Sem ajuda

Classe artística conta prejuízos e clama por ajuda do governo

Alguns profissionais, que dependem dos shows e da liberação de espaços para apresentações culturais, registram perdas que superam os 90%; há quem esteja na dependência de cestas básicas

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

São Luís - A pandemia do coronavírus começou de forma oficial no país em fevereiro do ano passado. No Maranhão, desde o dia 20 de março do mesmo ano, medidas de cunho restritivo no âmbito social foram necessárias para diminuir a circulação de pessoas nas ruas e avenidas e, em consequência, minimizar os efeitos da infecção pelo vírus letal.

Enquanto as determinações tiveram o cunho óbvio de proteção imunológica, dando suporte para que a administração pública aplicasse medidas para a ampliação da capacidade de leitos de internação para os casos, em especial, de média e alta complexidade, outras funções que não são denominadas como “essenciais”, mas que englobam uma cadeia produtiva maciça para a economia local foram seriamente afetadas com perdas de arrecadação, fechamento de postos de trabalho e outras consequências.

Uma das funções atingidas com as medidas sucessivas de restrição social foi inegavelmente a classe artística. Desde o primeiro dia de pandemia em São Luís, em especial, o Governo do Maranhão – com base na justificativa de que era preciso reduzir os índices de circulação do vírus urgentemente, para preparar a rede de atendimento na capital e no interior do estado – tomou medidas que impactaram na permanência de grandes aglomerações em espaços de interação social.

Os segmentos mais atingidos foram os pertencentes aos da oferta dos serviços de bares e restaurantes, cuja inclusão de programações de shows e outras atrações são uma estratégia para abranger novos consumidores e manter a fidelidade com os clientes mais antigos.

Somente em São Luís, de acordo com dados recebidos por O Estado dos representantes da categoria, 2,7 mil artistas (cantores em especial e outras funções) dependem da promoção de eventos para garantirem renda. Como são um segmento que não recebe percentual fixo de ganho financeiro, ou seja, depende da oferta do serviço (neste caso, suas músicas ou outras produções culturais), os artistas registram perdas em determinados casos que superam os 90%.

Valores que são utilizados, não somente para a compra de itens familiares básicos (como alimentação por exemplo) e manutenção dos grupos artísticos e outros custos (compra e manutenção de equipamentos e instrumentos), como para a disponibilização de espaços para ensaios não entram no orçamento da classe sem a promoção de shows.

De acordo com dados do Governo Federal, antes da pandemia, o segmento cultural era responsável entre 1% e 4% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Incentivos através de leis específicas ainda estão em execução, no entanto, sem o retorno a partir das apresentações, a classe artística perde contratos, desfaz acordos com empresários ofertantes do entretenimento e registram perda de espaço em uma sociedade que não os vê como uma função considerada essencialmente fundamental.

“Soluções” apontadas
No dia 12 de março de 2021, ou seja há quase um mês, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) anunciou a criação de auxílios emergenciais. Segundo o governador, o auxílio emergencial no valor de R$ 600 para o segmento da cultura, seria creditado até o dia 19 de março deste ano, em parcela única.

Em reportagem publicada em seu site oficial no mesmo dia do lançamento dos auxílios, o governo maranhense informara que os artistas deveriam ser reconhecidos em cadastro para estarem cadastrados na Lei Federal Aldir Blanc [que dispõe sobre ações emergenciais destinadas ao setor cultural a serem adotadas durante o estado de calamidade pública]. O cadastro, de acordo com o governo, seria mediado pela Secretaria de Estado da Cultura (Secma).

O Estado foi procurado por representantes da função que questionaram a validade do benefício. De acordo com eles, boa parte do segmento deixou de ser contemplada.

Vivendo da solidariedade
Fim de semana chega e a rotina de barzinhos e outras casas de show procurados por quem deseja curtir a noite ou a companhia de amigos, ficou em segundo plano devido à pandemia do coronavírus. Há mais de um ano este tipo de cenário, no contexto local, não é visto de forma integral. Sem as apresentações, ainda que com a promessa e comprovação de pagamentos de valores assistenciais pela administração pública, artistas falam sobre suas limitações financeiras.

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Pelo menos três representantes da classe foram ouvidos por O Estado. Um deles foi Léo Djow, conhecido por sua tocada e repertório musicais. Ele foi obrigado, recentemente, a vender alguns dos instrumentos usados na rotina, a desvincular funcionários de apoio de sua estrutura de trabalho e a recalcular as despesas pela ausência de shows. “Não é fácil você chegar a este ponto, estou chegando no limite das reservas financeiras e, infelizmente, não vejo luz no fim do túnel”, disse.

Ele - assim como outros cantores – não foi contemplado com nenhum benefício do governo. Segundo o cantor, não houve contemplação pela Lei Aldir Blanc. “Cheguei a fazer a inscrição, no entanto, o meu pedido foi negado em um primeiro momento. Tenho alguns companheiros, músicos assim como eu, que estão passando necessidade”, afirmou.

O também músico Berg Sousa foi além. Recentemente, o músico - apostando em flexibilização das medidas – investiu R$ 35 mil em novos instrumentos e acessórios técnicos. “Não sei o que fazer com o que investi. É inadmissível que o governo maranhense nos deixe nesta situação. É preciso que se faça alguma coisa, ou seja, que se amplie esse benefício”, disse.

Como sugestão, segundo o músico, seria necessária a flexibilização das medidas governamentais. “Não podemos deixar de fazer nosso trabalho, ainda mais desta forma. Poderia haver uma autorização e nós, músicos, poderíamos nos submeter a medidas de controle e higienização e, ao mesmo tempo, manter nossa atividade. Não haveria a mesma arrecadação de antes mas, pelo menos, não seria uma arrecadação nula”, disse Berg.

Perda do efeito das lives
O também músico Chiquinho Batera, assim como outros representantes do ramo musical, recorreram às lives no período da pandemia. No entanto, mesmo com a ferramenta digital, os músicos registraram queda na arrecadação, pela perda da capacidade de capitalização dos espaços digitais.

“Antes, era possível arrecadar um determinado valor. Atualmente, nem mesmo as pessoas que acompanham as lives estão com a mesma capacidade de contribuir com o nosso trabalho. Estamos todos no mesmo barco e com as mesmas dificuldades”, disse Chiquinho Batera.

SAIBA MAIS

Lei Aldir Blanc

De acordo com o Governo Federal, mediante lei promulgada no dia 29 de junho do ano passado, a União entregou aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, em parcela única, no exercício de 2020, o valor de R$ 3 bilhões para aplicação, pelos Poderes Executivos locais, em ações emergenciais de apoio ao setor cultural.

NÚMERO

2,7 mil artistas (cantores em especial e outras funções) dependem da promoção de eventos para garantir renda

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