O governo russo – por meio da agência reguladora sanitária específica e do Ministério da Saúde do país – apresentará nos próximos dias à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – os documentos que, segundo o órgão brasileiro, não foram apresentados pelos institutos internacionais para autorizar o uso emergencial da vacina Sputnik V, requerida pelo governo do Maranhão.
A nova tentativa de convencimento do órgão de controle sanitário ocorre após agenda cumprida ontem entre os governadores das regiões Norte e Nordeste – dentre eles, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) - e membros do governo russo.
Dentre os documentos pendentes, estão os que comprovariam a aprovação técnica do imunizante emitida por outros países e órgãos mundiais, os que atestariam os aspectos positivos dos testes clínicos e a verificação das condições de fabricação.
O objetivo do Consórcio Nordeste, que adquiriu de forma antecipada 37 milhões de doses da Sputnik V com o governo da Rússia, é comprovar integralmente à Anvisa a eficácia da vacina. De acordo com o governador Flávio Dino, a meta é gerar a revisão administrativa ou judicial da decisão, tomada em reunião colegiada da Agência na segunda-feira, 26.
A O Estado, o presidente do Consórcio Nordeste e governador do Piauí, Wellington Dias (PT), voltou a frisar os bons resultados preliminares da vacina.
“A Rússia voltou a nos comprovar que se trata de uma vacina comprovadamente eficaz, usada em vários países e com baixos efeitos colaterais. Assim, esperamos que a Rússia possa técnica e cientificamente responder aos pontos que foram apresentados no relatório da Anvisa, que diz o contrário. Precisamos saber quem está com a verdade”, afirmou.
Horas após o anúncio de que a Anvisa reprovou o uso da vacina Sputnik V no país, representantes dos consórcios adotaram tom de cautela. O próprio governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), endossou discurso mais moderado com a decisão. Segundo ele, era necessário avaliar fundamentos técnicos para outras ações.
Auxiliares do governador consultados por O Estado e ligados também à Secretaria de Estado da Saúde (SES) seguiram a mesma linha e informaram que a condução do tema será prioritariamente feita a partir de agora pelos governadores envolvidos no caso.
Até o momento, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 14 estados enviaram pedidos de importação da vacina Sputnik V para a Anvisa.
Além do Maranhão, estão na lista os estados do Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe e Tocantins, além dos municípios fluminenses de Maricá e Niterói.
Falhas
De acordo com a Anvisa, foram identificadas falhas no desenvolvimento do produto, em todas as etapas dos estudos clínicos. Segundo o órgão, um dos itens que inviabilizaram a autorização para uso do imunizante foi que, durante avaliações preliminares, as células em que os adenovírus são produzidos e posteriormente usados na produção da vacina se replicam, contribuindo para a infecção do indivíduo.
Além disso, a relatoria do processo na Anvisa confirmou a ausência de apresentação de documentos de constatação do controle de qualidade e fabricação pela empresa russa. Segundo a Anvisa, “há ainda falhas no desenvolvimento da vacina”.
Fundo Russo vê motivação política
O Fundo Russo, responsável pelas negociações com governos brasileiros e com outras partes do mundo quanto à vacina Sputnik V, vê motivação política na decisão da Anvisa, que não autorizou o uso do imunizante. A informação é do jornalista Cláudio Humberto. O Consórcio Nordeste, a O Estado, endossou o mesmo posicionamento.
De acordo com a entidade russa, há demora por parte da Anvisa. “Infelizmente, a demora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária em aprovar a autorização para importação e uso da vacina Sputnik no país é de natureza política e nada tem a ver com acesso a informações”, escreveu a conta oficial da vacina no Twitter.
Ainda de acordo com o Fundo Russo, novas informações serão repassadas à Anvisa. Quanto ao Consórcio, de acordo com a entidade, “os atrasos são infelizmente de natureza política e não tem a ver com a ciência”.
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