Artigo

Não há vida sem esperança

Joel Nunes *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

A vida é imprevisível. Quem acha que a domina, vive uma ilusão. Nunca saberemos o que virá, como será o nosso futuro, nossas vidas, se nossos casamentos serão felizes, se nossos filhos terão saúde, se atingiremos as metas financeiras que traçamos, nem quanto tempo teremos por aqui. Ironicamente, a imprevisibilidade da vida nos dá uma única certeza: encontraremos obstáculos no caminho. Nem o melhor e mais minucioso dos planejamentos impedirá que coisas ruins aconteçam e nem a mais positiva das pessoas acreditará, o tempo todo, que a vida é feita apenas de sorrisos. Ciclos começam e terminam. Alguns mais curtos, outros tão longos que parecem não ter fim, tal qual o que vivemos agora.

Estar no controle da situação habita apenas o campo dos desejos e das tentativas ininterruptas da humanidade em ser o centro do universo. Para nossa frustração, o universo se encarrega de nos colocar no devido lugar, apenas como mais um componente neste vasto campo de habitantes terrestres. No entanto, constatar que o controle não nos pertence não pode e nem deve ser a razão de não acreditarmos que a vida pode ser boa. A esperança é o combustível que conduz a vida e, sem ela, perdemos o nosso apelo motivacional, o romantismo que nos faz sonhar, desejar e levantar da cama todos os dias para fazer do hoje um dia melhor do que o ontem.

No decorrer da vida, a cada novo ciclo, erramos, aprendemos, rimos, abraçamos, choramos e evoluímos. Quando se trata dos ciclos desafiadores, alguns nos fazem viver momentos de luto e, naturalmente, buscamos suporte na família e nos amigos. Contudo, o cenário atual escancarou a fragilidade humana ao fazer com que todos, simultaneamente, precisem de colo, de abrigo emocional e de suporte familiar. O que vivemos hoje não faz parte dos planos de ninguém, muito menos dos cenários mais difíceis previstos no planejamento de pessoas físicas e jurídicas. Portanto, a imprevisibilidade extrema da atualidade atordoa e é perfeitamente compreensível que não saibamos lidar com isso.

Por ser um otimista e apaixonado pela vida, acredito que agora seja o momento de renascermos em nossa fé. Quando falo em fé, não abordo necessariamente a religiosidade, mas sim a crença positiva no futuro. Todo planejamento tem uma dose de esperança. Quando nos tornamos responsáveis pelas rédeas do nosso caminho, desde a escola, já pensando no futuro. Escolhemos a profissão que queremos seguir e nos imaginamos trabalhando, morando em uma boa casa, viajando e sendo reconhecidos pelo trabalho. Traçamos objetivos e esperamos alcançá-los. Isso é ou não é esperança? Batalhamos e nos dedicamos pelas nossas vidas, planejamos e temos o desejo de viver o amanhã melhor do que vivemos o hoje, de acordo ou até superando as expectativas que criamos.

As baixas que encontramos no meio do trajeto não podem tomar conta de nós, tornando-nos apáticos diante do problema. É importante processar os acontecimentos, absorvê-los e focar no nosso renascimento (qualquer problema que nos desestabiliza, nos desafia a renascer como pessoas). Seguir sempre em frente é obrigatório e um exercício vital, principalmente nos momentos mais difíceis de nossas vidas. Se a tragédia é aquilo que morre dentro de um homem enquanto ele está vivo – palavras do filósofo Mario Sergio Cortella – como podemos perder a esperança de que ainda alcançaremos nossos sonhos e voltaremos a viver normalmente? Permitir que a esperança nos escape é morrer enquanto ainda estamos vivos.

Acreditar em um mundo melhor no futuro, hoje, não é uma possibilidade, mas sim uma necessidade que nos faz caminhar enquanto aprendemos a conviver com o luto diariamente. Se estamos vivos, sigamos dessa forma por dentro e por fora e façamos da vida o que for preciso para vivê-la de forma grandiosa que a finitude dela exige de nós.


* Secretário Municipal de Saúde


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