Pesadelo

Um ano de pandemia no Maranhão: o que foi e ainda é a Covid-19 no estado

Neste sábado, 20, a presença oficial do coronavírus no estado completa um ano e O Estado relembra os principais fatos ocorridos durante a pandemia

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
No lockdown a ordem era, e ainda é, ficar em casa, para prevenir contágio pela doença
No lockdown a ordem era, e ainda é, ficar em casa, para prevenir contágio pela doença (Fique em casa)

São Luís - Há um ano, com a chegada de um dos vírus mais letais da história da humanidade no país, o Maranhão registrava o primeiro caso da Covid-19. Era o começo de um pesadelo e, ao mesmo tempo, de uma oportunidade para mudanças de comportamento, de visão de mundo e de união.

A saga do coronavírus em São Luís e em outras partes do estado resume-se a entender a porta de entrada do causador no território local. Verificando os primeiros casos confirmados e de óbitos, registra-se a capital maranhense como o primeiro município com ocorrências.

A partir disso, famílias enlutadas se somaram. Diariamente, de cinco a dez óbitos são registrados em todo o estado, por causa da doença. Pouco mais de 5 mil óbitos, até o momento, foram contabilizados e, apesar do recente anúncio pelo Governo do Maranhão de aquisição de 4,5 milhões de doses de imunizantes do Laboratório Gamaleya, fabricante da vacina Sputnik V, estima-se que a pandemia ainda esteja distante de seu final no território estadual.

Durante esses 365 dias oficiais de Covid-19 no estado, além de vidas – rotinas foram modificadas. O virtual passou a fazer parte mais do que nunca do cotidiano. A relação interpessoal passou a ocorrer sob nova forma, pela tela de um computador ou de um celular ou representado por alguns metros de distância. A máscara passou a ser item obrigatório e o uso de álcool gel tornou-se comum.

Mas, para entender o que ocorreu neste período e apontar os caminhos para o futuro, é preciso estabelecer quando a doença começou por aqui. Compreender cada passo é fundamental.

Passo a passo no MA
No dia 28 de fevereiro do ano passado, dias após as festividades do Carnaval no estado, o Maranhão passou a monitorar dois casos suspeitos de Covid-19.

Segundo informações à época disponibilizadas pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), um dos casos foi identificado pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Vinhais. Segundo a SES, a paciente vinda da Itália (no continente que já era considerado o epicentro da doença no mundo) apresentou comprometimento respiratório com sintomas como febre alta, tosse e cansaço progressivo.

Ainda de acordo com a pasta, o outro caso na ocasião foi identificado na UPA do Itaqui-Bacanga, e envolveu jovem que relatou ter passado por países como China, França e Japão, onde foram identificados casos da doença. A paciente chegou em São Luís havia quatro dias e apresentou, neste intervalo, sintomas como dispneia e tosse seca.

No dia seguinte, a pasta estadual citou outra suspeita e apontou para o perfil de uma paciente (uma mulher de 22 anos, procedente de Tóquio e Wakayama, ambas no Japão). Outro caso foi novamente alvo de monitoramento no início do mês de março do ano passado. Durante as semanas seguintes, autoridades públicas permaneceram em sinal de alerta devido à possibilidade de novos casos.

Em 17 de março do ano passado, a SES descartou pelo menos 25 casos suspeitos de Covid-19 e, segundo a pasta, outras 32 pessoas eram monitoradas. Era o quadro propício para o aparecimento da doença já que, segundo fontes consultadas por O Estado à época, não havia crença de que 100% dos casos seriam descartados.

Três dias mais tarde, uma sexta-feira, 20, por volta das 20h, o Maranhão confirmava – de forma oficial – o primeiro caso de coronavírus. Na ocasião, o governador Flávio Dino (PCdoB) informou que se tratava de um homem que retornou de viagem à São Paulo e que a Vigilância Sanitária tomava as providências cabíveis.

No dia 21 do mesmo mês e ano, o Maranhão registrou o segundo caso de Covid-19. Segundo a SES, uma mulher de 37 anos que teve contato com um estrangeiro fez exame confirmando o caso de Covid-19 por um hospital da rede privada de São Luís.

Medidas preventivas, inclusive, foram anunciadas no sábado, 21, um dia após o início da incidência do coronavírus em terras maranhenses.

De acordo com o Decreto nº 35.677, de 21 de março de 2020 que estabeleceu medidas de prevenção do contágio e de combate à propagação da transmissão da Covid-19, foram suspensos por 15 dias “a realização de atividades que possibilitem a grande aglomeração de pessoas em equipamentos públicos ou de uso coletivo” e “as atividades e os serviços não essenciais, a exemplo de academias, shopping centers, cinemas, teatros, bares, restaurantes, lanchonetes e centros comerciais”.

No dia 22 de março, de acordo com boletim da SES, o primeiro caso confirmado do Maranhão apresentou sintomas “leves” e o segundo paciente teve alteração de quadro após “contato com pessoa que esteve na Europa”. De acordo com o Governo, ambos seguiam em isolamento domiciliar e apresentavam “bom quadro de saúde”.

Até aquele momento, 280 casos eram monitorados pela pasta e, destes, 177 somente na capital. No segundo dia da pandemia no Maranhão, 41 cidades do Estado apresentavam possíveis ocorrências da doença. Era um sinal claro de alerta e descontrole.

No dia 23, outros seis casos se juntavam aos outros dois confirmados, totalizando oito ocorrências. Dos seis casos mais recentes, quatro tiveram contato com o primeiro caso diagnosticado no Maranhão. O vírus se espalhava.

Outros dois dos casos mais recentes envolveram um homem de 43 anos que teve contato com caso suspeito e outro de 57 anos com histórico de viagem para São Paulo, epicentro da doença no país. Em poucos dias, o Maranhão já registrava 55 cidades com casos suspeitos da Covid-19.

Pouco mais de uma semana após o aparecimento do primeiro caso, o Maranhão confirmava 16 pessoas infectadas com a doença. A maior parte dos confirmados cumpria o chamado “isolamento domiciliar”, recomendado atualmente para quem tem a doença, em caso de sintomas menos graves.

A primeira morte
No dia 29 de março de 2020, o Maranhão registrou o primeiro óbito por Covid-19. De acordo com o boletim divulgado na ocasião pela SES, o paciente era um homem de 49 anos com histórico de hipertensão e que estava internado em unidade de saúde na capital maranhense. Na oportunidade, a pasta estadual confirmou 22 casos confirmados da doença e, destes, 14 eram de pessoas acima dos 40 anos de idade.

Todos os casos constatados na ocasião “seguiam no cumprimento de protocolo de isolamento domiciliar e dois estavam sendo assistidos por hospital da rede privada e um na rede pública”. Na data da primeira morte por Covid-19, nove dias após a confirmação oficial do diagnóstico, 434 casos suspeitos eram checados.

Os casos se tornam comuns
No dia 4 de abril do ano passado, o Maranhão registrou o seu segundo caso de óbito por coronavírus e, assim como o primeiro, de paciente morador de São Luís.

Em duas semanas, o estado passava de uma para 96 ocorrências da doença. Seis cidades apresentavam casos confirmados (São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar, Imperatriz, Timon e Açailândia). No entanto, especialistas apontavam que o número poderia ser ainda maior, já que 1.084 pessoas apresentavam suspeita da doença.

Nesta data, a taxa de ocupação de leitos de UTI, na Grande Ilha, ainda era pequena e ultrapassava os 10%. Nos leitos clínicos, o percentual era de 8%.

Superando a casa dos 100
No dia 5 de abril do ano passado, o Maranhão superou os 100 casos de Covid (133 mais ,especificamente, já que o boletim é atualizado em um intervalo de 24 horas). Das 37 novas ocorrências no Maranhão, 35 foram na capital, São Luís. No total, 1.040 ocorrências foram descartadas.

Após quase 30 dias de ocorrências, 195 municípios dos 217 do estado já apresentavam casos da doença, que se espalhava rapidamente.

Um mês após o início da pandemia oficial no Estado (dia 20 de abril de 2020), de acordo com a SES, 94,8% dos casos positivos estavam fora da Grande Ilha. A quantidade de ocorrências da doença, em quinze dias, passava de pouco mais de 100 para 1,3 mil (1.396 casos) e 60 pessoas faleceram somente nos primeiros 30 dias da Covid-19 no Maranhão.

Auge inicial da pandemia
Em maio do ano passado, considerado o auge da pandemia (pelo menos em sua primeira onda) a capital maranhense registrava 3.368 casos no dia 5, data em que foi decretado o lockdown na Grande Ilha. A cidade balneária de São José de Ribamar, situada a 32 quilômetros da capital, contabilizava 260 ocorrências.

De acordo com dados divulgados à época pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), 95,3% dos leitos de UTI estavam ocupados, o que norteou a decisão de “confinamento” na Grande Ilha e que resultou, conforme O Estado demonstrou em reportagem nos dias 13 e 14 deste mês que em queda de casos entre os meses de junho e julho de 2020 (de 45.154 casos para 40.150). Em agosto, nova queda no Maranhão para 31.014 casos.

Antes mesmo da decretação do lockdown na Ilha, o Decreto nº 35.713 de 3 de abril de 2020 prorrogou o período de suspensão das aulas presenciais nas unidades de ensino da rede estadual de educação. Outros locais como Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (Iema), a Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e a Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul) também tiveram as rotinas interrompidas.

No dia 7 de abril, duas semanas após o primeiro caso no Maranhão da doença, foram suspensos os serviços de transporte rodoviário intermunicipal de passageiros, com entradas e saídas da Ilha de São Luís. Era a tentativa do poder público de frear, em um primeiro momento, a pandemia sem sucesso.

Com os decretos e lockdown, a administração pública teve tempo para investir na tentativa de ampliação e oferta de leitos exclusivos. No entanto, o número de mortes segue alto e, com a campanha de vacinação ainda incipiente (até o fechamento desta edição, 332.384 doses haviam sido aplicadas em todo o estado), o Maranhão ainda percorrerá um “longo caminho” para sair desta crise.

SAIBA MAIS

ALGUNS DOS DECRETOS DURANTE A PANDEMIA

DECRETO Nº 35.677, DE 21 DE MARÇO DE 2020

Que estabeleceu medidas de prevenção do contágio e de combate à propagação da transmissão da COVID-19, infecção humana causada pelo Coronavírus (SARS-CoV-2).

DECRETO Nº 35.713, DE 03 DE ABRIL DE 2020

Prorroga, até 26 de abril de 2020, o período de suspensão das aulas presenciais nas unidades de ensino da rede estadual de educação, do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (Iema), da Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul).

DECRETO Nº 35.721, DE 7 DE ABRIL DE 2020

Ficam suspensos, a partir das 7h do dia 08 de abril de 2020, os serviços de transporte rodoviário intermunicipal de passageiros, com entradas e saídas da Ilha de São Luís, seja por intermédio do Estreito dos Mosquitos ou do serviço de ferry boat.

DECRETO Nº 35.784, DE 03 DE MAIO DE 2020

Estabelece as medidas preventivas e restritivas a serem aplicadas na Ilha do Maranhão (São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa), em virtude da Covid-19 e à vista de decisão judicial proferida pela Vara de Interesses Difusos e Coletivos da Comarca da Ilha de São Luís, nos autos de Ação Civil Pública.

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