onde inúmeras pessoas, do povo e da aristocracia ludovicense se dirigiram para seu concorrido velório que durou até às 17 horas daquele dia, saindo depois o seu corpo para ser sepultado no cemitério Bom Jesus dos Passos (estádio Nhozinho Santos).

* Historiador

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