Artigo

A lógica da insensatez ao longo da história

Elizabeth Pereira Rodrigues

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Refletia sempre com meus alunos, nos 24 anos em que lecionei História, a respeito das lições que esta Ciência nos proporciona. Discutíamos algumas provocações. Como teria sido o desfecho do imperialismo de Hitler, no século XX, se ele tivesse dado mais atenção ao insucesso de Napoleão, no século XIX? O crack da bolsa de 1929 poderia ter sido contornado se governantes americanos houvessem dedicado mais atenção à Grande Depressão de 1873? O Holocausto judeu poderia ter sido evitado se as nações do planeta tivessem firmado um pacto contra o genocídio, a partir do Holocausto Armênio provocado pelos otomanos, no início do século XX?

Por que tragédias ambientais como Brumadinho, repetem-se, de modo recorrente, sem que se aprenda com a História? A Crise do século XIV já nos havia ensinado que o desordenado manejo no trato da atividade econômica acaba por trazer consequências graves ao ambiente e ao homem. O crescimento demográfico do século XI ensejou a prática de agricultura com devastação de áreas, provocando períodos de seca alternados às enchentes; fome e peste, com matizes mais duros porque nesse contexto ocorreu também a Guerra dos Cem Anos. Em decorrência desse conjunto de fatores, estima-se que tenham morrido na Europa do século XIV, cerca de 25 milhões de pessoas, ou seja, um terço da população europeia, à época.

Marcou-me bastante a obra “A Marcha da Insensatez”, da historiadora americana Barbara Tuchman, duas vezes agraciada com o Pullitzer, retratando quatro conflitos na História, caracterizados por comando e decisões equivocadas, que acarretaram danos a milhares de pessoas: a Guerra de Troia, a Reforma Protestante, a Independência dos Estados Unidos e a Guerra do Vietnã.

O primeiro deles, a Guerra de Troia. O rei Príamo determinou a abertura das portas da cidadela ao inusitado cavalo de pau, na realidade cheio de guerreiros gregos. Será que ele tinha avó? Nossas avós lhe diriam: - Quando a esmola é demais até o santo desconfia! E mais, a partir de então, os gregos desfizeram o cerco e por mais que os conselheiros, o sacerdote de Apolo e a pitonisa Cassandra, sua filha, lhe implorassem para se desfazer daquilo, reafirmando o temor aos presentes dos gregos, triunfou a insensatez.

Em seguida, Tuchman aponta equívocos cometidos pelos Papas, que facilitaram decisivamente o caminho para a Reforma Protestante; registra a falta de senso dos ingleses, que culminou com a perda da América; enfoca a inverossímel e desastrosa condução da política externa americana, no sudeste asiático, desde a 2ª Guerra Mundial, compelindo os EUA a uma anunciada derrota na Guerra do Vietnã, que redundou no maior fiasco de sua história. Episódios que corroboram o conto “A roupa nova do rei”, de Christian Andersen: só quem se dispõe a enxergar, reconhece que o rei está nu.

Hoje, vivenciamos a repetição da gripe espanhola de 1918. Com diferenças expressivas, fruto de um avanço tecnológico-científico que propiciou imediata produção de vacinas e consequente resposta célere (historicamente falando), na corrida pela imunização e pela proteção de vidas.
Novos questionamentos são suscitados e requerem profunda reflexão, com o cuidado improvável de esquivar-se ao máximo das explicações ideológicas. Porque, afinal, o que significa lançar mão da ideologia, a não ser argumentar, escurecendo e suprimindo pontos que não interessem ao sujeito, aclarando e enfatizando elementos e aspectos que imprimam relevo ao ponto de vista a ser enunciado?

Uma pergunta dirijo a cada um.

Por que o Brasil conduz tão mal esta crise pandêmica, se comparado às demais nações do mundo? O que pode ser feito, a fim de que, registrado na História este impasse, uma calamidade desta proporção venha a ser evitada no futuro?

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