Roda Viva

O lado folclórico de Sarney

Benedito Buzar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16
(ilustração Sarney)

Nos cinco livros em homenagem aos 90 anos de José Sarney, transcorridos no ano passado, não lançados e pouco divulgados por causa da pandemia do coronavírus, vanglorio-me de tê-los todos, oferecidos e autografados pelo notável homem público brasileiro, que só é idoso do ponto de vista cronológico, pois quanto à lucidez política e da arte de bem escrever, continua como nos bons tempos.
Os que tiveram o privilégio de escrever textos sobre José Sarney, sob a ótica familiar, literária e política, foram felizes em suas abordagens e apreciações a respeito da mais ilustre e importante figura humana que o Maranhão deu ao Brasil no século XX.
Mas de tudo que li sobre José Sarney nos livros em sua homenagem, parece-me que um aspecto saliente da sua personalidade, não foi lembrado pelos que se debruçaram sobre a longa e rica vida privada e pública desse maranhense.
Trata-se do lado pitoresco da política e do aspecto humorístico dos políticos, que ele, com verve e versatilidade, deixou registrado em páginas jornalísticas e fazem parte do folclore político brasileiro, que o jornalista do quilate de Sebastião Nery, correu atrás, publicou em formato de livro e ganhou muito dinheiro.
O jornalista que vos escreve, em 1989, portanto, há 32 anos, por conta de um farto material folclórico produzido pelos nossos homens públicos, publiquei um livro intitulado “Politiqueiros, Politicalha, Politiquice, Politicagem e Política do Maranhão”, que alcançou estrondoso sucesso, motivo pelo qual preparo para reeditá-lo, ainda este ano, com mais matéria do ponto de vista folclórico e melhor apresentação.
Políticos do quilate de José Sarney, Vitorino Freire, Líster Caldas, Baima Serra, Ivar Saldanha, Pedro Neiva de Santana, Epitácio Cafeteira, José Burnett e tantos outros, desfilam no livro como atores de uma fase em que o combate na vida pública era viril, mas não deixava de ser também protagonizado com boa dose de humor.
Em homenagem a José Sarney, pelos seus noventa e um anos que hoje completa, reproduzo neste pedaço de página, alguns atos e episódios que tiveram a sua participação e que o tempo se encarregou de propagar como coisas que o povo sabe por boca de um contar para o outro.

O Itaqui e Duque de Caxias
O ministro dos Transportes, Mário Andreazza, em São Luís participou de reunião técnica com o governador José Sarney, com vistas à construção do Porto do Itaqui.
Para acabar com a falácia de não haver estudos de viabilidade do porto, Sarney convenceu o Ministro dos Transportes com este argumento: - Ministro, desde os meados do século XIX, quando Duque de Caxias governou o Maranhão, por ocasião da Balaiada, legou aos maranhenses um estudo de viabilidade do Porto do Itaqui.
Sem pestanejar, Mário Andreazza autorizou a construção do porto no Maranhão com o seguinte despacho: - Quem sou eu para duvidar da palavra do governador Sarney e do estudo do Duque de Caxias.

Reclamação de Maroca
Respeitosamente, Sarney recebeu em audiência no Palácio dos Leões, Maroca, a mais famosa e importante dona de pensão da Zona do Meretrício de São Luís.
Maroca foi reclamar ao governador dos prejuízos que enfrentava por causa da criação do Maranhão Novo, após o que o Colégio Rosa Castro passou a funcionar à noite e com o qual ela não tinha condições de concorrer.

Cartões vermelho e verde
Na eleição de 1978, Epitácio Cafeteira, candidato a deputado federal, apresentava nos comícios em São Luís, um cartão vermelho para o povo não votar nos candidatos apoiados por Sarney.
No primeiro comício que participou em São Luís, Sarney contraditou Cafeteira com um cartão verde na mão e proclamou: - No Maranhão, não precisamos de cartão vermelho, que é do ódio e da mentira, mas de cartões verdes e brancos, que representam a esperança e a paz.

Velhice precoce
Quando Sarney completou 50 anos, em Pinheiro, sua cidade natal, a prefeitura organizou uma programação festiva para comemorar o evento.
O ponto alto da solenidade foi a inauguração de um busto do aniversariante, na principal praça da cidade.
Ao ver o busto, no qual parecia ser um longevo, comentou com a esposa Marly: - Daqui a cinquenta anos volto a Pinheiro para reinaugurar este busto no meu centenário de vida.

Morto-vivo
Na sua sucessão ao governo do Maranhão, o candidato escolhido por Sarney, o professor Pedro Neiva de Santana, ocupou o cargo de secretário da Fazenda.
Pela vida correta e ilibada, o professor não sofreu nenhuma restrição do regime militar. Para tranquilizá-lo quanto à eleição, Sarney deu este conselho ao professor: - Para ser governador, o senhor só precisa fingir que está morto.

Muro das lamentações
Quando surgiram os primeiros desentendimentos entre o governador João Castelo e o seu assessor de Imprensa, Edson Vidigal, este, procurou o senador José Sarney para fazer as suas queixas.
Antes de Vidigal reclamar do tratamento do Chefe do Executivo do Estado, Sarney comentou: - Vidigal, pode falar à vontade, pois no governo do Castelo só desejo ser o muro das lamentações.

Guerra aos pinguins
José Sarney é conhecido nacionalmente como um supersticioso. No primeiro dia que pisou no Palácio dos Leões, chamou o coronel Eurípedes Bezerra, chefe da Casa Militar, e ordenou: - Coronel, convoque a guarda palaciana e expurgue todos os pinguins de porcelana aqui encontrados.

Rabo de saia
Na tumultuada sucessão do governador Pedro Neiva, o senador Sarney conversava com o ex-deputado Líster Caldas, em Brasília, mas o papo não evoluía por causa da presença do padre Manoel Oliveira, à época, prefeito de São Domingos.
Como a conversa era sigilosa, Sarney sabendo que o vigário era um fanático mulherengo, disse-lhe: - Padre, enquanto eu falo com Líster, veja se consegue alguma mulher dando sopa nos corredores do Congresso.

Ratos estrangeiros
Quando assumiu o governo do Estado, José Sarney passou uns tempos, com a família, residindo na casa do sogro, o médico Carlos Macieira, enquanto o Palácio dos Leões sofria uma reforma, que visava principalmente acabar com ratos (quadrúpedes) que habitavam o Palácio.
Eram tantos e de todos os tamanhos que o governador chegou a catalogá-los e identificá-los. Os maiores eram holandeses; os médios, portugueses e os menores, franceses.

Evacuação no mato
Na campanha para governar o Maranhão, o candidato José Sarney viajava em companhia de Wilson Neiva, mas, em plena estrada sentiu vontade de defecar.
Para não sofrer vexame, invadiu mato e fez o serviço. Sem papel de qualquer natureza, limpou-se com as folhas do matagal.
Antes de prosseguir a viagem, comentou com Wilson Neiva: - Eu daria tudo para ver o Renato Archer vivendo a situação pela qual passei agora.

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